Escândalo no Detran: Polícia Federal Desmascara Esquema de Corrupção Envolvendo Servidores e Empresários

Megaoperação da PCDF revela fraude no Detran-DF: servidores facilitavam transferências ilegais de veículos em troca de propina. Empresários e despachantes também estão envolvidos.

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou uma operação que expôs um esquema de corrupção e fraude dentro do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF). A ação, realizada na manhã da última quinta-feira (6/11), cumpriu 45 mandados de busca e apreensão em diversas regiões do DF e no Entorno. A operação, coordenada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), envolveu 120 policiais civis e teve como alvos servidores públicos e empresários do ramo automotivo. As investigações, que duraram cerca de um ano, apontaram dois servidores do Detran como os principais articuladores do esquema. Eles emitiam Autorizações de Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV-e) sem a devida checagem da documentação exigida por lei, mediante o pagamento de R$ 150 por processo. Os levantamentos da Operação Wrong Way revelaram que, nos últimos quatro anos, centenas de transferências irregulares foram efetuadas, beneficiando pelo menos 36 empresários ligados a 15 empresas de compra e venda de veículos usados. Essas empresas agiam como despachantes informais, prometendo aos clientes a entrega dos carros “já transferidos”, sem a necessidade de comparecer ao Detran. As buscas ocorreram em 13 regiões, incluindo Cidade do Automóvel, Taguatinga, Águas Claras, Vicente Pires, São Sebastião, Riacho Fundo I e II, Santa Maria, Ceilândia, Vila Planalto, Noroeste, Pedregal (GO) e Águas Lindas (GO). O delegado-chefe da 18ª DP, Fernando Cocito, explicou

que os servidores usavam suas credenciais para fraudar o sistema, burlar regras e favorecer empresas que pagavam por esse tipo de serviço ilícito. Durante o cumprimento dos mandados, foram apreendidos documentos, computadores e celulares que passarão por perícia técnica. Em março deste ano, uma primeira fase da operação já havia identificado processos de transferência fora das dependências do Detran, o que motivou o afastamento dos servidores investigados de suas funções. As investigações também revelaram movimentações bancárias incompatíveis com a renda dos servidores. Em alguns casos, os valores movimentados superaram em 10 vezes o salário mensal dos investigados, além de indícios de lavagem de dinheiro, com tentativas de ocultar a origem ilícita dos recursos. Perícias técnicas confirmaram que senhas funcionais foram compartilhadas irregularmente com terceiros — inclusive familiares —, permitindo o acesso indevido ao sistema interno do Detran. Segundo a Polícia Civil, o esquema funcionava de forma coordenada: empresários e intermediários enviavam dados e documentos (muitas vezes falsos) aos servidores, que faziam as transferências diretamente no sistema, sem seguir as exigências legais. Em troca, recebiam pagamentos fixos por cada operação. O delegado Fernando Cocito afirmou que o aprofundamento das investigações detectou outro servidor envolvido e identificou os empresários que pagavam pela atuação ilícita. A Operação é fruto de um trabalho técnico minucioso, que envolveu o cruzamento de dados administrativos, bancários e digitais, além da coleta de depoimentos de testemunhas e suspeitos ao longo de 12 meses. Com base nas provas reunidas, a 18ª DP obteve na Justiça novos mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares, como a suspensão das funções públicas dos servidores e o bloqueio de bens para garantir o ressarcimento dos danos causados.

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