O Paraná enfrentou um dos eventos climáticos mais severos de sua história recente na sexta-feira, 7 de setembro. Um tornado causou a morte de pelo menos seis pessoas e deixou 773 feridos na região centro-oeste do estado. A cidade de Rio Bonito do Iguaçu, com aproximadamente 14 mil habitantes, localizada a cerca de 380 quilômetros de Curitiba, foi severamente afetada pelos fortes ventos. Sheila Paz, meteorologista do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), explicou as causas, a magnitude e as implicações climáticas do tornado. Ela detalhou que uma frente fria, combinada com a formação de um ciclone na costa do Rio Grande do Sul, resultou em supercélulas de tempestade, que por sua vez geraram o tornado.
O Simepar ainda está investigando o evento, mas a meteorologista confirmou que três tornados foram registrados no estado entre as 18h e as 20h de sexta-feira. O mais intenso atingiu Rio Bonito do Iguaçu, com ventos estimados em 250 km/h, classificado como F3 na escala Fujita, que mede a intensidade dos tornados. "É um tornado extremamente violento e devastador, o pior evento de tempestade da história recente do Paraná", afirmou Sheila, ressaltando que cerca de 80% da cidade foi impactada. Os ventos causaram destelhamento de casas, queda de árvores e postes.
Sheila explicou que tornados não são incomuns na região. "Eles fazem parte da nossa climatologia. O que aconteceu foi que esse passou exatamente sobre uma cidade pequena, o
que fez o estrago ser amplamente sentido", disse. Ela observou que eventos semelhantes frequentemente ocorrem em áreas rurais, sem causar danos significativos ou serem notados.
Segundo a meteorologista, a primavera é uma estação particularmente crítica, caracterizada pela passagem de frentes frias e tempestades intensas. "Nos últimos dois meses, tivemos várias tempestades severas no Paraná e em toda a região Sul. Estamos vivendo uma temporada muito movimentada", afirmou.
Os temporais na região estão associados a uma combinação de fatores, incluindo o movimento de uma frente fria impulsionada por um sistema de baixa pressão atmosférica formado entre o Paraguai e o sul do Brasil, enquanto um ciclone extratropical se desloca do continente para o oceano. "Observamos o avanço de uma frente fria associada a um ciclone bem estruturado entre o litoral gaúcho e o Atlântico. À frente dessa frente fria, se formaram células de tempestade que evoluíram para supercélulas. Dentro delas, houve a formação dos tornados", explicou Sheila.
O evento desta semana foi agravado por um ambiente atmosférico instável, com "grande corredor de umidade e temperaturas elevadas" no interior do estado, que favoreceu o surgimento de supercélulas. "O ciclone trouxe umidade e energia em excesso e, quando encontrou calor no interior, criou as condições ideais para a formação desses sistemas", explicou.
Sheila esclareceu as diferenças entre tornado, ciclone e furacão. "O furacão é um sistema gigantesco, com centenas de quilômetros de extensão, formado sobre oceanos tropicais. Ele mantém ventos muito fortes por horas ou dias, como o furacão Melissa, que passou pela Jamaica recentemente", afirmou. "Já o tornado tem dezenas de metros de diâmetro, forma-se dentro de uma supercélula e dura poucos segundos ou minutos. No caso do Paraná, a destruição observada ocorreu em cerca de 30 segundos." O ciclone, por sua vez, é uma área de baixa pressão atmosférica, que pode dar origem a uma frente fria e tempestades severas, como as que atingiram o Paraná. "O ciclone que se formou na costa do Rio Grande do Sul ajudou a organizar a frente fria, que por sua vez criou o ambiente propício às supercélulas. Dentro delas, surgiram os tornados", explicou.
Sheila lembrou que o Brasil só registrou um furacão verdadeiro em sua história: o Furacão Catarina, em 2004, que atingiu o litoral de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. "Furacões não pertencem à nossa climatologia, mas supercélulas e tornados sim", explicou.
Embora tornados façam parte da climatologia do Sul, Sheila reconhece sinais de mudança. "Os estudos mais recentes indicam aumento da intensidade e da frequência. Esses fenômenos sempre existiram, mas hoje acontecem com mais força e são registrados com mais facilidade. Essa chavinha já virou."
Para a meteorologista, a situação no Paraná se soma a um quadro mais amplo de eventos extremos na região. "O que vimos no Rio Grande do Sul no ano passado mostra que o clima está mudando. Temos tempestades mais severas, mais destrutivas, e isso exige preparo e investimento em monitoramento", disse. A meteorologista enfatiza que, diante de um cenário climático mais severo, a educação da população e o aprimoramento dos sistemas de alerta são cruciais. "É essencial que as pessoas saibam como agir diante de uma tempestade. Alertas precisam chegar com antecedência e a população precisa entender a gravidade desses eventos. Só assim conseguiremos reduzir o impacto humano e material."
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