Na última terça-feira, 28 de outubro de 2025, antes do sol nascer sobre as colinas do Rio de Janeiro, duas favelas na zona norte da cidade foram cercadas por tropas fortemente armadas. Carros blindados avançaram pelas ruas estreitas, e rajadas de tiros ecoaram pelas casas de tijolos. A operação contra a facção Comando Vermelho, que controla o tráfico de drogas na cidade, durou horas. Ao cair da tarde, as favelas se transformaram em zona de guerra: fumaça saía de carros em chamas, corpos jaziam em becos e uma névoa densa pairava sobre o local, onde moradores se escondiam em suas casas. Quando os dedos foram retirados dos gatilhos dos fuzis automáticos, 64 pessoas, incluindo quatro policiais, estavam mortas. Em poucas horas, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, apareceu diante das câmeras, saudando a operação como um “grande sucesso”, mesmo quando o Brasil entrava em debate sobre seu propósito e custo. Na manhã seguinte, alguns moradores das favelas subiram as colinas arborizadas na extremidade de sua comunidade. Era uma cena de horror: dezenas de corpos estavam espalhados nos arbustos — muitos jovens sem camisa, baleados na cabeça, outros com a garganta cortada e um corpo decapitado com a cabeça pendurada em uma árvore. No final do dia, voluntários carregaram os corpos para a praça principal da favela, onde mulheres desesperadas procuravam por seus filhos, irmãos e maridos. “Trouxemos um total de 80 corpos com nossas próprias mãos. Pedimos                                
                                                                    
                                    
                                        
                                             aos moradores que trouxessem lençóis, toalhas ou qualquer coisa que tivessem para ajudar nas remoções”, disse Erivelton Correa, presidente da associação comunitária, que representa os trabalhadores e pobres que vivem nessas áreas densamente povoadas. Oficialmente a operação policial mais mortífera da história do Brasil, que deixou 121 mortos, incluindo 115 supostos membros de gangues e 113 presos, dividiu o Brasil em linhas políticas e de classe. Uma pesquisa na sexta-feira revelou que 57% dos cidadãos do Rio aprovaram a operação, chamando-a de resposta necessária à violência das drogas, enquanto 38% a condenaram como brutal. Enquanto o governador do Rio saudou a operação como uma vitória contra o crime, centenas de moradores de favelas marcharam pelas vielas, carregando fotos dos mortos e gritando: “Não foi guerra, foi massacre”. Essas operações policiais não são novidade no Rio. A história da cidade é repleta de operações contra facções criminosas, que sempre deixam um rastro de corpos. Desta vez, a operação se tornou um ponto de conflito político importante, pois o Brasil está prestes a entrar em um ano eleitoral crucial. Enquanto o governador do Rio defendia sua operação como um ataque ao que chamou de “narcoterrorismo” — ecoando a retórica de Washington DC — os críticos rejeitaram sua ação como política cínica de um líder que enfrenta queda de popularidade e um processo judicial que pode impedi-lo de ocupar cargos públicos. Mas Castro, que viu um pequeno aumento em suas avaliações desde terça-feira, formou um “Consórcio da Paz” com outros cinco governadores de direita para “combater o narcoterrorismo” no Brasil. É difícil ignorar o momento da operação e as palavras escolhidas pelo governador do Rio e seus companheiros da direita. Coincidindo com o anúncio do presidente Lula da Silva de sua intenção de concorrer à presidência novamente em 2026, a linguagem da “guerra ao narcoterrorismo” despertou suspeitas. Com Lula liderando todas as pesquisas e o ex-presidente Jair Bolsonaro afastado por condenações por tentativa de golpe, os aliados do presidente na esquerda veem a operação no Rio como uma tentativa de desviar o foco das conquistas do governo Lula para sua suposta leniência com o crime. “O consórcio que os governadores anunciaram não é um consórcio da paz — é o consórcio de Trump. Eles querem instigar a intervenção estrangeira”, disse Guilherme Boulos, ministro federal da Secretaria da Presidência em Brasília. Há um histórico para essa crítica. Em maio, o Brasil rejeitou a pressão dos EUA para rotular o Comando Vermelho e o PCC, outra grande facção criminosa, como organizações terroristas — rejeitando a tentativa da administração Trump de vincular gangues latino-americanas à imigração e ameaças à segurança. Com um navio da Marinha dos EUA agora rondando as águas do Caribe e barcos venezuelanos sendo explodidos quase diariamente, o espectro do “narcoterrorismo” assumiu um novo significado para o Brasil — e para toda a região. Um dia após a operação no Rio, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, deixou clara a posição do governo brasileiro: “Terrorismo sempre envolve um elemento ideológico — é uma ação política, com repercussões sociais… Facções criminosas, por outro lado, cometem sistematicamente crimes definidos no Código Penal. É muito fácil identificar o que constitui uma facção criminosa”, disse ele no Rio, enquanto o governador Castro observava. O governo Lula pode ter se posicionado sobre a questão do narcoterrorismo, mas certamente tem sido pressionado a agir contra o crime organizado. Na sexta-feira, o presidente Lula assinou o Projeto de Lei Anti-Facções, projetado para fortalecer o poder do Estado de desmantelar organizações criminosas que controlam territórios e atividades econômicas. A proposta será encaminhada ao Congresso Nacional para análise urgente. Ao assinar o projeto, Lula disse que combater grupos criminosos era uma prioridade máxima de seu governo. “Mostraremos como enfrentar essas facções que sobrevivem explorando os mais pobres deste país”, declarou. De agora até as eleições do próximo ano, Lula enfrenta a delicada tarefa de afirmar sua autoridade sobre o crime organizado sem prejudicar os pobres ou perturbar a classe média urbana, e sem entregar a narrativa ao chamado “consórcio da paz”. Analistas acreditam que a oposição pode ter agido muito cedo. “Se há algo positivo na tragédia, é que a direita pode ter agido muito rápido. Ao revelar sua estratégia cedo, deu a Lula e à coalizão pró-democracia tempo para elaborar uma contraofensiva”, disse Miguel de Rosário, comentarista político baseado no Rio. Com o novo projeto de lei contra o crime, Lula busca recuperar o controle da narrativa de segurança — mesmo que seu governo aposte que a baixa inflação e o aumento dos salários atraiam mais votos do que o medo nas eleições do próximo ano.                                        
                                        
                                                                                    
                                                
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