Com mais de cinco décadas de carreira, Raimundo Fagner construiu uma trajetória repleta de sucessos, colaborações memoráveis e uma forte ligação com a música popular brasileira. Cantor, compositor, instrumentista, ator e produtor musical, o artista cearense possui um repertório de canções inesquecíveis que se mantêm atemporais em sua voz. Um exemplo disso é a canção “Deslizes”, que, embora não tenha sido composta por Fagner, tornou-se um dos maiores sucessos da música popular brasileira em sua interpretação marcante. Vamos explorar a história dessa canção? A música “Deslizes” é um dos maiores sucessos da dupla de compositores Paulo Massadas e Michael Sullivan, responsáveis por inúmeros hits da música popular brasileira, como “Me dê Motivo” (1983), “Whisky a Go-Go” (1984) e “Um Dia de Domingo” (1985), além de canções infantis de grande sucesso, como “É de Chocolate” (1984), “Uni, Duni, Tê” (1985) e “Lua de Cristal” (1990). Em 1984, a dupla Sullivan e Massadas compôs “Deslizes” e enviou a Roberto Carlos para que ele gravasse, mas a música chegou às mãos do Rei com certo atraso, pois ele já estava no processo de mixagem de seu próximo disco. A dupla apresentou a canção para diversos intérpretes (eles relatam que foram mais de 40 cantores!), até que, em 1987, Raimundo Fagner convidou Michael Sullivan para produzir o próximo álbum que iria lançar, “Romance no Deserto”, e o compositor mostrou “Deslizes”
para o artista cearense. Fagner, imediatamente, identificou “Deslizes” como um hit, mas, em seguida, começou a ter ressalvas em relação à música e chegou a gravá-la, mas não queria incluí-la no disco. Até que um dia, ao chegar ao estúdio para gravar, encontrou a funcionária responsável pela faxina do estúdio varrendo o corredor enquanto cantarolava a música, que já havia ficado gravada em sua mente, apenas por ouvi-la durante as gravações. Fagner confirmou, então, o que pensava inicialmente: “Deslizes” era realmente um hit! O artista gravou a música, que acabou sendo um dos maiores sucessos de sua carreira. Sullivan conta que a letra da música, composta por Massadas, apresenta a visão de resignação de uma mulher em um relacionamento tóxico e abusivo, já que, naquela época (mais ainda do que hoje em dia, embora isso ainda ocorra com frequência), predominava o machismo e o julgamento de uma sociedade conservadora, e muitas mulheres sofriam por não conseguir deixar para trás esse tipo de relação, em que eram traídas, enganadas, usadas e silenciadas. “Não sei porque, insisto tanto em te querer Se você sempre faz de mim o que bem quer Se ao teu lado sei tão pouco de você É pelos outros que eu sei quem você é E é só assim que eu perdoo os teus deslizes E é assim o nosso jeito de viver Em outros braços tu resolves tuas crises Em outras bocas não consigo te esquecer” Já Massadas conta que, dessa vez, diferentemente do que acontecia normalmente no processo de composição da dupla, ele compôs primeiro a letra, para ter mais liberdade poética, mas já pensando na métrica, para que Sullivan conseguisse encaixar uma boa melodia. A canção é, sem dúvida, um dos maiores sucessos da carreira de Fagner, e praticamente todos os brasileiros a conhecem e cantam com entusiasmo! Sobre Fagner Nascido em Fortaleza, no Ceará, em 1949, Raimundo Fagner Cândido Lopes passou a infância e juventude no município de Orós. Começou a cantar ainda criança e teve como referências grandes nomes da música brasileira, como Luiz Gonzaga, Orlando Silva e Nelson Gonçalves. Aos seis anos, Fagner venceu um concurso infantil na rádio local, a Ceará Rádio Clube, como melhor intérprete. Na adolescência, formou grupos musicais vocais e instrumentais e começou a compor suas próprias músicas. Em 1968, o artista venceu o IV Festival de Música Popular do Ceará com a música “Nada Sou”, em parceria com Marcus Francisco, e tornou-se popular no estado em 1969, após participar de programas televisivos de auditório na TV Ceará. A partir daí, Fagner passou a integrar, junto com outros grandes nomes como Belchior, Ednardo, Ricardo Bezerra e Fausto Nilo, o chamado “Pessoal do Ceará”, um grupo de jovens artistas e intelectuais cearenses que se destacaram no cenário cultural brasileiro no início dos anos 70, dando origem a um dos mais importantes movimentos da música contemporânea do país. Em 1971, Fagner inscreveu três músicas no Festival de Música Jovem, promovido pelo Centro Estudantil da Universidade de Brasília – CEUB, onde cursava Arquitetura. Ficou em primeiro lugar com a canção “Mucuripe” (parceria com Belchior) e em sexto lugar com “Manera Frufru, Manera” (parceria com Ricardo Bezerra). Também ganhou o Prêmio Especial do Júri com “Cavalo Ferro” (outra parceria com Ricardo Bezerra) e os prêmios de Melhor Intérprete e Melhor Arranjo. Após o Festival, Fagner viajou para o Rio de Janeiro e, no mesmo ano, mudou-se para São Paulo. A partir daí, sua música ganhou visibilidade também no Sudeste do Brasil. O ano de 1972 foi bastante significativo para o artista: suas músicas foram gravadas por Elis Regina, Ivan Lins e Wilson Simonal, e suas primeiras canções foram gravadas em compactos simples e duplos. Em 1973, Fagner lançou seu primeiro disco solo, “Manera Fru Fru, Manera”, que trouxe o grande sucesso “Canteiros”, música sua sobre o poema “A Marcha”, de Cecília Meireles. Em 1975, o artista lançou seu segundo álbum de estúdio, “Ave Noturna”, e foi eleito pela crítica de São Paulo como o “Cantor do Ano”. Em 1976, o cearense assinou com a gravadora CBS e lançou o disco “Raimundo Fagner”, considerado pela crítica um dos melhores discos do ano. Na CBS, Fagner exigiu ser contratado também como produtor e, assim, ajudou a lançar vários outros artistas do Nordeste brasileiro, incluindo Zé Ramalho, Elba Ramalho, Amelinha e Robertinho de Recife. Em 1977, o disco “Orós” mergulhou em suas origens interioranas, passeando pela linguagem peculiar nordestina e com ênfase na sonoridade brasileira, retratando o bucolismo interiorano da cidade em que Fagner cresceu, o drama da seca e o medo da chuva. Nos anos seguintes, Fagner lançou um sucesso após o outro e consolidou-se como um dos maiores nomes da música nacional. Em 1981, produziu e gravou, na Espanha, o álbum “Traduzir-se”, um grande marco em sua carreira. O disco foi lançado em toda a Europa e América Latina, e o nome do artista foi incluído na lista dos maiores cantores de música latina, principalmente por suas parcerias com outros músicos latinos não-brasileiros. Uma carreira consolidada Fagner também trabalhou como ator! Em 1987, Fagner e a atriz cearense Florinda Bolkan formaram o casal de protagonistas da minissérie “A Rainha da Vida”, da TV Manchete. Fagner também foi responsável pela trilha sonora da história de 15 capítulos. Em 1991, foi a vez do álbum “Pedras Que Cantam”, que trouxe dois dos maiores sucessos de sua carreira: a faixa-título (de Dominguinhos e Fausto Nilo, que se tornou a abertura da novela “Pedra sobre Pedra”) e “Borbulhas de Amor (Tenho um Coração)”, versão adaptada da música “Borbujas de Amor”, do cantor dominicano Juan Luis Guerra. O álbum também traz a clássica “Cabecinha no Ombro” (de Paulo Borges e com a participação de Roberta Miranda, que também entrou para a trilha da mesma novela). Nos anos 90, Fagner seguiu lançando discos de sucesso, como “Terral”, álbum de 1997, que traz o clássico “Espumas Ao Vento” (de Accioly Neto). Em 2003, sua parceria com Zeca Baleiro resultou em um álbum de estúdio e um DVD ao vivo, com o título “Raimundo Fagner & Zeca Baleiro”, além de uma série de shows pelo Brasil. Entre as canções de grande sucesso, estão “Dezembros” (dos dois artistas com Fausto Nilo) e “Palavras e Silêncios” (de Zeca e Nilo). Fagner continuou lançando álbuns e parcerias de sucesso. Em 2022, lançou “Meu Parceiro Belchior”, disco em homenagem ao conterrâneo, amigo e parceiro. Seu lançamento mais recente é o álbum “Além Desse Futuro”, primeiro trabalho solo de músicas inéditas em dez anos, além de “Destinos”, disco em parceria com Renato Teixeira.
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