Quando a Academia Latina da Gravação anunciou os indicados para a 26ª edição do Grammy Latino no mês passado, um nome se destacou: Liniker. A cantora e compositora brasileira recebeu sete indicações este ano, incluindo as três principais categorias que ela era elegível: Álbum do Ano por "Caju", Gravação do Ano por "Ao Teu Lado" (com Amaro Freitas e Anavitória) e Canção do Ano por "Veludo Marrom". A única categoria do "Big Four" que não a incluiu este ano foi a de Melhor Artista Revelação. Ela já havia feito história em 2022, como a primeira mulher transgênero a levar um Grammy Latino para casa, quando seu álbum de 2021, "Indigo Borboleta Anil", venceu na categoria de MPB (música popular brasileira). Em novembro, a artista de Araraquara está mais preparada do que nunca para estar no centro do palco mais prestigiado da música latina. Seu segundo álbum solo de 2024, "Caju", já ultrapassou 262 milhões de streams, e cada faixa conseguiu entrar no Top 200 do Spotify Brasil. Ela colaborou com ícones como Gilberto Gil e, em 2023, foi introduzida na Academia Brasileira de Cultura, assumindo a cadeira que antes pertencia à lenda do samba Elza Soares. Tais prêmios – que honram o valor técnico e artístico de sua performance, composição e produção – ressaltam como sua música está moldando novos sons latinos, além de representar o Brasil em escala global e expandir a inclusão em instituições historicamente exclusivas. Liniker sempre deixou claro
que quer ser conhecida primeiro como uma musicista, cuja arte é enraizada no amor, na intimidade e no desejo. E, no entanto, sua presença como uma mulher trans negra brasileira na vanguarda da música latina carrega um peso cultural inegável. Em um mundo onde o anti-negritude e a transfobia permanecem tão arraigados quanto sempre, sua ascensão sinaliza tanto excelência artística quanto uma profunda mudança cultural das histórias contadas sobre as experiências negras e trans. Ao lado de outros brasileiros de gênero não conforme, como Linn da Quebrada e Urias, bem como artistas trans como a musicista e produtora venezuelana Arca e a rapper porto-riquenha Villano Antillano, Liniker faz parte de um movimento crescente que está mudando as convenções do estrelato pop latino. A trajetória de Liniker até este momento foi marcada por ciclos de reinvenção que mantêm a verdade em seu estilo e visão de mundo como artista e pessoa. Ela surgiu em 2016 com "Remonta", um álbum gravado com sua antiga banda Liniker e os Caramelows. Uma mistura ousada de MPB (música popular brasileira), soul e funk, o disco se destacou em músicas como "Zero" e "Tua" – que se tornaram sensações virais. Seu emocionante contralto logo chegaria além das fronteiras do Brasil; a banda conseguiu um cobiçado show para a série Tiny Desk da NPR em 2018. Sua estreia solo em 2021, "Indigo Borboleta Anil", expandiu sua paleta para incluir samba, bossa nova e R&B. Faixas como "Baby 95", "Lili" e "Psiu" também mostraram sua versatilidade como compositora, que escreve sobre receber e estar apaixonada, abraçar e confiar em si mesma, o que permanece fiel à sua negritude e experiência de vida, e a vulnerabilidade de se tornar uma artista solo. Em seguida, veio "Caju", o disco de 2024 que dominou as indicações deste ano. O álbum se baseia em samba, jazz, pagode, disco, funk e reggae para fazer uma mistura distintamente afro-brasileira de música pop; "Ao Teu Lado" e "Veludo Marrom" demonstram sua capacidade de trazer uma sensação de intimidade a uma performance expansiva. Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, em um programa de entrevistas brasileiro, Liniker explica que, enquanto "Indigo" se concentrou em sua autodescoberta, "Caju" conta uma história mais narrativa, desvendando uma perseguição amorosa de 24 horas do Japão ao Brasil. A faixa-título de abertura define o tom: "Eu quero saber se você vai me perseguir no aeroporto/pedindo para eu ficar, para não voar". Alimentado pela reflexão emocional, "Caju" representa uma metáfora para a jornada de Liniker como uma artista trabalhadora que ainda é uma romântica incurável. Para muitos – especialmente o público latino trans e de gênero expansivo, incluindo eu mesma – um show de Liniker parece tanto uma confissão privada quanto uma celebração comunitária. Como uma latina trans que vive no Brasil, fiquei profundamente comovida ao testemunhar a apresentação ao vivo de Liniker (e a paixão de seus fãs) em São Paulo, onde ela estreou "Caju" com uma orquestra ao vivo para quase 8.000 pessoas – uma de três noites com ingressos esgotados no auditório Espaço Unimed da cidade. Ela também cativou o público estrangeiro em setembro no Lincoln Center de Nova York, onde se apresentou para a série Brazilian Week do local. A escritora da Rolling Stone, Carolina Abbott Galvão, a elogiou como "pronta para os holofotes" e elogiou seu domínio do palco, bem como da indústria da música pop. Ao expressar a alegria trans negra em um momento em que as pessoas transgênero enfrentam exclusão e repressão sistemáticas em todo o mundo, Liniker fornece uma janela para entender realidades latinas mais completas e diversas. Em "Lili", um corte de "Indigo Borboleta Anil", as reflexões de Liniker sobre viver sua verdade nos convocam a viver a nossa também. "Quando você cuida do seu coração/Quando você ama sua alma/Talvez você possa encontrar Lili", ela canta em inglês. "Ela não está mais se escondendo/Ela só quer viver/Viver/Sua pele está brilhando agora". O Grammy Latino de 2025 pode ser uma noite que define a carreira da artista. Mas, independentemente de quantos troféus ela levar para casa, Liniker já abriu um nicho singular para si na música latina – como uma artista única, intransigente e que define gerações.
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