A resistência masculina ao exame de toque retal continua sendo um grande obstáculo no combate ao câncer de próstata no Brasil. Apesar de ser um procedimento rápido, seguro e indolor, muitos homens ainda associam o exame a sentimentos de vergonha, constrangimento ou a uma suposta ameaça à masculinidade. Segundo especialistas, essa visão, baseada em tabus culturais, tem um impacto direto na saúde do homem, e atrasos no diagnóstico podem custar anos de vida. O urologista Rodrigo Arbex explica que o desconforto físico é mínimo e o maior desafio reside no preconceito que precede o exame. Para muitos, o constrangimento imaginado é maior do que a experiência real, e essa barreira emocional afasta milhares de homens do consultório.
O câncer de próstata é o mais comum entre os homens, exceto o câncer de pele, conforme dados do Ministério da Saúde. Na fase inicial, o câncer de próstata pode não apresentar sintomas. Os sinais mais comuns incluem dificuldades ao urinar, como demora para começar e terminar, presença de sangue na urina, diminuição do jato e necessidade de urinar com mais frequência, tanto durante o dia quanto à noite. As causas não são totalmente conhecidas, mas fatores como idade, histórico familiar, obesidade, alimentação, tabagismo e exposição a produtos químicos podem aumentar o risco.
A confirmação da doença ocorre após a biópsia, indicada ao detectar alterações no exame de sangue (PSA) ou no toque retal, que são prescritos
a partir da suspeita médica. No consultório, Arbex observa que a maioria dos pacientes sente apenas uma leve pressão durante o procedimento, nada comparável ao temor criado. O exame leva apenas 10 segundos e é realizado com cuidado para reduzir qualquer desconforto. Os profissionais usam luvas, lubrificante e movimentos delicados para palpar a próstata e identificar alterações que exames de sangue, como o antígeno prostático específico (PSA), podem não detectar.
Apesar dos avanços em diagnóstico laboratorial, o toque retal continua indispensável, pois permite detectar nódulos, endurecimentos e outras alterações físicas que passam despercebidas pelo PSA. Arbex reforça que até 20% dos tumores podem ser identificados apenas pelo toque, mesmo com o PSA normal.
Outro mito comum é a ideia de que o exame do toque deve ser feito apenas após os 50 anos. A recomendação é que o urologista avalie, caso a caso, o melhor método e momento de rastreamento, considerando idade, histórico familiar, raça e fatores de risco. Homens negros, obesos ou com histórico familiar de câncer de próstata devem começar aos 45 anos, devido à maior probabilidade de desenvolver tumores agressivos, explica o urologista Rodrigo Braz. Pacientes sem fatores de risco podem esperar para iniciar o rastreamento após os 50 anos, com PSA, exame físico e ultrassom. A regularidade também é importante: a avaliação anual é recomendada, pois estudos mostram queda na mortalidade quando o acompanhamento é contínuo.
O exame de toque retal é importante porque detecta alterações que o PSA pode não identificar, é rápido e indolor, durando menos de um minuto, permite o diagnóstico precoce, aumentando as chances de cura para mais de 90% nos casos iniciais, complementa exames de sangue e imagem, oferecendo uma avaliação mais completa da próstata, e reduz a mortalidade quando feito regularmente dentro do rastreamento anual.
Arbex ressalta que há poucas contraindicações reais ao exame. Em casos de prostatite bacteriana aguda, o toque não é indicado, pois pode agravar a inflamação. Fora isso, o procedimento é seguro e deve ser realizado apenas com consentimento do paciente. Uma conversa franca com o urologista ajuda a reduzir a ansiedade e desmistificar crenças, inclusive a de que o exame afetaria a masculinidade.
Embora o câncer de próstata muitas vezes não cause sintomas no início, alguns sinais merecem atenção, especialmente alterações urinárias. É importante lembrar que a maioria desses sintomas tem origem benigna, como na hiperplasia prostática, mas apenas a avaliação médica diferencia um quadro do outro e evita diagnósticos tardios.
Para os médicos, a maturidade emocional de enfrentar o toque reflete mais responsabilidade com a saúde do que a imagem de "força" culturalmente construída. No fim das contas, o tabu prevalece sobre o incômodo. Enquanto a sensação física dura segundos, as consequências de evitá-lo podem durar a vida toda. O câncer de próstata é o segundo mais frequente entre os homens no Brasil e causa mais de 16 mil mortes por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A mensagem é clara: negligenciar um exame tão rápido e simples por vergonha é colocar a própria vida em risco. Cuidar da saúde é um ato de coragem, e o medo do exame não pode ser maior que o medo de perder a vida, conclui Arbex.
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