BUENOS AIRES, 22 de outubro (UPI) – O presidente Donald Trump está considerando uma medida incomum em sua agenda protecionista: importar carne argentina para ajudar a conter o aumento dos preços domésticos. A proposta representa uma mudança em relação à sua política habitual de proteger os produtores dos EUA por meio de tarifas. Os preços da carne nos Estados Unidos subiram até 16% este ano, com a carne moída registrando alguns dos aumentos mais acentuados. A alta é impulsionada pela seca, o menor rebanho de gado dos EUA em mais de 70 anos e o aumento das tarifas comerciais.
A proposta gerou preocupação entre os criadores de gado dos EUA, que temem que isso possa prejudicar sua renda. A Argentina poderia ajudar a baixar os preços nos Estados Unidos? Especialistas da nação sul-americana dizem que isso é improvável, citando limites de volume, qualidade e estrutura do mercado. José María Romero, ex-subsecretário de Pecuária e Produção Animal da Argentina, disse à UPI que a cota atribuída ao seu país é de apenas 20.000 toneladas em um mercado que consome mais de 1,2 milhão por ano. "Dizer que comprar um pouco mais da Argentina poderia estabilizar os preços internos é irreal", disse ele, observando que 20.000 toneladas representam menos de 2% do total das importações de carne bovina dos EUA, muito pouco para influenciar o mercado. Javier Preciado Patiño, ex-subsecretário de Mercados Agrícolas e diretor da RIA Consultores, concordou. "Importar
da Argentina não ajudará os consumidores a ter acesso a carne mais barata", disse ele à UPI. Os números mostram a escala do desafio. De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, os Estados Unidos importaram 1,46 milhão de toneladas de carne bovina em 2024. Os principais fornecedores foram Austrália, Canadá, México, Nova Zelândia e Brasil. A Argentina contribuiu com 34.174 toneladas, apenas 2,3% do total. Aumentar essa cota, mesmo que ligeiramente, teria um efeito quase imperceptível, concordaram os especialistas. E enviar mais carne para os Estados Unidos enfrentaria algumas barreiras. A primeira é a capacidade. A Argentina já está operando em níveis máximos de exportação. No ano passado, produziu 3,2 milhões de toneladas de carne bovina, um volume estável sem sinais de crescimento. Desse total, 30% foram exportados e o restante abasteceu o mercado interno. Além disso, o mercado interno de carne bovina da Argentina é excepcionalmente forte. "Somos os maiores consumidores de carne do mundo. Não há muito espaço para exportar mais", disse Preciado Patiño. Ele acrescentou que os consumidores argentinos estão dispostos a pagar preços altos pela carne, tornando mais lucrativo vender localmente do que no exterior. Sem um aumento significativo na produtividade do gado, a Argentina simplesmente não tem carne premium adicional disponível para exportação sem cortar seu próprio fornecimento. Outra limitação é qualitativa e talvez ainda mais decisiva. A Argentina produz carne premium de alta qualidade com rastreabilidade e certificações voltadas para nichos especializados, como kosher e Angus certificado. Essa especialização a distancia do mercado de massa que Washington precisa para reduzir os preços para o consumidor médio. A indústria de exportação de carne bovina da Argentina tem dois segmentos: carne resfriada, que é de maior valor, e carne congelada, que é de menor custo e geralmente usada em produtos industriais, como hambúrgueres. Entre janeiro e setembro, a Argentina exportou 85.371 toneladas de carne resfriada no valor de US$ 908,6 milhões e 436.497 toneladas de carne congelada no valor de US$ 1,857 bilhão. O valor médio foi de US$ 10.643 por tonelada para carne resfriada e US$ 4.254 por tonelada para congelada. Esses números ressaltam a posição da Argentina como fornecedora de alta qualidade, em vez de uma fonte de carne a granel de menor valor. Os Estados Unidos representaram 6,1% das exportações de carne resfriada da Argentina em volume e 6,4% em valor. Para carne congelada, as participações foram de 5,5% em volume e 8,4% em valor, de acordo com o relatório de exportação de carne bovina do país para junho de 2024. "Essa diferença se deve ao papel dominante da China nesse segmento, pois ela importa carne de baixa qualidade e baixo custo", disse Preciado Patiño. "Os Estados Unidos não são um mercado particularmente significativo para a Argentina", disse o especialista. A cota de 20.000 toneladas permite exportações de cortes de alto valor destinados a redes de restaurantes, hotéis ou à comunidade argentina que vive no país. A certificação Kosher também desempenha um papel importante. Embora as exportações de carne congelada tenham aumentado - de 14.000 toneladas em 2022 para 27.000 em 2024 - os números permanecem marginais. As condições tarifárias também são desfavoráveis. Romero explicou que o Canadá e o México enfrentam tarifas zero e cotas ilimitadas. A Austrália, com um limite de 378.000 toneladas, também não paga impostos. A Nova Zelândia, com 213.000 toneladas, paga apenas 4,4 centavos de dólar por quilograma. Argentina e Uruguai, além de pagar tarifas, estão restritos a 20.000 toneladas. Essa desvantagem os torna menos competitivos no atendimento ao mercado de massa dos EUA. Ponderando esses números, Romero disse que a cota da Argentina de 20.000 toneladas é praticamente insignificante no mercado dos EUA e dentro das exportações totais da Argentina. Se o governo Trump está procurando uma solução eficaz, os analistas sugerem olhar para o Brasil. "Especialistas em ambos os países veem um impacto potencial maior se a tarifa adicional sobre as importações brasileiras fosse suspensa, uma vez que o Brasil é um importante player em termos de volume e oferta", disse Romero. "O Brasil poderia enviar entre 220.000 e 250.000 toneladas em 2026, muito mais do que qualquer acordo com a Argentina poderia oferecer", disse ele, acrescentando que tal volume poderia realmente influenciar os preços ao consumidor. Outra opção seria realocar porções das cotas existentes para mercados terceiros, como Washington fez com o Reino Unido. No entanto, isso limitaria os embarques de outros países e não resolveria a questão subjacente. E mesmo que a Casa Branca removesse a tarifa da Argentina, isso poderia provocar demandas semelhantes de outras nações, criando uma nova disputa diplomática e comercial.
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