A prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL), decretada no último sábado (22), provocou uma reação imediata da oposição no Congresso. O grupo busca uma resposta rápida e coordenada ao que considera o auge da perseguição política e jurídica contra o ex-presidente. Além de manifestações públicas e críticas à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares pressionam a liderança da Câmara para incluir na pauta desta semana o projeto de anistia — agora reformulado como proposta de redução de penas — como uma forma de reverter a medida. A mobilização ganhou força na segunda-feira (24), quando as bancadas do PL no Congresso se reuniram com o presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, em Brasília. Estavam presentes 54 deputados e senadores do partido, além da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e dois filhos do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O encontro serviu para definir a estratégia política após a prisão de Bolsonaro e recolocar no centro do debate o projeto de anistia aos condenados do 8 de janeiro, impulsionado pela situação do ex-presidente, agravada por suas condições de saúde. Ficou decidido que a votação do projeto seria exigida nesta semana, buscando fazê-lo retornar à forma original, de anistia ampla e irrestrita, por meio de emenda. Uma primeira ação foi o envio de correspondência do PL a embaixadas em Brasília, denunciando
perseguição política e religiosa no contexto da prisão de Bolsonaro. Flávio Bolsonaro ressaltou que a decisão da prisão veio antes da notícia de violação da tornozeleira de Bolsonaro. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou que a oposição “não vai votar nada”, incluindo o Orçamento de 2026, até que o texto original da anistia seja pautado. Segundo ele, ajustes de penas são insuficientes, e a expectativa do bloco opositor é forçar a votação da versão mais abrangente do projeto o quanto antes. À CNN Brasil, Sóstenes afirmou que Motta tem um acordo com o PL para pautar a anistia desde sua eleição para a presidência da Câmara, o que ainda não ocorreu, apesar da urgência aprovada. Por enquanto, não há indicação de repetir a ocupação física dos plenários, como em agosto. Mesmo assim, o risco recai sobre a votação do Orçamento da União de 2026, peça central para as negociações políticas em ano eleitoral. A obstrução esbarra na urgência da oposição em aprovar seus projetos. Para Marcus Deois, diretor da consultoria política Ética, a estratégia de obstrução total perde força diante do interesse eleitoral da própria oposição em pautas específicas, como segurança pública e vetos ao Licenciamento Ambiental. A reunião do PL foi nessa direção, descartando a obstrução e apostando no acordo de líderes pela votação. Ele destaca que será preciso observar como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pretende reagir após a indicação de Jorge Messias para o STF. Alcolumbre queria o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e ficou incomodado com a escolha de Lula. Deois avalia que a negociação em torno do projeto de anistia para os condenados do 8 de janeiro tende a ganhar relevância. “É muito cedo para dizer se haverá ou não votação da anistia ou dosimetria. Mas uma coisa eu acredito: se a oposição pedir, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pauta”, afirma. Nos bastidores, dirigentes do PL tratam a prisão como “fato novo”, capaz de justificar a votação. O deputado Maurício Marcon (Podemos-RS), em processo de migração para o PL, afirmou que a hora é de a Câmara enfrentar a proposta de redução de penas relatada por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), como forma de garantir a prisão domiciliar a Bolsonaro. Essa tendência já vinha sendo percebida desde a semana passada. Paulinho argumenta que a prisão pode ajudar a contornar a resistência dos deputados mais alinhados a Bolsonaro, que rejeitavam qualquer alternativa que não a anistia total. Para ele, com o novo cenário, “o tema volta à pauta”, e há condições de votação ainda nesta semana, desde que haja acordo com líderes e com Hugo Motta. As articulações para reagir à prisão de Bolsonaro começaram no sábado (22). Para o cientista político e consultor eleitoral Paulo Kramer, a oposição não tem outra alternativa melhor senão manter a pressão pela anistia ampla, geral e irrestrita, evitando enfraquecer suas posições. “O mais prudente é resistir à tentação de aceitar de imediato as propostas de dosimetria, como ocorreu na aprovação da chamada PEC da Blindagem, que acabou não resultando na urgência da anistia”, disse. As articulações começaram no próprio sábado (22). Deputados como Hélio Lopes (PL-RJ) e Bia Kicis (PL-DF) foram à sede da Polícia Federal (PF) em Brasília, onde Bolsonaro está em prisão preventiva, para protestar, e depois participaram de uma reunião de emergência numa cafeteria próxima ao condomínio onde Bolsonaro cumpria prisão domiciliar. Estiveram presentes o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), além dos senadores Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição, e Izalci Lucas (PL-DF). À noite, Flávio Bolsonaro, que convocou uma vigília de oração em defesa do pai, reforçou que o caminho imediato é pressionar pela anistia no Congresso, alertando que “isso não vai parar com Bolsonaro”. No domingo (23), um almoço na casa do líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), reuniu novamente aliados para alinhar a estratégia. Em frente à PF, manifestações seguem sendo organizadas por parlamentares e militantes. No plano externo, ainda não foi deflagrada uma nova ação formal desde a prisão. Mas, nos bastidores, deputados da oposição citam a informação de que Alexandre Ramagem (PL-RJ), atualmente nos Estados Unidos, prepara um relatório para denunciar Alexandre de Moraes na ONU, na Organização dos Estados Americanos (OEA) e no Tribunal de Haia — peça que integraria uma ofensiva política mais ampla contra o ministro. Ramagem teve a prisão decretada por Moraes e é considerado foragido. Juristas consultados por aliados de Bolsonaro sustentam que recorrer a organismos internacionais é permitido e não configura crime, argumento explorado pela defesa do ex-presidente para legitimar a internacionalização do caso. A repercussão internacional ganhou mais peso após declarações de autoridades americanas. Perguntado sobre a prisão, o presidente Donald Trump, aliado de Bolsonaro, afirmou que “não sabia exatamente o que tinha acontecido”, mas classificou a situação como “muito ruim”. Já o vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, foi mais enfático: chamou a prisão de “provocativa e desnecessária”, disse que Washington está “profundamente preocupada” com “um novo ataque ao Estado de direito e à estabilidade política no Brasil” e responsabilizou diretamente o ministro Alexandre de Moraes. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), autoexilado nos EUA, chamou a prisão de seu pai como uma provocação de Moraes a Trump e prometeu sugerir à Casa Branca estender os efeitos da Lei Magnitsky, nos quais já estão listados o juiz e sua esposa, para os filhos do casal.
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