A cúpula climática da ONU deste ano (COP30) em Belém, Brasil, começa com um dilema conhecido: como podemos enfrentar um problema de longo prazo e altamente político que envolve todos os países do mundo? Governos, especialistas e ativistas tentam lidar com as mudanças climáticas desde o início dos anos 1990, mas as emissões globais de gases de efeito estufa permanecem em níveis recordes. Embora o crescimento das emissões possa estar diminuindo, até mesmo as estratégias de ação pró-clima parecem seguir direções diferentes – ou até mesmo antagônicas. Um novo livro apresenta esses antagonismos como uma escolha entre “estabilidade” e “politização” na governança climática.
De acordo com os que favorecem a estabilidade, os governos devem estabelecer políticas consistentes e de longo prazo que nos coloquem em um caminho previsível e gradual para emissões muito mais baixas. A criação de políticas que nos comprometam com um determinado caminho deve ajudar as empresas a investir de maneiras que atendam a essa trajetória previsível. No entanto, se for enfraquecido e tornado inadequado por lobistas pró-combustíveis fósseis e governos, o caminho estável ainda pode levar à catástrofe climática. Este é o curso que estamos seguindo atualmente. Por outro lado, para aqueles que buscam a politização da ação climática, é melhor incentivar o conflito político e os protestos que criam constantemente pressão por mudanças políticas mais significativas
e rápidas. Tais estratégias podem interromper o domínio dos lobistas pró-combustíveis fósseis e expor as estratégias usadas por algumas figuras políticas para desmantelar as metas climáticas já alcançadas. Mas, ao incentivar o aumento da politização dessas questões, podemos abrir a porta para populistas anti-net zero e outros que buscam desacelerar ou interromper a ação política climática.
Ambas as escolas de pensamento – estabilidade ou politização – têm seus apoiadores e detratores. Ambas têm benefícios e desvantagens. No entanto, raramente foram discutidas em conversa, até agora. Na COP30, essas estratégias distintas estarão em destaque. O dilema da estabilidade ou politização ajuda a explicar por que a construção de uma estratégia que funciona ao longo de anos e décadas cria questões difíceis, não apenas sobre a elaboração de políticas, mas também sobre as abordagens para diferentes organizações e estados. Esses desafios mudam de acordo com o nível de governo, país e setor econômico em jogo. Por exemplo, é mais fácil pressionar por politização e conflito quando você não é membro de uma comunidade marginalizada ou racializada que já enfrenta inúmeros obstáculos à participação política. Por outro lado, é difícil evitar ter que se envolver em politização e conflito em áreas onde existem estruturas de poder históricas profundas que precisam ser desafiadas.
O livro traça essas dinâmicas em uma variedade de casos, desde a indústria de combustíveis fósseis nos EUA até as estratégias usadas pelo setor de seguros e bancos centrais; da política industrial da China aos movimentos sociais de justiça ambiental na Alemanha; e de argumentos sobre a extração de petróleo norueguês à geração de energia renovável brasileira e sul-africana. A especialista em relações internacionais Jennifer Allan explica que as cúpulas climáticas anteriores da ONU foram moldadas por esse choque de estratégias, desde o protocolo de Kyoto, o acordo de 1997 que estabeleceu metas de emissões para países economicamente desenvolvidos. Enquanto a UE era anteriormente a força motriz por trás da despolitização das negociações, mais recentemente, países como Índia e China também estão buscando essas estratégias. Como Allan adverte, isso pode atrasar a implementação das políticas climáticas, pois mais estados debatem a melhor forma de progredir.
Em Belém, na COP30, dinâmicas semelhantes estarão em jogo. Os esforços estão em andamento para implementar a agenda e o processo do acordo climático de Paris de 2015. As principais questões permanecem sobre como garantir a comunicação regular das emissões, juntamente com questões sobre quem paga pelas consequências das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, haverá um impulso contínuo de politização por certos países e movimentos sociais. Estados como os EUA, Arábia Saudita e seus aliados tentarão politizar as negociações para impedir o progresso. Enquanto isso, os movimentos sociais protestarão para manter a pressão sobre os negociadores e promover a justiça climática para aqueles que são mais afetados pelas mudanças climáticas.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Theconversation
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