À medida que a COP30 se aproxima em Belém, no Brasil, a porta de entrada para a Amazônia e o epicentro da esperança planetária, as apostas não poderiam ser maiores. A maior sumidouro de carbono do mundo está sediando a cúpula climática mais consequente do planeta. Mas esta não é apenas uma encenação simbólica. É um momento de acerto de contas e, potencialmente, de reimaginação. O Sul Global chegou não como um suplicante, mas como um administrador, munido de conhecimento institucional, infraestrutura de monitoramento e sistemas de governança comunitária que são essenciais para qualquer estratégia climática credível. É apropriado que o Secretário-Geral da COP30 seja o ex-embaixador brasileiro na Índia (até o ano passado), Andre Correa de Lago — porque a Índia traz à COP30 uma agenda aprimorada. Como nosso principal especialista, Arunabha Ghosh, argumentou, “a entrega é agora a única moeda de confiança”. O Sul não está mais satisfeito com promessas e platitudes. Ele busca resultados e é cada vez mais capaz de produzi-los. E em Andre, temos um amigo que está habilmente conduzindo a COP30 em direção a resultados, em finanças, adaptação e uma transição justa.
Atrás de um cenário de perdas, os trópicos perderam 6,7 milhões de hectares de floresta tropical primária no ano passado, em grande parte devido a incêndios, um número impressionante equivalente a apagar a cobertura florestal de um pequeno país. No entanto, o Brasil, por
meio de melhor monitoramento por satélite e aplicação de políticas, registrou um declínio de 11% no desmatamento da Amazônia entre agosto de 2024 e julho de 2025. Este não foi o resultado apenas de capital estrangeiro ou tecnologias importadas. Foi o resultado da determinação interna, reforma institucional e inovação liderada pelo Sul. A Amazônia, estimada em conter entre 90 e 140 bilhões de toneladas de carbono, não é uma causa filantrópica, mas uma necessidade planetária. Sua proteção não é um gesto de boa vontade, mas um pré-requisito para qualquer orçamento global de carbono credível. E sua recuperação parcial prova um ponto vital: o Sul Global pode entregar, quando é capacitado a liderar.
O Plano de Ação de Saúde de Belém para Adaptação Climática no Setor de Saúde enfatiza uma abordagem holística de “Uma Saúde”, cobrindo animais, pessoas e ecossistemas. As florestas cobrem apenas 31% das terras do mundo, e quase metade disso é encontrado em países tropicais. Essas paisagens não são fardos a serem compensados, mas ativos estratégicos. Elas detêm biodiversidade extraordinária, densas reservas de carbono e patrimônio cultural. No entanto, enfrentam pressão implacável da agroindústria, mineração e desenvolvimento de infraestrutura. Se a arquitetura política, financeira e técnica puder ser reimaginada para apoiar a gestão local em vez de extrair valor, essas florestas poderiam ancorar um novo modelo de crescimento inclusivo. Isso não se trata de caridade ou compensação. Trata-se de parceria, soberania e sobrevivência compartilhada.
A lacuna de financiamento para adaptação permanece o escândalo não falado da diplomacia climática. As Nações Unidas estimam as necessidades globais de adaptação em US$ 187 bilhões a US$ 359 bilhões anualmente. No entanto, os fundos fornecidos permanecem apenas uma fração disso - muitas vezes condicionais, lentos e desconectados das prioridades definidas localmente. A COP30, após a presidência do G20 do Brasil no ano passado, oferece um raro momento de continuidade política. O Sul Global precisa de doações e compensações livres de dívidas, uma vez que os modelos de financiamento atuais dependem muito de empréstimos, o que exacerba as cargas de dívida. O Sul deve exigir não apenas mais dinheiro, mas dinheiro mais inteligente: Financiamento que apoie bioeconomias, direitos indígenas, conservação liderada pela comunidade e cadeias de valor verdes, sem impor os modelos do Norte a nós. Novos instrumentos como o Fundo de Perdas e Danos e a Rede Santiago para assistência técnica são passos à frente. Mas correm o risco de se tornarem simbólicos, a menos que sejam apoiados por uma arquitetura multilateral reformada que se concentre na equidade, capacidade de resposta e agência local.
O Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono da UE, que impõe um imposto de fronteira sobre produtos intensivos em carbono, coloca um ônus tarifário injusto sobre o comércio do Sul. O mundo precisa de planos de ação climática nacionais mais ousados e transformadores; sistemas conjuntos de monitoramento por satélite para rastrear o desmatamento e os estoques de carbono; assistência técnica conjunta para adaptação e restauração baseadas na comunidade; um veículo de investimento compartilhado para cadeias de suprimentos sustentáveis e infraestrutura verde; e uma estrutura de créditos de carbono liderada pelo Sul com salvaguardas robustas para direitos e biodiversidade. Esta não é uma visão utópica. Os blocos de construção já existem no Sul — nos sistemas de monitoramento do Brasil, nos parques solares da Índia, na restauração de turfeiras da Indonésia e na silvicultura comunitária do Nepal. O que é necessário é a vontade política de conectar esses pontos em todos os continentes.
Uma das ferramentas mais poderosas na governança climática são os dados. Mas os dados não são neutros. Quem os coleta, quem os interpreta e quem age sobre eles determina quais interesses são atendidos. Os dados permitem que os países estabeleçam suas próprias linhas de base, acompanhem seu próprio progresso e se responsabilizem. Também lhes permite desafiar narrativas externas desatualizadas ou imprecisas. Em um mundo onde a credibilidade climática é moeda, a capacidade de monitorar e relatar de forma transparente é tão vital quanto a capacidade de agir.
A Ásia do Sul enfrenta um paradoxo climático único. Está entre as regiões mais vulneráveis aos choques climáticos. Estamos enfrentando todas as crises imagináveis, desde o derretimento glacial do Himalaia até a inundação costeira, de ondas de calor a ciclones. No entanto, também podemos ser um laboratório de soluções de baixo custo e alto impacto. Na COP30, as prioridades da região incluem financiamento climático justo e acessível, especialmente para adaptação e “perdas e danos”; cooperação regional fortalecida, por meio de plataformas como BIMSTEC e G20; e governança inclusiva, com vozes subnacionais e comunitárias na mesa. A missão de hidrogênio verde da Índia, os abrigos contra ciclones de Bangladesh e a restauração de manguezais do Sri Lanka não são apenas histórias de sucesso, são modelos escaláveis de resiliência. A agenda climática da Ásia do Sul não se trata apenas de emissões. Trata-se de emprego, equidade e empoderamento. Com metade de sua população com menos de 25 anos, a região vê a ação climática como um caminho para empregos, em energias renováveis, resiliência e restauração. É aqui que o capital do Norte pode desempenhar um papel catalisador, não ditando termos, mas investindo em transições lideradas localmente. Empregos verdes, enraizados nas economias e habilidades locais, podem transformar não apenas as trajetórias de emissões, mas também os resultados sociais.
O antigo pacto — onde o Norte paga e o Sul cumpre — está desmoronando. Em seu lugar, um novo pacto está surgindo: Um baseado em respeito mútuo, inovação compartilhada e soluções co-criadas. A COP30 deve ser onde este pacto é formalizado: Onde a entrega substitui o atraso, a capacidade é reconhecida ao lado da crise e a soberania do Sul não apenas reconhecida, mas amplificada. Se a Amazônia pode mudar a curva, o resto de nós também pode — desde que ouçamos, invistamos e acreditemos no poder da mudança liderada pelo Sul. O escritor é deputado, Thiruvananthapuram, e presidente da Lok Sabha, Comitê Permanente Parlamentar de Relações Exteriores.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Indianexpress
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