O Chile se prepara para eleger seu próximo presidente e renovar o parlamento neste domingo, 17, em uma eleição que promete ser acirrada, com a direita buscando conquistar a preferência do eleitorado, explorando os medos relacionados à criminalidade e à imigração. Esta será a primeira de duas possíveis rodadas eleitorais presidenciais no país sul-americano, já que as pesquisas indicam que nenhum dos candidatos deve atingir os 50% dos votos necessários para evitar um segundo turno, agendado para 14 de dezembro. A eleição de domingo apresenta aos chilenos uma escolha dramática entre duas visões opostas: Jeannette Jara, 51, filiada ao Partido Comunista e ex-ministra do Trabalho, e José Antonio Kast, 59, advogado ultraconservador e ex-parlamentar que se posiciona contra o aborto e promete reduzir o tamanho do Estado. Com os eleitores preocupados com o aumento da criminalidade impulsionado por gangues, que atribuem a uma recente onda de imigração ilegal da Venezuela, a campanha eleitoral tem direcionado os principais candidatos, que possuem visões políticas distintas, para a questão da insegurança pública. Em uma estratégia política, a candidata comunista defendeu a restrição fiscal, enquanto o pai católico de nove filhos evitou mencionar valores familiares tradicionais. Ambos os candidatos afirmam que a prioridade máxima é combater grupos criminosos estrangeiros, como o 'Tren de Aragua', da Venezuela, cuja expansão no Chile tem causado sequestros, extorsões
e tráfico sexual, prejudicando a imagem do país, que antes era visto como mais seguro e estável que seus vizinhos. Rodolfo Disi, cientista político da Universidade Adolfo Ibáñez, no Chile, afirmou que os candidatos estão abordando temas de interesse dos eleitores, buscando conquistar o centro do espectro político. Nas pesquisas, atrás de Jara e Kast, aparecem Johannes Kaiser, 49, congressista e youtuber libertário, e Evelyn Matthei, 72, política de centro-direita. Com a direita dividida e a coalizão de centro-esquerda do presidente Gabriel Boric unida em torno de sua ex-ministra, a maioria dos especialistas acredita que Jara tem chances de vencer o primeiro turno. Boric não pode concorrer à reeleição. No entanto, uma vitória inicial de Jara não garante sua vitória em um segundo turno contra um adversário de direita que prometa uma postura mais firme em relação à segurança. Disi ressalta que, se Jara adotar uma postura mais dura em relação ao crime, a direita poderá se mostrar ainda mais rigorosa, o que pode ser desfavorável para a candidata. A obrigatoriedade do voto é uma variável importante nesta eleição, sendo a primeira vez na história do Chile que todos os cidadãos aptos a votar são obrigados a fazê-lo. O país reintroduziu o voto obrigatório recentemente, após ter abolido a prática em 2012. O registro eleitoral é automático, o que significa que milhões de pessoas que nunca se registraram, mesmo quando o voto era compulsório, votarão pela primeira vez em uma eleição presidencial. Aqueles que não votarem enfrentarão multas de até US$ 100. Analistas divergem sobre os possíveis impactos dessa mudança. Robert Funk, professor associado de ciência política na Universidade do Chile, destaca a importância dessa questão, considerando os 4 milhões de novos eleitores e questionando suas preferências políticas. O Chile também renovará toda a Câmara dos Deputados e parte do Senado no domingo. O país possui 15,7 milhões de eleitores elegíveis, dos quais mais de 800 mil são imigrantes com residência de cinco anos ou mais, isentos do voto obrigatório. As pesquisas indicam que os estrangeiros tendem a apoiar a direita, especialmente os venezuelanos que fugiram do governo socialista. No entanto, alguns imigrantes têm dúvidas sobre apoiar um candidato que promete prender e deportar seus compatriotas. Juan Pablo Sánchez, trabalhador de aplicativo de entrega que migrou da Venezuela há seis anos, expressou suas dúvidas sobre o apoio a Kast. Na área econômica, Jara propõe aumentar o investimento em infraestrutura e manter o controle da dívida pública. Para lidar com a crise do custo de vida no Chile, que em 2019 contribuiu para a agitação social, ela sugere uma renda mensal “vital” de US$ 800 por meio de subsídios e aumento do salário mínimo. Kast, seguindo o exemplo do presidente argentino Javier Milei, promete reduzir a folha de pagamento do setor público e diminuir os impostos corporativos, visando impulsionar uma economia estagnada. Ele planeja cortar mais de US$ 6 bilhões em gastos em 18 meses, algo que sua rival conservadora Matthei considera inviável. Matthei propõe um ajuste fiscal mais gradual, ao longo de quatro anos. Kaiser, buscando atrair eleitores mais radicais, promete cortar até US$ 15 bilhões em gastos e demitir 200 mil funcionários públicos. Todos os principais candidatos adotaram uma postura firme em relação à imigração ilegal. A população estrangeira no Chile dobrou desde 2017, com 1,6 milhão de imigrantes registrados no ano passado, em uma nação de 18 milhões de habitantes. Estima-se que 330 mil estejam em situação irregular no país. Kast propõe construir um muro na fronteira norte do Chile e deportar milhares de pessoas que entraram ilegalmente. Kaiser quer deter imigrantes indocumentados em campos de detenção e proibir seus filhos de frequentar a escola. Matthei propõe o uso de drones e o aumento das forças armadas na fronteira. Jara também busca reforçar sua imagem de linha dura contra o crime, prometendo construir novas prisões e expulsar estrangeiros condenados por tráfico de drogas. Essa eleição, com foco em lei e ordem, contrasta com a eleição presidencial de 2021, quando eleitores insatisfeitos com a desigualdade elegeram Gabriel Boric, que prometeu grandes mudanças sociais. No entanto, restrições econômicas e oposição legislativa limitaram as ambições de Boric. Alatina Velázquez, estudante que participou de um comício de Kaiser, expressou o desejo de um país melhor para ela e seus filhos, destacando a importância de poder sair à noite sem se sentir insegura.
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