A Queda do Céu: O Filme Que Vai Te Fazer Repensar o Mundo e Chamar a Atenção para o Povo Yanomami

Documentário impactante retrata a cultura Yanomami, a falência civilizatória e convida à imersão sensorial e política, com imagens e sons que desafiam o cinema convencional.

O filme "A Queda do Céu" busca uma nova forma de retratar o mundo Yanomami, abordando a falência da sociedade contemporânea por meio de som e imagem. O filme é uma adaptação da obra "A Queda do Céu – Palavras de Um Xamã -Yanomami", escrita por Davi Kopenawa e Bruce Albert. A narrativa alerta sobre a importância de ouvir os lamentos da floresta, sob pena de sofrer as consequências de sua destruição. Dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, o filme tem Davi Kopenawa como figura central, acompanhado por seu povo e pelos espíritos da floresta. O livro original, de 2015, é descrito como um relato único sobre a riqueza e as lutas dos povos da floresta. O filme tem sido reconhecido em diversos festivais internacionais, desde sua estreia na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, em maio de 2024. Antes de chegar aos cinemas brasileiros, o longa-metragem foi exibido em pré-estreia em Belém, durante a COP30, organizada pelo Observatório do Clima, com a presença de Kopenawa. Filmes realizados com e por indígenas têm se tornado ferramentas de luta e mobilização, inserindo-se em um imaginário audiovisual criado pelos próprios povos originários. Kopenawa já havia colaborado como roteirista em "A Última Floresta" (2021). O cinema feito por realizadores como Graciela Guarani, Olinda Tupinambá, Isael Maxakali, Sueli Maxakali e Alberto Álvares tem impactado a forma como não indígenas filmam as cosmogonias de diferentes povos. Álvares, em

certa ocasião, destacou a mudança da caça à busca pela própria história. O projeto Vídeo nas Aldeias, criado na década de 1980, levou equipamentos de filmagem e edição às aldeias, permitindo a construção de novas narrativas sobre os povos originários. O cinema indígena evoluiu de um registro interno, sem os vícios da etnografia, para uma ferramenta de luta e sobrevivência. Rocha, ao refletir sobre o cinema indígena, ressalta a multiplicidade de propostas em um país com mais de 350 línguas e povos indígenas. Atualmente, Rocha e Gabriela estão produzindo o primeiro longa-metragem dirigido por Morzaniel Iramari, que participa da fotografia de "A Queda do Céu". Eles buscam levar o cinema a sério, sendo confrontados por um ancião que aceita ser filmado apesar do sofrimento causado ao seu povo. Gabriela afirma que o objetivo é expandir o cinema para que o mundo Yanomami possa se expressar, sem racionalizá-lo. A cosmologia Yanomami, visual e marcada pelo jogo entre ver e não ver, é explorada no filme, com o som em primeiro plano. "A Queda do Céu" oferece uma imersão, com uma temporalidade diferente do cinema convencional e imagens com dimensão onírica, aliada a uma forte crítica política, abordando questões como garimpo ilegal e destruição. Rocha enfatiza que o sensorial e o poético também são políticos. Os Yanomami se dirigem aos "homens da mercadoria", apontando a falência da civilização. O texto foi publicado na edição nº 1389 de CartaCapital, em 26 de novembro de 2025, sob o título 'Ver e ouvir a floresta'.

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