Kabir Abubakar corre velozmente, antecipando-se ao goleiro e mandando a bola para o gol. A torcida no campo de corrida de Kano explode em alegria, e seus companheiros de equipe o abraçam. Na lateral do campo, sua treinadora, Hidaa Ahmad Ghaddar, também comemora. Não faz muito tempo, tanto Kabir quanto Ghaddar perseguiam objetivos diferentes. Aos 15 anos, Kabir se viu envolvido com uma gangue juvenil, rumando para uma vida de violência e drogas. Ghaddar, por sua vez, buscava uma carreira como jogadora de futebol profissional, participando de torneios na Nigéria e na Europa. Mas há dois anos, após lesões interromperem suas ambições, Ghaddar retornou a Kano, cidade no norte da Nigéria onde cresceu. Perturbada com a quantidade de jovens como Kabir que encontrou lá, ela decidiu criar um time de futebol. Sua esperança era que o futebol pudesse fazer por esses meninos o que fez por ela. "Quero ensiná-los a viver a vida com propósito", diz ela. Sem medo de se destacar Nos campos empoeirados de futebol no histórico hipódromo de Kano, Ghaddar se destaca. Nesta cidade muçulmana conservadora, é incomum ver uma mulher no campo – muito menos como treinadora. Mas Ghaddar nunca teve medo de se destacar. Nascida de pais libaneses, ela cresceu ali jogando futebol com seus irmãos e seus amigos. "Ser introvertida, jogar futebol me deu a oportunidade de me expressar", diz ela. Então, aos 16 anos, Ghaddar se mudou para o Líbano para estudar na universidade, onde jogou com outras
meninas pela primeira vez. "Eu não sabia... que existiam times femininos", lembra. Enquanto estudava educação física na Universidade Antonine em Baabda, no Líbano, Ghaddar também foi selecionada para a seleção libanesa de futsal feminino – uma variação de futebol de cinco jogadores. Como parte dessa equipe, ela competiu em torneios internacionais, como o Campeonato Mundial InterUniversitário na Espanha e o Campeonato Mundial Universitário em Portugal. Depois de se formar, Ghaddar jogou em times no Líbano, Nigéria e Inglaterra. Ela foi repetidamente afastada por lesões no joelho, no entanto, então parou de jogar competitivamente e começou a treinar em um clube de futebol juvenil no Líbano. Quebrando o ciclo Mas Ghaddar se viu preocupada com um problema social que sua cidade natal enfrentava. Meninos com apenas 9 anos estavam sendo recrutados para gangues, que vagavam por Kano carregando paus, facas e porretes, que usavam para assaltar pessoas. O abuso de drogas era generalizado. Essas gangues, conhecidas localmente como “Yan Daba”, são frequentemente apoiadas por partidos políticos, que as usam para agredir apoiadores de partidos oponentes. Para os meninos envolvidos em gangues, pode ser o início de uma vida inteira de idas e vindas de prisões superlotadas e perigosas. "Devemos decidir se queremos continuar a armazenar jovens em condições deploráveis que os endurecem e apoiam seu retorno ao crime", diz Bukunmi Akanbi, pesquisador focado em conflitos e direitos humanos no Centre for Journalism Innovation and Development (CJID) em Abuja. Ghaddar viu outra maneira. Em 2023, ela decidiu voltar para Kano e montar uma academia de futebol comunitária onde os jovens pudessem treinar como jogadores de futebol e aprender habilidades que os ajudariam a ficar longe das gangues permanentemente. Hoje, a Breakthrough Academy tem cerca de 25 jogadores entre 8 e 17 anos, que vêm de bairros de Kano. Três vezes por semana, eles se encontram no hipódromo de Kano, fazendo exercícios em um campo ao lado da pista de corrida. Em uma tarde recente, ela está no centro do campo, seu hijab preto cuidadosamente preso sob sua camisa e um apito no pescoço. Ela anda lentamente, observando os movimentos dos jogadores e dando instruções. "Passe a bola; mantenha a cabeça erguida e jogue", ela grita em hausa, que é a primeira língua da maioria de seus jogadores. Após o treino, Ghaddar senta os meninos em um círculo sob uma árvore de nim próxima. Enquanto eles tomam água, ela diz a eles que "este jogo vai te ensinar sobre a vida. Você vai ganhar alguns dias e perder outros, mas você sempre deve aparecer". Para muitos jogadores, Ghaddar é mais do que apenas uma treinadora. Ela é uma mentora, uma “irmã do futebol” e, para alguns meninos, uma figura materna. Fora do campo, ela organiza aulas para ajudá-los a melhorar suas habilidades em inglês e matemática, e às vezes ela até os leva em acampamentos. "Ela ajudou todos nós aqui a nos tornarmos meninos melhores", diz Ahmed Al-Mustapha, que entrou na academia há nove meses. "Ela nos aconselha sobre a vida e nos incentiva a ir para a escola. Se eu não tivesse entrado nesta academia, não sei o que estaria fazendo agora." Kabir, que diz que entrar na Breakthrough Academy o ajudou a deixar uma gangue, concorda. Seus companheiros de equipe o chamam carinhosamente de “Vinícius”, em homenagem à estrela brasileira Vinícius Júnior. “Espero que em breve eu tenha a oportunidade de jogar no exterior como minha treinadora e ser contratado por um grande clube”, diz Kabir com um sorriso tímido. "Isso vai acontecer algum dia." Enoch Stephen contribuiu com reportagens para este artigo.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Csmonitor
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