Ônibus da Novela 'Três Graças' vs. Realidade: Trajetos Chocantes Revelados!

As linhas de ônibus que Gerluce, personagem principal da novela 'Três Graças', utiliza, realmente existem e transportam, em média, 16 mil passageiros por dia útil. Contudo, na vida real, os trajetos são diferentes. A rotina da mãe trabalhadora da Brasilândia poderia ser mais tranquila se as promessas para o transporte público paulistano tivessem sido cumpridas, como será mostrado no final da reportagem. Aparentemente, os trajetos foram modificados intencionalmente para apresentar lugares emblemáticos e conhecidos pelos moradores de São Paulo. Afinal, trata-se de uma obra de ficção. E, na ficção, até Odete Roitman pode retornar à vida. A rota central da viagem de Gerluce envolve a Linha 805L-10, mas ela não passa pelo Terminal Bandeira, no centro da capital paulista, como sugerem as cenas da novela. Na realidade, o ônibus circula entre a Aclimação e o Terminal Princesa Isabel, nos Campos Elíseos, próximo da Cracolândia. O ponto mais próximo do Terminal Bandeira que a 805L-10 passa é o Viaduto Jacareí, onde está a Câmara de Vereadores. A vista da Praça da Bandeira, com pessoas e carros sob as passarelas, margeando o Anhangabaú, pode ter sido a opção mais atraente da cidade. Em algumas cenas, o ônibus para no Viaduto Mie Ken, na Rua da Gloria, sobre a Ligação Leste-Oeste. Na vida real, a linha também passa pela Liberdade, mas cerca de 100 metros abaixo, no Viaduto Shuhei Uetsuka, na Rua Conselheiro Furtado. A intenção pode ter sido mostrar

, na ficção, as luminárias japonesas presentes no primeiro e ausentes no segundo local. A volta, então, é completamente distante do Terminal Bandeira. O ônibus percorre toda a Avenida Paulista e desce pela Avenida Angélica, até chegar ao Princesa Isabel. Diariamente, a Linha 805L-10 transporta quase 4.000 passageiros, em média. Gerluce também usa a Linha 8400-10, entre o Terminal Pirituba e a Praça Ramos. Há cenas em que um micro-ônibus com essa inscrição circula por ruas da Brasilândia, como se fizesse parte do grupo de transporte público chamado de distribuição, que seriam as antigas lotações. Contudo, na vida real, os ônibus que fazem essa rota da 8400-10 entre a zona norte e o centro de São Paulo são maiores, do tipo “padron”, integrantes do grupo chamado de estrutural, das grandes linhas. Não por acaso, transporta 12 mil passageiros em média, por dia. A linha também não chega perto da Comunidade do Iraque, na Brasilândia, onde estaria o núcleo mais pobre da novela. O ponto mais próximo que a 8400-10 passa da “Chacrinha” é o início da Avenida Fuad Lutfalla, a cerca de três quilômetros de distância. No horário de pico da manhã, cada viagem da 8400-10 pode durar, em média, 83 minutos entre o Terminal Pirituba e a Praça Ramos. À tarde, no sentido contrário, são 82 minutos no trajeto completo. Ao descer ou pegar o ônibus em frente ao Theatro Municipal, na Praça Ramos, a 100 metros de onde fica o gabinete do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Gerluce também sentiria o mau cheiro. O lugar estava com cheiro de urina, com o monumento transformado em banheiro a céu aberto. O sofrimento de Gerluce no transporte público paulistano poderia ser menor se a construção da Linha 6-Laranja não tivesse se tornado uma “novela” sem fim. O projeto do metrô entre a zona norte e o centro foi anunciado em 2008, com previsão de entrega para 2012. Treze anos depois, a linha ainda está em obras. Quando for concluída, deverá reduzir as viagens de cerca de uma hora e meia entre Brasilândia e Estação São Joaquim para apenas 23 minutos. A estimativa é que isso ocorra em 2027. A previsão é que transporte mais de 630 mil passageiros por dia. Ao chegar à Estação São Joaquim, Gerluce poderia fazer baldeação para a Linha 1-Azul e descer na estação Vergueiro. Caminharia cerca de um quilômetro até o local de trabalho, perto da Rua Safira. Lá, supostamente, estaria a casa de Arminda, a “dona Cobra” interpretada por Grazi Massafera.

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