O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou as Perspectivas Económicas Regionais de Outubro, revelando que a África Subsariana deverá manter um crescimento de 4,1% em 2025, semelhante ao de 2024, mas ligeiramente abaixo da estimativa inicial. Em meio a um cenário global desafiador, a região demonstra resiliência, impulsionada pela estabilidade macroeconómica e reformas em diversas economias-chave. António David, em entrevista exclusiva ao Expresso das Ilhas e Rádio Morabeza, destacou os esforços de Cabo Verde na disciplina orçamental, embora tenha alertado para os riscos persistentes de sobreendividamento.
A estabilidade do crescimento na região da África Subsaariana reflete a capacidade das economias em enfrentar um ambiente externo adverso. Essa resiliência é atribuída a diversos fatores. Primeiramente, os esforços dos governos em implementar políticas de estabilização macroeconómica e reformas para estimular o crescimento, especialmente no setor privado, são cruciais. Além disso, os preços favoráveis de algumas matérias-primas, como ouro, cobre e café, também contribuíram. Contudo, o preço menos favorável do petróleo impacta as economias exportadoras. Outro fator relevante é a atenuação das tensões comerciais, que se mostraram menos intensas do que o previsto.
O relatório do FMI ressalta a redução da ajuda externa e as dificuldades de acesso ao financiamento, embora com algumas melhorias. O impacto direto das tensões comerciais é
moderado, mas algumas economias, como Madagáscar e Lesoto, são vulneráveis. A maior preocupação reside nos efeitos indiretos, que se propagam através dos preços das matérias-primas e das perspectivas económicas globais. A diminuição da ajuda externa afeta principalmente os países de baixo rendimento, como Moçambique, prejudicando programas essenciais nas áreas de saúde, educação e ajuda humanitária. As autoridades da região buscam alternativas, financiando esses programas com orçamentos domésticos, o que representa um desafio.
As condições de financiamento melhoraram desde abril, com a redução dos diferenciais de rendimento para os países com acesso ao mercado internacional e a retomada dos fluxos de capitais. Angola, por exemplo, conseguiu acessar o mercado recentemente. Contudo, as taxas de juros permanecem elevadas, aumentando os custos da dívida. As vulnerabilidades fiscais são as mais evidentes, embora o nível da dívida na região tenha se estabilizado em torno de 56% do PIB. Os custos dessa dívida são significativamente maiores na África Subsaariana em comparação com outras regiões e países emergentes. Cerca de 20 países da região enfrentam risco de sustentabilidade da dívida ou já estão sobreendividados. O aumento do financiamento doméstico da dívida também é um fator relevante.
A inflação de dois dígitos ainda persiste em um quinto dos países da região, e as reservas externas estão abaixo do nível recomendado em aproximadamente um terço dos países. O equilíbrio entre as necessidades de financiamento, a estabilidade financeira e orçamental é complexo. É fundamental adotar políticas para desenvolver os mercados de capitais domésticos e fortalecer a gestão da dívida pública, promovendo a transparência e a publicação de dados detalhados. A mobilização de receitas é crucial, especialmente quando comparada a outras regiões e mercados emergentes.
Cabo Verde é reconhecido por sua estabilidade e rápida recuperação após a pandemia, impulsionada pelo turismo e pelas boas políticas macroeconómicas. O país manteve altas taxas de crescimento, com inflação baixa e estável, e demonstrou disciplina orçamental, reduzindo o nível da dívida. No entanto, Cabo Verde permanece vulnerável a choques externos e internos, com um risco de sobreendividamento ainda elevado. A economia cabo-verdiana é pouco diversificada, e há necessidade de diversificação setorial, inclusive dentro do turismo. O FMI destaca os riscos associados à dívida das empresas públicas, que o governo precisa mitigar.
Para fortalecer a gestão da dívida em Cabo Verde, o FMI recomenda a melhoria da gestão das empresas estatais, reduzindo sua dependência de subsídios e garantias governamentais. A publicação de dados abrangentes sobre a dívida é essencial para aumentar a confiança dos investidores e reduzir os custos. É fundamental aprimorar a gestão da dívida e aproveitar os esforços de capacitação dos parceiros de desenvolvimento. Cabo Verde, com sua economia aberta e dependente da economia global, precisa implementar políticas macroeconómicas prudentes, como consolidação orçamental, política monetária estável e regulação financeira robusta, além de promover o crescimento diversificado, incluindo o setor do turismo.
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