As vendas do comércio varejista no Brasil apresentaram um aumento de 0,2% em agosto deste ano, encerrando uma sequência de quatro meses de resultados negativos. Os dados foram divulgados na quarta-feira, 15 de outubro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do crescimento, economistas e analistas de mercado consultados pela reportagem do Metrópoles adotaram uma postura cautelosa ao analisar os dados do setor em agosto. Segundo eles, ainda não é possível prever uma recuperação completa do varejo, que tem desacelerado, assim como outros segmentos da economia brasileira. Conforme o levantamento do IBGE, o volume de vendas do comércio varejista subiu 0,2% em agosto, em comparação com julho, na série com ajuste sazonal. A média móvel trimestral apresentou estabilidade (variação de 0%). Em relação ao mesmo período do ano passado, o volume de vendas do varejo cresceu 0,4%, sendo esta a quinta taxa positiva consecutiva. No acumulado deste ano, a alta é de 1,6%. Já no acumulado de 12 meses, o crescimento foi de 2,2%. No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, peças, material de construção e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas aumentou 0,9% em agosto, em comparação com julho. A média móvel registrou queda de 0,3%. Em relação a agosto de 2024, houve recuo de 2,1%. No ano, o varejo ampliado acumula uma retração de 0,4%. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 0,7%.
André Valério
, economista sênior do Banco Inter, afirmou que, "Apesar da alta disseminada, a recuperação foi insuficientemente fraca no geral e não impediu o arrefecimento do volume de vendas em 12 meses, com seis das dez atividades indicando moderação na atividade conforme essa métrica, enquanto duas atividades entre as exceções (livrarias e informática/comunicação) já se situam em contração". Valério também destacou que "O resultado do mês, ajustado pela sazonalidade, apresentou alta em sete das dez categorias pesquisadas, com forte crescimento nas vendas de informática e comunicação, que, porém, não compensaram a queda acumulada nos dois meses anteriores. O setor de supermercados registrou a primeira alta no volume de vendas desde março e foi a maior contribuição para o crescimento das vendas restritas, com 0,2 ponto percentual". Para o economista, "a leitura do mês, embora melhor do que as de meses recentes, não constitui o mesmo ruído visto nas surpresas de atividade que ocorreram em abril e solidifica a tendência de moderação no crescimento econômico que se estabeleceu desde janeiro com os impactos defasados da política monetária que deve se manter em patamares restritivos por tempo prolongado". "Dito isso, as leituras dos próximos meses merecem cautela, visto que uma intensificação do arrefecimento na atividade pode incentivar o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] a iniciar um ciclo mais proativo de cortes da Selic no ano que vem", completou.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, compartilhou uma avaliação semelhante sobre o desempenho do comércio varejista. "Apesar do desempenho positivo em agosto, os dados divulgados nos últimos meses mostram que o varejo vem perdendo força ao longo de 2025. Os números mais fracos vêm, principalmente, de segmentos sensíveis ao crédito, que são impactados pela Selic em patamar elevado, como veículos, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos", observou. "Diante desse cenário, nossa projeção é a de que as vendas no varejo ampliado fechem o ano praticamente estáveis, sem grandes variações em relação a 2024. Vale lembrar que, no ano passado, o setor cresceu 3,7%", destacou Moreno. Segundo a economista do C6, "o desempenho do varejo ao longo de 2025 reforça a projeção de que a economia brasileira como um todo deve crescer menos do que em 2024". "Essa perda de fôlego é reflexo dos juros altos, que tendem a impactar os investimentos e o consumo. Nossa expectativa é que o PIB cresça 2% em 2025 e 1,5% em 2026, impulsionado pelos estímulos promovidos pelo governo, como o aumento de gastos, a liberação de recursos do FGTS para os trabalhadores e o incentivo à concessão de crédito", avalia.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, afirmou que, embora os segmentos mais ligados à renda continuem demonstrando resiliência, "o grande destaque dos últimos dois meses tem sido o impulso dos setores mais dependentes do crédito, especialmente os de bens duráveis". "Esse movimento pode ter sido favorecido pela isenção do IPI para carros zero quilômetro", destacou. "Olhando à frente, a expectativa é de desaceleração no ritmo de expansão do comércio, refletindo a retirada dos estímulos de crédito, além dos efeitos ainda presentes da inflação e dos juros elevados. Apesar desse cenário mais desafiador, projetamos que a perda de dinamismo será relativamente moderada. Fatores como o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial ainda robusta devem continuar sustentando o consumo das famílias. Mantemos, assim, a projeção de crescimento de 2% para o setor em 2025", projeta Cadilhac.
O economista Maykon Douglas classificou o resultado do varejo em agosto como "favorável". "Mostrou uma composição melhor. Assim como no caso dos serviços, parece haver um efeito pontual positivo que decorre do pagamento dos precatórios no meio do ano. A difusão aumentou e voltou à média histórica, ou seja, as altas mensais têm se disseminado um pouco mais na margem", disse. "Porém, o varejo continua em desaceleração em relação aos meses anteriores. A parte mais sensível ao crédito subiu pelo segundo mês consecutivo, após três meses consecutivos de queda, mas acumula uma queda anual de 2,5%. Isso mostra como o setor vem sentindo o impacto dos juros altos, impacto este que ainda será observado nos próximos meses", concluiu o economista.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Metropoles
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