A maior reunião anual sobre o clima, a 30ª Conferência das Partes, ou COP30, começa hoje em Belém, no Brasil. Trinta e três anos após a assinatura do primeiro tratado da ONU sobre o clima na Cúpula da Terra do Rio, a conferência retorna ao solo brasileiro em meio a temperaturas recordes, aumento das emissões e crescente ceticismo em relação aos compromissos climáticos globais. A cúpula de duas semanas, que vai de 10 a 21 de novembro, testará se os governos podem transformar promessas passadas em ações concretas. Veja o que esperar das negociações deste ano.
O Que É a COP30 e Por Que Ela Importa?
Anualmente, os 198 países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) se reúnem para coordenar suas respostas ao aquecimento global. Cada reunião é chamada de COP, abreviação de Conferência das Partes. O tratado que a criou reconheceu que todas as nações compartilham a responsabilidade de lidar com as mudanças climáticas, mas que os países mais ricos, que mais contribuíram para as emissões históricas, devem liderar. A presidência rotativa, agora ocupada pelo Brasil, define a agenda e lidera as negociações. A COP deste ano é um momento simbólico de retorno: o Brasil sediou a Cúpula da Terra de 1992, no Rio de Janeiro, onde a UNFCCC foi adotada pela primeira vez. Três décadas depois, o país sedia a 30ª sessão histórica com um foco renovado em responsabilidade, equidade e proteção das comunidades vulneráveis
. O Brasil escolheu sediar a COP30 em Belém, a porta de entrada para a Amazônia, para chamar a atenção global para a importância das florestas na estabilidade climática. A decisão sublinha simbolicamente a urgência de proteger as florestas que continuam sob pressão do desmatamento, mineração, agricultura e extração de combustíveis fósseis. A Amazônia, um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, com uma estimativa de 150 a 200 bilhões de toneladas de carbono, está sob severa pressão do desmatamento e da conversão de terras. Trazer a conferência para a borda da floresta amazônica reflete o esforço do Brasil para conectar a ação climática com a proteção dos ecossistemas e das pessoas que dependem deles, incluindo as comunidades indígenas. No entanto, a localização remota de Belém, a infraestrutura limitada e os altos custos de hotéis dificultaram a participação de nações menores e grupos da sociedade civil. Essas dificuldades logísticas levantaram preocupações de que as próprias vozes mais afetadas pelas mudanças climáticas possam ter mais dificuldade em serem ouvidas.
Quais São os Principais Temas Deste Ano?
A COP deste ano está sendo descrita como uma “COP de Implementação”, aquela em que os países devem traduzir suas promessas em resultados mensuráveis. Ela será guiada pelo primeiro Balanço Global (GST) sob o Acordo de Paris, uma revisão quinquenal que avalia o progresso global, identifica lacunas e ajuda os países a fortalecer seus planos. As discussões girarão em torno de seis áreas: transições em energia, indústria e transporte; proteção de florestas, oceanos e biodiversidade; transformação dos sistemas alimentares; resiliência em cidades, infraestrutura e água; e desenvolvimento humano e social. Cada um deles depende fortemente de uma questão central — financiamento climático.
O Dinheiro Dominará as Conversas Novamente?
O financiamento permanece no centro das negociações climáticas globais. Na COP29, em Baku, no ano passado, os países concordaram com uma Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG) para arrecadar 300 bilhões de dólares por ano até 2035 de nações desenvolvidas e mobilizar 1,3 trilhão de dólares anualmente de todas as fontes públicas e privadas combinadas. O “Roteiro Baku-Belém”, preparado pelo Azerbaijão e pelo Brasil, será agora revisto e finalizado nesta cúpula. No entanto, a lacuna entre promessas e entrega permanece vasta. A última avaliação da ONU mostra que a demanda por financiamento climático é de 12 a 14 vezes maior do que os fluxos atuais. O Fundo de Perdas e Danos, criado na COP28 para ajudar as nações mais pobres a se recuperarem de desastres, detém menos de um bilhão de dólares contra necessidades anuais que chegam a centenas de bilhões. Os países em desenvolvimento argumentam que o financiamento climático tem sido cronicamente sub-entregue. Eles também alertam que a expansão da definição de contribuintes para incluir bancos, investidores, filantropias e até mesmo setores privados em países em desenvolvimento enfraquece o princípio fundamental das responsabilidades comuns, mas diferenciadas — a ideia de que as nações mais ricas, tendo causado mais danos, devem fazer mais para corrigi-los.
A Ausência dos EUA e a Hesitação da UE Afetarão os Resultados?
Durante décadas, os EUA desempenharam um papel central na formação de acordos climáticos globais e na condução de compromissos financeiros internacionais. Isso mudou drasticamente sob a administração Trump, que cortou o financiamento para pesquisa climática, reverteu projetos de energia renovável, expandiu a extração de petróleo e gás e se retirou formalmente do Acordo de Paris pela segunda vez. Essa retirada criou uma lacuna de liderança que outros, incluindo China, Brasil e União Europeia, estão agora tentando preencher. China e Brasil buscaram reunir as nações em desenvolvimento e promover a cooperação em transições energéticas e proteção florestal, embora ambos enfrentem seus próprios limites econômicos e políticos. A União Europeia, tradicionalmente vista como o outro pilar da diplomacia climática global, chega a Belém com um ímpeto limitado. Após meses de negociações internas, ela acabou de definir uma meta de emissões para 2040 e uma meta provisória para 2035. O progresso lento levantou dúvidas sobre se a UE pode fornecer a direção e a consistência necessárias para orientar as negociações globais em um momento de crescente urgência.
E Quanto às Novas Metas de Emissão?
Os países deveriam apresentar Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atualizadas para 2035, seus planos nacionais de redução de emissões, até fevereiro deste ano. Após uma extensão até setembro, a maioria ainda não cumpriu. De acordo com dados do Climate Action Tracker, as promessas apresentadas até agora cobrem apenas 19% das emissões globais. Essa deficiência destaca a crescente lacuna entre as promessas atuais e o que a ciência diz ser necessário para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C. Como os países abordam essa lacuna em Belém determinará se a credibilidade do Acordo de Paris pode ser preservada uma década após sua assinatura.
Como a Adaptação Será Apresentada na COP30?
A adaptação, a preparação para os impactos das mudanças climáticas que não podem mais ser evitados, será um dos temas centrais em Belém. A tão esperada Meta Global de Adaptação (GGA) deve ser finalizada nesta COP. Ela visa estabelecer metas mensuráveis para resiliência, alinhar o financiamento com as necessidades do mundo real e criar uma estrutura para acompanhar o progresso. Como a adaptação deve responder às realidades locais, não existe um modelo único. Medidas que funcionam em regiões costeiras podem não ser adequadas para áreas montanhosas ou áridas. Muitos países estão instando os negociadores a garantir que o planejamento da adaptação incorpore sistemas de conhecimento locais e indígenas que ajudaram as comunidades a gerenciar as mudanças ambientais por gerações. Na Índia, por exemplo, variedades tradicionais de sementes, sistemas comunitários de captação de água e esforços de restauração de ecossistemas mostraram como o conhecimento local pode fortalecer a resiliência.
Quais Novas Propostas São Esperadas?
Uma das iniciativas mais acompanhadas na COP30 é a proposta Tropical Forests Forever Facility, que visa recompensar as nações das florestas tropicais por proteger seus ecossistemas em vez de explorá-los. Cerca de um quinto dos fundos iria diretamente para as comunidades indígenas e locais que desempenham um papel fundamental na conservação florestal. A iniciativa reflete um consenso crescente de que a ação climática e a proteção da biodiversidade devem avançar juntas, tornando a conservação florestal um pilar central do financiamento climático futuro. A cúpula também deve avançar no Roteiro Baku-Belém, que estabelece como a meta de financiamento anual de 1,3 trilhão de dólares para as nações em desenvolvimento poderia ser alcançada por meio de uma combinação de financiamento público e privado.
Qual é a Posição da Índia?
A Índia chega à COP30 com uma mensagem clara e consistente: justiça climática, equidade e responsabilidade devem permanecer no centro das negociações. Ela argumenta que as nações com a maior responsabilidade histórica pelas emissões devem liderar tanto na redução dos gases de efeito estufa quanto no fornecimento de financiamento confiável para as economias em desenvolvimento. Nas negociações de meio de ano em Bonn, a Índia coordenou o bloco G77 e China para pedir uma estrutura de financiamento justa e transparente sob o NCQG. O grupo busca garantias de que o financiamento será oportuno, acessível e baseado nas necessidades, em vez de considerações políticas ou de mercado. Em casa, a Índia integrou o orçamento verde no planejamento fiscal, emitiu títulos verdes soberanos para financiar projetos limpos e planeja lançar um mercado nacional de carbono até 2026 para incentivar indústrias de baixo carbono. Ela continua a equilibrar a ação climática com o crescimento econômico, enfatizando que o acesso à tecnologia, o desenvolvimento de capacidades e o financiamento acessível são essenciais para uma “transição justa” que apoie empregos e desenvolvimento, ao mesmo tempo em que reduz as emissões.
Existem Outras Decisões Chave na Agenda?
Os delegados também decidirão quem sediará a COP31. A Austrália, apoiada pelas nações do Pacífico, se candidatou para realizá-la em Adelaide, enquanto a Turquia continua sendo uma concorrente rival. Se nenhum consenso for alcançado em Belém, a reunião retornará a Bonn, na Alemanha, onde está localizada a secretaria do clima da ONU.
Quais Resultados São Prováveis?
Espera-se que a COP30 se concentre na finalização da estrutura NCQG, na definição de metas de adaptação mensuráveis, na redução da lacuna de emissões de 2035 e no reforço da conexão entre clima e biodiversidade. A cúpula também testará se o sistema internacional ainda pode funcionar em meio à fragmentação política e ao agravamento dos impactos climáticos. Com o mundo agora temporariamente acima do limite de 1,5°C, o que surgir de Belém mostrará se a diplomacia climática ainda pode transformar promessas em ação, ou se o futuro do planeta continuará a se afastar do controle.
📝 Sobre este conteúdo
Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
News18
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