Queda Histórica nas Emissões! Brasil Surpreende e Desafia Metas Climáticas

Redução expressiva de 17% nas emissões de gases no Brasil em 2024, impulsionada pela queda no desmatamento. Mas será suficiente para cumprir as metas?

Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil registrou uma diminuição nas emissões de gases de efeito estufa. Em 2024, o país lançou na atmosfera 2,15 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e), representando uma redução de 17% em comparação ao ano anterior (2,57 GtCO2). Os dados, divulgados na segunda-feira, 3 de junho, são parte do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), uma iniciativa do Observatório do Clima. A principal razão para essa queda foi a diminuição do desmatamento, historicamente a maior fonte de emissões no país, classificada como mudança de uso da terra. Em 2024, a redução na destruição da Amazônia e do Cerrado fez com que as emissões brutas caíssem de 1,3 GtCO2e para 906 GtCO2e, uma queda de 32,5%, a maior desde 1990. O resultado chega em um momento oportuno, às vésperas da Conferência do Clima da ONU em Belém. Apesar disso, o governo brasileiro autorizou a Petrobras a perfurar a bacia marítima da Foz do Amazonas em busca de petróleo, o que gerou críticas. Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, destacou o paradoxo do governo ao buscar expansão petrolífera em meio à crise climática. A expressiva queda nas emissões do Brasil em 2024 coloca o país à frente das maiores economias em termos de esforços contra o aquecimento global, mesmo ocupando o quinto lugar entre os maiores emissores, segundo o World Resources Initiative (WRI). A retomada de políticas

para frear o desmatamento nos últimos dois anos demonstra seus efeitos, mas Astrini alerta que a queda não é um aval para o Brasil se tornar um "petroestado". A agropecuária, segunda maior fonte de emissões no país, também apresentou uma leve queda de 0,7%. O setor, responsável por 29% das emissões totais, contabilizou 626 MtCO2e, comparado a 631 MtCO2e no período anterior. A principal fonte do setor é a fermentação entérica do gado, que libera metano. A redução de 0,2% no rebanho bovino e o aumento do confinamento contribuíram para a queda nas emissões. Na agricultura, que representa 31% das emissões do setor agropecuário, houve redução no uso de fertilizantes nitrogenados (3,8%) e na aplicação de calcário (3,3%). O setor de energia, que abrange a queima de combustíveis fósseis e biocombustíveis, registrou um aumento de 0,8%, passando de 420 MtCO2e em 2023 para 424 MtCO2e em 2024, devido ao aumento do consumo de fontes fósseis para gerar eletricidade. O uso de biocombustíveis atenuou o aumento. As emissões "ocultas" do petróleo exportado pelo Brasil não são contabilizadas, embora contribuam para as emissões globais. O tratamento de lixo e esgoto teve o maior aumento percentual em termos de emissões em 2024, com 3,6%, devido ao aumento no volume de resíduos sólidos. O setor de processos industriais também registrou aumento de 2,8% nas emissões. O inventário oficial de emissões do governo brasileiro considera apenas as emissões líquidas, que são o resultado das emissões totais menos a absorção de dióxido de carbono pelas florestas. Se fossem consideradas apenas as emissões líquidas, a queda em 2024 seria ainda maior, de 22%. Cientistas apontam que as mudanças climáticas podem estar interferindo na capacidade das florestas de absorver gases de efeito estufa. O SEEG também calculou as emissões provenientes de incêndios florestais não relacionados ao desmatamento, que não são incluídas no inventário oficial. Se fossem contabilizadas, as emissões líquidas associadas ao desmatamento dobrariam. Com base nos dados, o SEEG estima que o Brasil não cumprirá a meta climática estabelecida para 2025, que é limitar as emissões a 1,32 bilhão GtCO2e. David Tsai, coordenador do SEEG, afirma que, para alcançar a meta, é necessário cortar emissões em outros setores e iniciar uma transição para uma economia de baixo carbono.

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