O Google está expandindo sua parceria de reflorestamento na Amazônia com a startup brasileira Mombak, em um acordo que representa a maior iniciativa de remoção de carbono da empresa até o momento. O objetivo é financiar a restauração de áreas da floresta amazônica, com a meta de compensar 200.000 toneladas métricas de CO₂. Essa colaboração fortalece a demanda por créditos de carbono baseados na natureza de alta qualidade, em um momento em que as grandes empresas de tecnologia enfrentam o desafio de reduzir as emissões de seus centros de dados. O Brasil, que sediará a COP30, e a emergência da Symbiosis Coalition indicam uma mudança em direção a uma contabilidade de carbono mais transparente e baseada na ciência para a restauração florestal.
O Google está intensificando seus esforços para encontrar compensações de carbono verificadas e de alta qualidade, a fim de equilibrar as crescentes emissões relacionadas às suas operações de inteligência artificial e computação em nuvem. Apesar de um portfólio que inclui iniciativas de captura direta do ar e biochar, executivos do Google afirmam que a ferramenta de remoção de carbono mais eficaz continua sendo a natural. Randy Spock, chefe de créditos e remoção de carbono do Google, afirmou que a fotossíntese é a tecnologia de menor risco para reduzir o carbono na atmosfera.
As emissões da Alphabet, provenientes da eletricidade comprada – principalmente para alimentar sua rede global de centros
de dados – mais que triplicaram entre 2020 e 2023, atingindo 3,1 milhões de toneladas de equivalente de CO₂, de acordo com seu último relatório de sustentabilidade. A escala dessa pegada está impulsionando um novo escrutínio sobre como as empresas verificam o impacto dos programas de compensação de carbono. Ao contrário de esquemas mais antigos, como o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), que compensam os desenvolvedores por evitar o desmatamento, o modelo da Mombak se concentra na restauração ativa. A empresa converte pastagens degradadas em floresta tropical, gerando créditos de remoção verificados em vez de créditos de evitação – uma distinção que se tornou central após escândalos de integridade envolvendo projetos de carbono no Brasil e em outros lugares. Spock explicou que a decisão de quadruplicar o investimento na Mombak se deve à sua abordagem muito confiável.
Gabriel Silva, cofundador e CEO da Mombak, descreveu a mudança como parte de uma “fuga para a qualidade”. Ele observou que muitos dos primeiros compradores de créditos de carbono “não sabiam o que estavam comprando”, o que levou a um investimento generalizado em projetos de baixa qualidade ou até fraudulentos.
O Brasil está se posicionando no centro desse novo mercado de carbono. Ao sediar a COP30 em Belém, o governo a rotulou como a “COP da Floresta”, enfatizando iniciativas para conservar e restaurar ecossistemas tropicais. O governo também está propondo um novo fundo internacional dedicado à proteção das florestas tropicais. Os créditos de reflorestamento se tornaram alguns dos instrumentos de maior valor nos mercados voluntários de carbono. Enquanto os créditos REDD mais antigos podem ser negociados por menos de US$ 10 por tonelada de CO₂, projetos de restauração verificados mais recentes no Brasil estão custando entre US$ 50 e US$ 100 por tonelada – um prêmio de preço que reflete o rigor científico e a oferta limitada. Silva comentou que, embora as empresas estejam se tornando mais eficientes na produção a preços mais baixos, a demanda atualmente excede em muito a oferta.
Para abordar as preocupações sobre credibilidade, o Google se juntou à Symbiosis Coalition em 2024 – um consórcio de grandes compradores corporativos, incluindo Microsoft, Meta, Salesforce e McKinsey. O grupo visa comprar 20 milhões de toneladas de remoções de carbono baseadas na natureza, cientificamente verificadas, até 2030. A coalizão recentemente se expandiu para incluir Bain & Company e REI Co-op, sublinhando o crescente interesse corporativo em compensações credíveis e transparentes. Dos 185 projetos revisados pela Symbiosis até o momento, o da Mombak foi o primeiro a atender a todos os seus padrões científicos e éticos, que incluem permanência de carbono de longo prazo, ganhos de biodiversidade e benefícios comunitários. Julia Strong, diretora executiva da coalizão, espera que mais projetos brasileiros sejam aprovados em breve.
Para o Google e seus pares, o investimento representa tanto um compromisso climático quanto uma estratégia de gerenciamento de riscos. À medida que o escrutínio global dos mercados voluntários de carbono se intensifica, as corporações estão sendo pressionadas a demonstrar remoções de emissões verificáveis e duradouras, em vez de manobras contábeis. Ao alinhar suas compras de compensação de carbono com a agenda de reflorestamento do Brasil e os padrões de integridade emergentes, o Google está efetivamente apostando em soluções baseadas na natureza como um ativo climático e uma proteção reputacional. Se bem-sucedido, o modelo da Mombak pode redefinir como os compradores corporativos de carbono se envolvem com a Amazônia – não como um gesto simbólico, mas como uma solução climática mensurável e monetizada, diretamente ligada às trajetórias globais de zero líquido. Em um momento em que o uso de energia em data centers está aumentando e a pressão regulatória sobre as divulgações de carbono corporativas está se intensificando, essa combinação de credibilidade e escalabilidade pode ser decisiva.
📝 Sobre este conteúdo
Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Esgnews
. O texto foi modificado para melhor atender nosso público, mantendo a precisão
factual.
Veja o artigo original aqui.
0 Comentários
Entre para comentar
Use sua conta Google para participar da discussão.
Política de Privacidade
Carregando comentários...
Escolha seus interesses
Receba notificações personalizadas