A tendência nas redes sociais de que 'garotas bonitas' têm problemas de estômago tem sido uma forma das mulheres desmistificarem a síndrome do intestino irritável (SII). Ao compartilhar conteúdos sobre inchaço, gases, diarreia e constipação, as usuárias normalizam a discussão sobre alguns dos sintomas desagradáveis da condição. Mas por que a SII afeta mais mulheres do que homens? Estudos demonstram que mulheres são duas vezes mais propensas a ter essa condição, e os sintomas são mais comuns entre aquelas com idade entre 18 e 39 anos. As razões são complexas, mas os hormônios sexuais parecem desempenhar um papel importante. Veja o que sabemos. O que é a síndrome do intestino irritável? A SII é mais do que apenas dor de estômago – é uma desordem complexa que afeta as mensagens enviadas pela rede de nervos conhecida como eixo intestino-cérebro. A SII é considerada uma síndrome porque é caracterizada por um conjunto de sintomas, em vez de uma anomalia estrutural no intestino ou uma doença específica. Pessoas com essa condição experimentam movimentos intestinais imprevisíveis e desconfortáveis, como diarreia e constipação. Outros sintomas podem incluir dor pélvica, dores de cabeça e fadiga, afetando significativamente a qualidade de vida. Há também uma sobreposição significativa entre SII, depressão e ansiedade. A razão definitiva pela qual as pessoas desenvolvem SII permanece obscura. Mas sabemos que a comunicação entre o cérebro
e o intestino é interrompida. Tanto em homens quanto em mulheres, fatores cotidianos – incluindo estresse, exercícios, dieta, socialização e padrões de pensamento, como a ansiedade que alguém pode desenvolver sobre os sintomas – podem acelerar ou retardar as mensagens enviadas via eixo intestino-cérebro. O resultado é uma reatividade aumentada: o intestino se torna muito sensível a alimentos, estresse e ansiedade, levando a movimentos intestinais imprevisíveis. O papel dos hormônios Diferenças nos sintomas da SII em homens e mulheres – e quão graves eles são – podem ser devidas a diferenças nos hormônios. Os homens têm mais testosterona do que as mulheres, e esse hormônio é considerado protetor contra o desenvolvimento de SII. Mas, para as mulheres, as flutuações de estrogênio e progesterona – que elas têm em maior quantidade – podem piorar os sintomas. Esses hormônios influenciam a velocidade com que os alimentos se movem pelo intestino, acelerando ou retardando o número de vezes que o intestino se contrai, levando à dor e a outros sintomas, como constipação e diarreia. As mulheres são mais propensas a ter sintomas piores durante seus anos reprodutivos. Os sintomas também são frequentemente piores durante o período menstrual das mulheres, quando o estrogênio e a progesterona diminuem. Há também evidências emergentes sobre a sobreposição entre SII e condições como endometriose e síndrome dos ovários policísticos. Estudos recentes sugerem que pessoas com endometriose têm três vezes mais chances de ter SII, enquanto aquelas com síndrome dos ovários policísticos têm duas vezes mais chances. Essas condições parecem estar conectadas por flutuações hormonais e dor, embora não saibamos o que causa o quê. Fatores como inflamação leve de um sistema imunológico hiperativo, um revestimento intestinal fraco, bactérias intestinais desequilibradas e nervos sensíveis no intestino podem explicar por que essas condições acontecem juntas. As mulheres também são mais propensas a buscar apoio para a SII do que os homens, o que pode explicar por que temos melhor relato sobre seu diagnóstico e a sobreposição de outras condições que afetam as mulheres. Gerenciando a SII Não há cura para a SII. Mas a síndrome pode ser gerenciada com mudanças no estilo de vida e medicamentos. Evidências sugerem que reduzir os irritantes intestinais em sua dieta pode reduzir o desconforto. Estes incluem cafeína, alimentos picantes, álcool, refrigerantes e alimentos com alto teor de gordura. Para algumas pessoas com sintomas contínuos, um nutricionista pode prescrever a restrição e, em seguida, a reintrodução de certos grupos de alimentos conhecidos como carboidratos fermentáveis, ou FODMAPs. Os FODMAPs são encontrados em alimentos comuns, como produtos lácteos (lactose), grãos e cereais (frutanos) e certas frutas, como maçãs, melancia e frutas de caroço (polióis). O objetivo dessa dieta é primeiro aliviar os sintomas e, em seguida, identificar sistematicamente os irritantes, para que, se forem reintroduzidos, seja em um nível que o intestino possa tolerar. Para algumas pessoas, a terapia cognitivo-comportamental também ajuda. Essa terapia de conversação – que se concentra em reformular o pensamento e o comportamento inúteis – é usada para colocar as mensagens entre o eixo intestino-cérebro de volta nos trilhos. Por exemplo, reduzindo o estresse emocional (a resposta de 'lutar ou fugir'), melhorando a forma como seu cérebro interpreta a dor e abordando pensamentos negativos sobre os sintomas, como vergonha e ansiedade. Outros podem se beneficiar da hipnoterapia, que ajuda a reduzir a sensibilidade intestinal e promove o relaxamento profundo. Isso ensina o corpo a responder com mais calma ao estresse, o que ajuda a regular o sistema de mensagens intestino-cérebro. Os médicos também podem recomendar medicamentos que atuam nos receptores do intestino e regulam a velocidade da digestão, o que pode reduzir a diarreia e a constipação. Caso contrário, antidepressivos em baixa dose (prescritos em uma dose muito menor do que a que seria usada para tratar a depressão clínica) podem ajudar a reduzir a sensibilidade à dor no intestino. Então, as mídias sociais podem ajudar? Pessoas que vivem com SII frequentemente sentem que sua condição não é levada a sério. Pesquisas mostram que elas enfrentam atitudes desdenhosas – inclusive de médicos – que sugerem que os sintomas estão apenas em suas mentes, e são mais propensas a sentir vergonha de sua condição. Para algumas mulheres, compartilhar experiências online pode ajudá-las a se livrar da vergonha e descobrir mais sobre a SII. Mas as comunidades de mídia social e os influenciadores que tentam vender produtos também podem incentivar as mulheres a experimentar estratégias caras que não têm evidências para apoiá-las. Dada a complexidade da SII, o atendimento individualizado e personalizado é fundamental. Seus sintomas não são apenas uma 'vibe'. Se você estiver preocupada, deve conversar com um profissional de saúde treinado, como um clínico geral, psicólogo ou nutricionista, que pode ajudá-la a encontrar o tratamento certo para você.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Theconversation
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