Um estudo da Universidade do Texas em Austin, publicado no The American Journal of Clinical Nutrition, sugere que a troca da carne bovina por hambúrgueres à base de plantas pode modificar, em poucos dias, a composição de gorduras importantes no leite materno, especialmente aquelas que são cruciais para o desenvolvimento cerebral dos bebês. De acordo com a pesquisa, mães que consumiram substitutos de carne vegetal por seis dias apresentaram uma diminuição de 15% no ácido araquidônico, um ácido graxo essencial para o desenvolvimento neurológico infantil. Ao mesmo tempo, os níveis de ácido láurico, uma gordura saturada derivada do óleo de coco presente nesses produtos, mais que dobraram.
A pesquisa, rigorosa e controlada, envolveu 17 mulheres lactantes em um ensaio duplo-cego, onde nem as mães nem os pesquisadores sabiam qual dieta estava sendo consumida em cada etapa do estudo. As participantes seguiram, durante 25 dias, dietas cuidadosamente planejadas e preparadas por uma cozinha metabólica, que pesava cada ingrediente com precisão. Cada participante consumia 340 gramas diários de carne moída bovina ou de um substituto vegetal disponível no mercado. As demais refeições eram idênticas, garantindo que a única variável relevante fosse a fonte de proteína e gordura principal.
Embora ambas as dietas fornecessem 39 gramas de gordura por dia, os tipos de gordura diferiam significativamente. A carne bovina oferecia ácidos graxos de cadeia longa, incluindo
o ácido araquidônico, enquanto os substitutos vegetais eram ricos em gorduras saturadas de cadeia curta provenientes do óleo de coco. As mães coletaram amostras de leite três vezes ao dia, e as análises principais consideraram o leite obtido na noite do sexto dia de cada dieta. A adesão ao protocolo ultrapassou 95%.
As análises mostraram que, apesar das quantidades de gordura total serem semelhantes nos rótulos nutricionais, a equivalência termina aí. O leite produzido durante a dieta vegetal apresentou: aumento do ácido láurico, que passou de 4,47% para 9,32% do total de ácidos graxos; redução dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, essenciais para o desenvolvimento neurológico; queda do ácido araquidônico, que passou de 0,41% para 0,35% — uma mudança surpreendente, já que esse ácido graxo costuma ser resistente a variações rápidas na dieta. Outros ácidos graxos também sofreram alterações, como o ácido palmítico (redução de 21%) e o ácido esteárico (queda de 33%). Já o total de gorduras saturadas aumentou de 34,75% para 35,75% no período com substitutos vegetais.
Estudos anteriores que aumentaram a ingestão materna de gordura saturada não haviam observado mudanças tão marcantes, mas a nova pesquisa isolou a variável principal, que é a troca da carne bovina por um ultraprocessado vegetal. Isso permite identificar impactos mais claros. Os substitutos de carne à base de plantas são classificados como alimentos ultraprocessados pelo sistema de NOVA, que é muito usado por pesquisadores. Isso porque, embora busquem imitar o perfil nutricional da carne bovina, eles utilizam óleos refinados, extratos vegetais e ingredientes altamente processados, diferentemente de grãos, leguminosas ou vegetais integrais. Nos Estados Unidos, esses produtos representam parte dos 57% das calorias diárias provenientes de alimentos ultraprocessados.
Apesar das mudanças rápidas na composição do leite, o estudo não acompanhou os bebês ao longo do tempo, e ainda não se sabe se essas variações têm impacto direto na saúde ou no desenvolvimento infantil. Os autores ressaltam que nenhum estudo até o momento avaliou os efeitos de substitutos vegetais de carne no desenvolvimento de bebês amamentados. Os resultados, portanto, não recomendam nem desaconselham o consumo desses alimentos por mães lactantes. Em vez disso, mostram que alimentos com rótulos nutricionais semelhantes podem oferecer nutrição distinta quando metabolizados e transferidos pelo leite materno.
Durante os primeiros meses de vida, até metade da energia consumida pelos bebês vem da gordura presente no leite materno. Por isso, a fonte dessas gorduras pode ser relevante, especialmente no que diz respeito aos ácidos graxos de cadeia longa, fundamentais para o crescimento e para o desenvolvimento cerebral. A pesquisa reforça que alimentos de origem vegetal integral diferem bastante de substitutos vegetais de carne. Os ultraprocessados têm perfis lipídicos específicos. Dietas com carne bovina também oferecem componentes nutricionais que não estão presentes em alternativas vegetais. Para mães que amamentam, o estudo sugere que vale observar não apenas quanto se consome de cada nutriente, mas de onde esses nutrientes vêm.
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