A Polícia Federal, após assumir o controle da segurança de autoridades, decidiu solicitar o ressarcimento de despesas ao governo Lula e ao Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo é recuperar os gastos da corporação. Em setembro, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, pediu ao ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança) que buscasse recursos de órgãos públicos para cobrir os R$ 2 milhões gastos em diárias e passagens no primeiro semestre de 2025, conforme um documento obtido pela Folha. No mesmo documento, Rodrigues ressalta que a PF recebeu "grandes obrigações e responsabilidades" em relação à segurança pública, mas que os recursos disponíveis não acompanham a ampliação de suas atividades. Desde o início do terceiro mandato de Lula, em 2023, a PF tem realizado tarefas antes sob responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para proteger autoridades. Essa mudança reflete a desconfiança da gestão petista sobre o alinhamento dos militares do GSI com Bolsonaro. Para diminuir a tensão e evitar questionamentos legais, o governo criou, em outubro do mesmo ano, a Diretoria de Proteção à Pessoa (DPP) da PF e estabeleceu um modelo híbrido de segurança presidencial e de autoridades, coordenado pelo GSI. A PF passou a recrutar agentes da Força Nacional de Segurança Pública, além de outros setores, para atender à demanda por proteção de autoridades. O governo ainda considera abrir delegacias e núcleos de segurança ligados
à DPP em todos os estados. A disputa pela segurança da cúpula do governo faz parte de uma série de conflitos entre a PF e outras instituições, como Exército, Polícia Rodoviária Federal, Abin e Ministério Público. Investigações de integrantes de outros órgãos, tentativas de ampliar poderes e a disputa por espaço próximo ao presidente da República são algumas das causas desses conflitos. No documento em que solicitou o ressarcimento a Lewandowski, o diretor-geral da PF afirmou que essa seria uma "alternativa" para continuar a atender às demandas por segurança de autoridades, "no intuito de superar o contingenciamento de gastos e reunir os esforços necessários à concretização dessas ações tão caras à democracia do país". Questionada sobre o pedido ao governo, a Polícia Federal informou que executa normalmente as atividades de segurança de autoridades. "Informações como orçamento, quantidade de recursos humanos, tipos de armamento, equipamentos empregados, estratégias e protocolos de atuação são mantidas sob sigilo, uma vez que sua divulgação poderia comprometer a segurança das pessoas protegidas e prejudicar o desempenho das ações", declarou o órgão. O diretor-geral da PF solicitou o ressarcimento dos valores gastos para proteger os ministros Ricardo Lewandowski, Anielle Franco (Igualdade Racial), Marina Silva (Meio Ambiente), Sonia Guajajara (Povos Indígenas), além de Nísia Trindade e Alexandre Padilha (ex e atual chefes da Saúde). A PF também cobra pela segurança do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e dos ministros Flávio Dino, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, do STF. Os documentos enviados por Andrei ao Ministério da Justiça detalham viagens e eventos nacionais e internacionais acompanhados pela PF, além dos valores gastos com as viagens dos agentes. As despesas citadas pela PF incluem cerca de R$ 170 mil para acompanhar Dino em viagem à Itália nas duas primeiras semanas de janeiro deste ano, período sem atividades de trabalho registradas na agenda oficial do ministro do STF. Há também cobranças menores, como R$ 7.000 pela proteção de Nísia durante uma viagem de trabalho do Ministério da Saúde de quatro dias ao Rio Grande do Sul. Após negociação com o Ministério da Justiça, a PF concordou em conduzir a cobrança diretamente aos órgãos. O ministério comandado por Lewandowski mencionou que parte do ressarcimento pode ser feita por meio de uma suplementação de R$ 30 milhões de seu orçamento, já solicitada pela PF ao governo. "Restou acordado que as gestões relativas a eventual ressarcimento sejam conduzidas pela própria Polícia Federal", afirma um documento da área de planejamento e orçamento do ministério. A decisão de criar uma diretoria própria na PF para a proteção de autoridades também ocorreu após um ano eleitoral marcado por violência contra líderes políticos, além da articulação golpista pela qual foram condenados o ex-presidente Jair Bolsonaro e militares. A segurança pessoal de autoridades também ajuda a PF a ter maior interlocução política com o governo. Foi ao proteger Lula durante a campanha, por exemplo, que Andrei se aproximou do presidente e foi escolhido diretor-geral da PF. Antes dele, o delegado da PF Alexandre Ramagem se aproximou do ex-presidente Jair Bolsonaro ao coordenar a segurança do então candidato. Ele foi nomeado diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) posteriormente e, depois, concorreu a deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro. A Diretoria de Proteção à Pessoa lida com a "segurança de dignitários estrangeiros em visita ao país" e também autoridades brasileiras que solicitam esses serviços, de acordo com um decreto presidencial. O órgão também atua na segurança de Lula e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, sob coordenação do GSI. O mesmo decreto afirma que a PF pode atuar na segurança pessoal de autoridades federais "excepcionalmente" e quando houver determinação do ministro da Justiça. Ao cobrar o ressarcimento pela segurança das autoridades, a PF destaca justamente o aumento de seu escopo de atuação após a criação da nova diretoria. Documentos obtidos pela reportagem também mostram que o governo avalia uma nova expansão na estrutura de proteção a autoridades da PF. A ideia é criar delegacias de "segurança de dignitários" em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, além de núcleos de segurança dessas autoridades em todos os demais estados. "A medida busca conferir maior capilaridade administrativa e operacional às atividades de proteção, hoje concentradas em poucas unidades, garantindo resposta célere e uniforme às crescentes demandas relacionadas a autoridades federais, dignitários estrangeiros e candidatos à Presidência da República em período eleitoral", afirma o Ministério da Justiça, em um documento que faz parte da discussão do governo.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Folha
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