A fumaça pairou sobre a Amazônia, interrompendo a conversa mundial sobre o clima. Eles chegaram a Belém com mapas, ordens de marcha e uma esperança frágil: que, de alguma forma, no burburinho silencioso das salas de negociação e pavilhões dos países, o mundo pudesse encontrar uma maneira de diminuir a febre do planeta. Em vez disso, por uma hora que pareceu uma eternidade, sentiram o cheiro de queimado. Um incêndio irrompeu em um pavilhão sob o tecido de lona do complexo da COP30, na orla da Amazônia, enviando delegados, imprensa e voluntários correndo para o ar pesado e úmido do lado de fora. A cena era vívida: fumaça acre se espalhando pelos corredores, mãos sobre bocas, flashes de luz de tochas enquanto equipes de segurança e da ONU lutavam para controlar o incêndio. Caos ordenado, depois alívio. "Fomos evacuados rapidamente. Não houve pânico", disse o ministro do Clima da Irlanda, relatando o momento em que ele e outros negociadores foram levados para fora. "Dava para sentir o cheiro de queimado, ver a fumaça. As pessoas foram retiradas de forma muito eficiente." Ele acrescentou o que muitos esperavam: "Espero que todos estejam bem e não haja feridos". As autoridades brasileiras confirmaram mais tarde que não houve relatos de feridos. O ministro do Turismo, Celso Sabino, disse que o fogo foi extinto e especulou que um curto-circuito ou uma falha elétrica podem tê-lo provocado. Joao Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente
do Brasil, minimizou os danos mais amplos: "Nenhuma sala de negociação foi afetada. Nenhuma área utilizada pelas delegações foi afetada", disse ele a uma emissora de televisão local. Um pequeno incêndio com grandes consequências. A palavra "limitado" apareceu em declarações oficiais - "danos limitados", "sem consequências graves". Mas o momento foi tudo, menos pequeno. O incêndio começou dentro de um pavilhão de um país na "zona azul" controlada pela ONU, perto da entrada do local, em um momento em que os ministros estavam negociando os itens mais sensíveis da cúpula: combustíveis fósseis, financiamento climático e medidas comerciais transfronteiriças. Com um dia restante em uma conferência de duas semanas, com a presença de quase 200 países e cerca de 50.000 delegados por dia, cada hora importa. "Este foi o momento crucial", disse um delegado indonésio à AFP. "Alguns de nós ainda estávamos negociando dentro da sala, mas por causa do incêndio, acho que o processo vai parar por um tempo." Ele falou por muitos: quando os diplomatas mundiais estão contando os últimos momentos para os textos finais, as interrupções podem se transformar em compromissos perdidos. Cenas das laterais: rostos de Belém. O complexo onde as conversas são realizadas é um híbrido de permanência e improvisação - uma mistura de salas de conferências sólidas e grandes tendas brancas montadas ao lado da borda respiratória da Amazônia. Vendedores vendendo açaí e peixe grelhado alinhavam as calçadas externas. Ativistas indígenas já haviam feito sentir sua presença no início da reunião, lembrando aos negociadores que a Amazônia não é apenas um pano de fundo, mas uma parte interessada viva. E agora, quando a chuva - leve e repentina - caiu e lavou a fumaça do ar, a comunidade local observou de além das cercas de segurança, prendendo a respiração. "Dava para sentir o cheiro de fumaça a quilômetros de distância", disse um vendedor ambulante que viu as COPs irem e virem. "Parecia que a própria conferência estava tossindo." Dentro, os voluntários se moviam com uma calma que desmentia o medo. Voluntários brasileiros e equipes de segurança realizaram evacuações organizadas, mesmo quando as equipes de bombeiros se apressaram com extintores. Os delegados relataram que alarmes e sprinklers não foram ativados, e várias pessoas falaram sobre fiação exposta e configurações elétricas temporárias em alguns pavilhões. "Relatamos fios e água pingando em painéis elétricos", disse uma mulher que trabalhou em um pavilhão, falando sob condição de anonimato. "Eles eram improvisados, e nos sentimos desconfortáveis, mas nada foi consertado a tempo." Médicos, angústia e descrença. Voluntários médicos trataram várias pessoas por inalação de fumaça e outras por angústia emocional em uma clínica no local. "Não é o que você espera que aconteça quando você está em uma conferência", disse a Dra. Kimberly Humphrey, especialista em medicina de emergência que participava com Médicos pelo Meio Ambiente, depois de ser voluntária na clínica. "Inicialmente, há uma sensação de descrença... A primeira coisa que pensei foi, 'oh, isso não é real'." "Para alguns, o medo foi mais psicológico do que físico", acrescentou. "Pessoas que estavam negociando por dias de repente enfrentaram um tipo diferente de ameaça - confusão sobre saídas, perguntas sobre quem ligar, quem ajudar." Por que este momento importa. Além do drama imediato, o incêndio expôs vulnerabilidades mais profundas: a natureza heterogênea de grandes cúpulas que misturam infraestrutura permanente com instalações temporárias, a pressão sobre a segurança do evento quando dezenas de milhares convergem e a tensão entre pressa e minúcia quando dezenas de nações montam pavilhões em pouco tempo. Também destacou o que está em jogo na própria COP30. Quase 200 nações passaram as últimas duas semanas elaborando um roteiro para uma transição dos combustíveis fósseis proposta pelo Brasil, ao mesmo tempo em que negociavam financiamento para países mais pobres e salvaguardas para medidas comerciais. O secretário-geral da ONU instou os negociadores a encontrar um "compromisso ambicioso". "O mundo está observando Belém", disse ele no início do dia - uma frase que pareceu mais verdadeira depois que a fumaça se dissipou. O que acontece nessas últimas horas importa muito além do centro de conferências. As decisões tomadas aqui influenciarão bilhões de pessoas à medida que os impactos climáticos se intensificarem - especialmente aqueles que vivem perto da Amazônia, que lidam diariamente com desmatamento, risco de inundações e a erosão dos meios de subsistência tradicionais. Questões persistem. Quem relata preocupações de segurança e quem ouve? Como garantimos que os elementos improvisados das cúpulas globais não minem a gravidade de sua missão? E talvez a mais urgente: a coreografia humana da negociação pode resistir a choques inesperados? Um delegado africano colocou de forma simples: "É uma COP de eventos estranhos. Temos protestos, temos incêndios - esta não é a diplomacia previsível para a qual treinamos." Ele encolheu os ombros; os diplomatas são jovens de manhã e velhos no final das negociações. "Mas viemos aqui porque o mundo precisa de ação." Depois da fumaça: resiliência e uma corrida contra o relógio. À noite, os organizadores do Brasil disseram que o local permaneceria fechado até pelo menos as 20h, horário local (23h GMT), interrompendo um calendário já apertado. Os negociadores se esforçaram para se reunir, encontrar novas salas, salvar textos e impulso. Nas margens, limpadores e técnicos repararam a fiação danificada e remendaram o telhado de tecido onde havia sido rasgado. Se essa interrupção alterará os resultados é incognoscível. O que é claro é que o momento foi uma metáfora: a crise climática não é uma ameaça distante que pode ser educadamente debatida em salas com ar-condicionado. Ela irrompe - chamas literais em um pavilhão - e força todos a lidar com a vulnerabilidade, a adaptação e os custos humanos da ação tardia. Então, ao ler isso, considere: se as conferências destinadas a salvar o planeta são elas próprias frágeis, o que isso diz sobre os sistemas em que confiamos para nos proteger? A mesma urgência que convocamos para os exercícios de evacuação pode ser convocada para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis ou financiar a resiliência nos lugares que mais precisam? Por enquanto, Belém respira um pouco mais fácil. Ninguém se machucou. As conversas serão retomadas. Mas o cheiro de fumaça permanece, e com ele, um lembrete de que a conversa sobre o clima não é apenas sobre diplomacia - é sobre segurança, sobre infraestrutura e sobre a interseção frágil e combustível de pessoas e política em nosso planeta em aquecimento.
📝 Sobre este conteúdo
Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Jowhar
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