A comunidade venezuelana na Flórida está dividida diante das ações dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro. A incerteza paira sobre venezuelanos-americanos como Liz Rebecca Alarcón, residente de Doral, cidade da Flórida com grande concentração de imigrantes do país sul-americano. Conversas cotidianas no supermercado se transformaram em debates sobre as possíveis ações do presidente Donald Trump contra a Venezuela. Amigos, vizinhos e comerciantes questionam-se sobre o que pode acontecer, revela Alarcón, que confessa não saber qual será o desfecho ou a estratégia em curso.
Por meses, os Estados Unidos têm intensificado a pressão sobre a Venezuela, com o aumento da presença naval no Caribe e ataques a embarcações, ações consideradas ilegais por especialistas em direito. Os últimos dias foram exaustivos, relatam Alarcón e outros venezuelanos-americanos, com a iminência de uma intervenção militar, seguida pela aparente abertura de Trump para negociações com Maduro. A comunidade venezuelana que buscou refúgio no sul da Flórida nos últimos 25 anos, após a ascensão de Hugo Chávez e Maduro, não possui uma opinião unânime sobre o que deve ser feito. As divergências, somadas ao desconforto com as políticas de imigração de Trump, têm gerado tensões entre os venezuelanos na região, enquanto defensores de uma intervenção americana tentam silenciar as críticas, vistas como minoritárias.
Esteban Hernández Ramos, de 30 anos, residente
em Fort Lauderdale, afirma que, em teoria, todos deveriam estar unidos pela liberdade da Venezuela, mas na prática, existe uma divisão. Hernández deixou a Venezuela aos 16 anos e atualmente trabalha para um veículo de mídia de direita que publica notícias pró-Trump em espanhol. Ele defende a ocupação militar americana na Venezuela por um período prolongado, não apenas para derrubar Maduro, mas também para desmantelar a liderança militar que o sustenta no poder.
Alarcón, por sua vez, nascida nos EUA e analista política democrata, prefere uma transição pacífica do poder, de Maduro para Edmundo González, diplomata que, segundo a oposição venezuelana, venceu a eleição presidencial do ano passado. No entanto, ela duvida que a pressão de Trump leve ao resultado desejado. Os laços dos venezuelanos com o sul da Flórida são antigos, mas a imigração aumentou significativamente durante os governos de Chávez e Maduro. Apoiados pelos exilados cubanos de Miami, que os viam como aliados ideológicos, os eleitores venezuelano-americanos foram cortejados por políticos republicanos, que conseguiram angariar apoio. Atualmente, discordar de Trump é visto por muitos venezuelanos-americanos, incluindo aqueles que vivenciaram intervenções militares americanas na América Latina, como uma atitude antipatriótica e desleal.
Luis Fernando Atencio, cofundador do Venezuelan-American Caucus, um grupo ativista de Miami alinhado ao Latino Victory Project, de esquerda, teme uma intervenção militar, que poderia resultar em feridos ou mortos. José Antonio Colina, ex-militar venezuelano que fugiu para Miami em 2003, afirma que a maioria dos venezuelanos nos EUA se opõe a Maduro e deseja sua saída do poder. Colina, que dirige o grupo Venezuelanos Politicamente Perseguidos no Exílio, argumenta que, como o regime está no poder pela força, deve ser removido pela força.
Outros imigrantes, incluindo Colina, não concordam com a campanha de pressão e a tentativa do governo Trump de acabar com o status legal temporário de imigrantes venezuelanos. Em Doral, a cidade parece mais silenciosa, com venezuelanos sendo deportados, saindo voluntariamente ou permanecendo em suas casas por medo. Adelys Ferro, cofundadora do Venezuelan-American Caucus, mencionou em entrevista coletiva que pelo menos 660 mil venezuelanos estão sob ameaça de deportação para a Venezuela. Colina defende que a deposição de Maduro seja prioridade em relação à deportação e que as políticas de imigração de Trump seriam aceitáveis sem Maduro no poder. Exilados que criticam Maduro têm sido difamados por outros venezuelanos que questionam Trump. Colina relata que nas redes sociais, muitos tentam silenciá-lo, o que considera irresponsável e desconsidera o sofrimento de milhares de venezuelanos.
César Miguel Rondón, jornalista venezuelano que fugiu para Miami há oito anos, também sofreu ataques online por expressar ceticismo sobre a abordagem de Trump. Ele foi rotulado como colaborador do regime, atitude que, segundo ele, não permite nuances. As redes sociais se tornaram um campo de batalha, onde ele tem que ter cuidado com suas opiniões, assim como era na Venezuela. A intransigência, especialmente entre os próprios venezuelanos, tornou-se inacreditável.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Folha
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