Belém, no calor da decisão: uma cidade ribeirinha que cobra o mundo. O ar em Belém está pesado com umidade e expectativa. Barcos navegam pelos rios que alimentam a Amazônia, bancas de mercado derramam manga e mandioca em calçadas rachadas, e um tambor distante - um som que é protesto e oração - ecoa pelas multidões reunidas do lado de fora dos pavilhões de vidro e aço onde diplomatas discutem o destino do planeta. Lá dentro, as negociações da COP30 se movem em um ritmo febril e frágil. Do lado de fora, líderes indígenas, estudantes e ativistas cantam e protestam, exigindo que o mundo finalmente combine palavras com ação. É o tipo de cena que faz você sentir o que está em jogo: não números abstratos, mas a essência de uma região que o aquecimento global ameaça de maneiras muito concretas.
De acordo com a lei, é um dever legal de Mary Robinson insistir que o clima é uma obrigação legal. Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e membro dos Elders, está em Belém desde o fim de semana passado. Ela fala com a cadência de alguém que passou décadas lendo tratados, argumentando em tribunais e cobrando responsabilidades dos líderes. "Isso não é apenas teatro político", ela me disse em uma entrevista no corredor, parando para observar um quadro de negociadores reunidos em torno de um quadro branco. "O Tribunal Internacional de Justiça deixou explícito: as nações têm obrigações legais sob o Acordo de Paris e sob o direito internacional de se
alinhar com o limite de 1,5°C. Isso muda os termos deste debate. Não é mais opcional." Robinson aponta para uma demanda concreta que impulsiona o momento aqui: cerca de 85 países - de pequenos estados insulares à Irlanda - aderiram ao que ela chama de Aliança de Petróleo e Gás, pressionando por um roteiro claro para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis. "As pessoas imaginam a diplomacia como lenta e estável", disse ela. "Mas há um impulso imparável em direção às energias renováveis e longe da dependência de combustíveis fósseis. A questão é se teremos a coragem política de escrever isso no acordo."
Lei, dinheiro e a contabilidade moral. O que torna a posição de Robinson marcante é a forma como ela enquadra a ação climática como uma questão de obrigação legal, em vez de mera aspiração. "Você deve, por lei, se alinhar a 1,5°C. Você deve, por lei, começar a reduzir as emissões. Você deve, por lei, parar de subsidiar os combustíveis fósseis que nos prejudicam", disse ela, citando os quase US$ 2 trilhões por ano em subsídios globais a combustíveis fósseis que formuladores de políticas e economistas criticam há muito tempo como incentivos perversos. "Quando você coloca linguagem legal sobre a mesa, a sala muda", acrescentou. "As pessoas começam a pensar em responsabilidades, em direitos humanos, nas futuras reivindicações de jovens e comunidades na linha de frente."
Negociações se apertando - e se desfazendo - nas margens. O ministro do Clima da Irlanda, Darragh O'Brien, descreveu a cena dentro das salas de negociação como "intensa". Sua equipe tem trabalhado no financiamento da adaptação, e ele diz que a Irlanda aumentou seu compromisso de adaptação para 11,6 milhões de euros - um número que ele enfatizou como maior do que vários pares. "Nós intensificamos", disse ele. "Mas o desafio agora é coletivo." O financiamento é precisamente onde as fissuras são mais profundas. Delegações de nações em desenvolvimento insistem que qualquer acordo climático credível deve incluir apoio substancial e previsível para adaptação: dinheiro para fortalecer as costas, mudar a agricultura, construir sistemas de alerta precoce e ajudar as comunidades a se mudar quando necessário. Nações mais ricas, sobrecarregadas por pressões recessivas e dívidas crescentes, têm sido relutantes em prometer grandes novas somas. "Dizemos que o dinheiro tem que estar lá", disse Ana Lucía Ñamandu, uma líder indígena da comunidade Xipaya, descansando após uma longa marcha pelas avenidas de Belém. "Em nossas aldeias, os rios sobem mais cedo, os peixes desaparecem e as mulheres são as que reúnem o que resta. Não é caridade. É justiça."
O caminho para um roteiro. No cerne do debate está a linguagem sobre um "roteiro" para eliminar gradualmente o petróleo e o gás. Para alguns, a palavra é simbólica - um sinal de que a diplomacia está finalmente nomeando o problema. Para muitos estados produtores de petróleo, é existencial. "Se você o chama de roteiro ou outro termo, a essência é a mesma: precisamos de um plano", disse o comissário de clima da UE, Wopke Hoekstra, em uma coletiva de imprensa. "A redação é importante, mas o compromisso é mais importante." A ministra da Transição Ecológica da França, Monique Barbut, foi menos otimista: "Não, não haverá uma decisão da COP hoje", disse ela aos repórteres, alertando que os países ainda estavam muito distantes. No entanto, ela admitiu que o movimento era visível - um tênue arco de compromisso se formando na sala. A chegada tardia de Lula e o peso de sediar. A chegada do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em Belém pareceu mais do que uma solenidade cerimonial. Ele apostou capital político nesta COP, prometendo uma "COP da verdade" e instando os negociadores a chegar a um acordo o mais rápido possível. "A Amazônia não é um pano de fundo", disse-me um organizador da sociedade civil brasileira enquanto observávamos os delegados se apressarem. "É o coração pulsante do porquê esta negociação deve ter sucesso. Há teatro na presença de Lula, sim, mas também pressão. Ele sabe o quanto está em jogo."
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, tem instado a conversas 24 horas por dia para preencher as lacunas entre as nações ricas, os países em desenvolvimento e os estados ricos em petróleo. O relógio é implacável: a COP30 estava programada para terminar na sexta-feira, mas como qualquer pessoa que tenha coberto as cúpulas da ONU sabe, os prazos são frequentemente porosos. Gênero, justiça e os sabotadores invisíveis. Outro fio tecido nas negociações é o Plano de Ação de Gênero - uma estrutura da ONU projetada para garantir que as políticas climáticas levem em conta os impactos de gênero. Robinson acusou algumas partes de "sabotar" o plano, alertando que, sem uma integração significativa de gênero, a resposta será mais fraca e menos justa. "Mulheres e crianças suportam encargos desproporcionais de desastres climáticos", disse ela. "Se ignorarmos o gênero nas soluções climáticas, perderemos o elemento humano que faz essas soluções funcionarem." Principais demandas em discussão: um roteiro para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis; aumento do financiamento para adaptação; integração significativa de gênero na política climática. Atores do momento: ~85 países na Aliança de Petróleo e Gás; a UE e os estados insulares pressionando por uma linguagem mais forte. Pontos de discórdia: implicações comerciais das medidas climáticas, compromissos de financiamento e como formular a eliminação gradual de combustíveis fósseis.
Por que isso importa - e o que isso exige de todos nós. Estamos assistindo a uma conversa global sobre quem paga pelas emissões de ontem e quem paga pela resiliência de amanhã. O debate é legal e moral, tanto quanto financeiro e técnico. Se os atuais compromissos nacionais não forem reforçados, o mundo poderá estar caminhando para um aumento de 2,3 a 2,5°C - uma faixa que os climatologistas alertam que traria catástrofes muito além do tipo de ajustes lentos que as sociedades podem absorver. Então, o que deve preocupá-lo, sentado a milhares de quilômetros de Belém? Considere isto: comunidades costeiras no Pacífico já planejam a realocação permanente. Os agricultores no Sahel devem mudar as culturas no meio da estação. A perda de gelo ártico está acelerando os ciclos de feedback que nenhuma negociação pode parar diretamente assim que são postos em movimento. Estes não são problemas distantes; eles estão interligados com nossas cadeias de suprimentos, preços de alimentos e padrões de migração. "Esta conferência será julgada não pelos discursos, mas por produzir um plano credível para sair dos combustíveis fósseis e financiar adequadamente a adaptação", disse a Dra. Maya Patel, uma economista ambiental que estuda financiamento climático. "Advogados como Mary Robinson estão certos em enfatizar o ângulo legal - isso fortalece a responsabilidade. Mas dinheiro, transferência de tecnologia e vontade política são as alavancas que devem se mover em conjunto." A lição de Belém. Os negociadores se reunirão durante a noite. Os bateristas indígenas continuarão a bater ritmo no denso ar amazônico. Os líderes flertarão com o compromisso e se refugiarão na segurança das velhas posições. No entanto, a aritmética moral é mais simples do que a coreografia diplomática: as comunidades que já sofrem exigem ajuda, os jovens querem um futuro habitável e os cientistas alertam que o tempo é curto. O mundo escolherá um roteiro com dentes - ou um compromisso que jogue as partes mais difíceis para o futuro? Essa é a pergunta que Belém está fazendo em nome da Amazônia, das ilhas, dos agricultores e dos moradores das cidades cujos verões estão se tornando mais longos e severos. Ao ler isto, convido você a fazer uma pausa e imaginar o rio que corta Belém. Imagine os cânticos dos manifestantes, os rostos dos negociadores, o peso de um documento ainda não assinado. Que papel seu país, sua comunidade ou você desempenhará para garantir que o texto final reflita urgência, justiça e equidade? A resposta, afinal, não está apenas nos corredores de Belém - está nas escolhas que fazemos todos os dias, nas urnas, no banco e na mesa de jantar.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Jowhar
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