Em um cenário onde as ideologias políticas tradicionais perdem força, as religiões ressurgem com vigor. A homogeneização cultural promovida pelo liberalismo com a agenda 'Woke', somada à ascensão do Islã radical, impulsiona as sociedades e nações ocidentais a buscar proteção espiritual. Uma constatação aparentemente 'paradoxal' é a crescente adesão de jovens ao cristianismo, especificamente à Ortodoxia.
Nos Estados Unidos, nos últimos anos, observa-se um aumento notável de conversões à Ortodoxia. Essa tendência é atribuída ao cansaço em relação ao viés liberal da maioria das igrejas protestantes e à procura por 'estabilidade, tradição e autenticidade espiritual'. Muitos americanos, desiludidos com a cultura 'woke', o relativismo e o abandono de valores tradicionais como família, fé e trabalho, voltam-se para a Igreja Católica e, ainda mais, para a Ortodoxia, considerada a mais resistente às revisões modernistas.
A Igreja Ortodoxa Grega de São Jorge em Des Moines, Iowa, EUA, assim como muitas outras paróquias no centro-oeste americano, vivencia um notável aumento na participação dos fiéis – especialmente jovens adultos de 20 a 35 anos –, marcando um renascimento da presença ortodoxa nos Estados Unidos. Paralelamente, a Metrópole de Chicago registrou o maior número de batismos desde 2016 (1.045) e crismas (420) desde 2009, indicando uma onda mais ampla de renascimento espiritual no espaço greco-ortodoxo dos Estados Unidos.
Sacerdotes
e pesquisadores ortodoxos relatam um aumento explosivo de novos fiéis: as conversões aumentaram 78% em 2022 em comparação com os níveis pré-pandemia, e a partir de 2020, os homens superam em número os novos membros, sinalizando uma 'crise de masculinidade' que leva muitos a buscar estruturas espirituais mais rígidas. Recentemente, a Fox News mencionou o ressurgimento do cristianismo nos Estados Unidos, com as vendas da Bíblia disparando mais de 40%.
A chamada 'e-Ortodoxia', ou seja, a presença online de ortodoxos por meio de podcasts, blogs e mídias sociais, explodiu. Personalidades como Andrew Tate, The Prudentialist ou padres com forte presença nas redes sociais promovem a Ortodoxia como refúgio contra a desconstrução de identidades. Paralelamente, essa tendência está frequentemente associada a visões conservadoras ou nacionalistas e ao movimento MAGA do presidente dos EUA, Donald Trump. Ao mesmo tempo, alguns acadêmicos alertam que a Ortodoxia nos EUA corre o risco de se transformar de um movimento espiritual em um veículo para as guerras culturais americanas.
De acordo com os dados disponíveis, a Igreja Ortodoxa na América tem cerca de 750.000 fiéis ativos, com o maior grupo sendo greco-ortodoxo (cerca de 375.000) e o segundo a comunidade de origem russa. Cerca de 28% dos adultos americanos mudaram sua identidade religiosa, ou seja, 73 milhões de pessoas, e a maioria delas vem de ambientes protestantes e agora se volta para o catolicismo ou a Ortodoxia. Para muitos, essa mudança não é apenas religiosa, mas também uma reação cultural a uma sociedade que, acreditam, perdeu suas raízes tradicionais.
Uma grande parcela de jovens nos EUA adere à Igreja Ortodoxa Russa (ROCOR), buscando uma forma de cristianismo 'tradicional' e 'masculina'. O Texas agora possui uma paróquia próspera com o triplo de fiéis em apenas 18 meses e grande alcance online. Seus seguidores condenam tudo o que consideram 'efeminado' e promovem a Ortodoxia como uma religião de disciplina, força e fertilidade, incentivando os casais a rejeitar contraceptivos e ter muitos filhos. Os novos convertidos, frequentemente homens de 20 a 40 anos, são ex-protestantes ou ateus que se dizem desiludidos com o cristianismo ocidental 'efeminado' e a postura 'hostil' da sociedade em relação aos homens. Muitos optam pela educação domiciliar para seus filhos, a fim de evitar questões como gênero e sexualidade nas escolas. A ROCOR, fundada por padres russos após a Revolução de 1917, é considerada a rede ortodoxa mais conservadora nos EUA. Embora os ortodoxos representem apenas 1% da população, a participação masculina aumentou dramaticamente (64% em 2025 contra 46% em 2007).
Nos EUA, cada vez mais jovens, geralmente com convicções conservadoras, se voltam para a Ortodoxia em busca de uma forma de cristianismo tradicional e 'exigente'. O contato geralmente ocorre por meio do YouTube/podcast (Orthodox Ethos, Ancient Faith Radio, Padre Spyridon Bailey, etc.). Embora os ortodoxos representem 1% da população, padres e pesquisadores descrevem um aumento significativo nas conversões após a pandemia, com predominância de homens (relatos de ~60%). A internet cultiva uma 'cultura ortodoxa paralela' com os 'Orthobros', onde aparecem elementos duramente anti-ecumênicos. Nesse contexto, começou a florescer o que muitos agora chamam de 'cristianismo cultural' como meio de evangelização e transformação social. O cristianismo cultural, segundo seus defensores, como Jordan Pederson ou até Elon Musk, é uma 'chama gentil' que ainda pode levar as almas de volta à fé.
A Ortodoxia na Alemanha está passando por um período de forte crescimento e está mudando de 'religião da diáspora' para uma parte integrante do tecido cultural alemão. De acordo com dados da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD), em 2024, havia cerca de 3,8 milhões de cristãos ortodoxos no país, enquanto o bispo Emmanuel Christopoulos do Patriarcado Ecumênico eleva o número para 4 milhões, ou seja, quase 5% da população. Um fator decisivo para essa ascensão foi a migração em massa de ucranianos após 2022, pois a maioria dos mais de 1,3 milhão de refugiados pertence à Igreja Ortodoxa. Muitos se juntam às paróquias existentes de várias jurisdições – sérvias, russas, romenas ou gregas – enquanto novas comunidades ucranianas são estabelecidas. No entanto, o crescimento não se limita aos imigrantes: cada vez mais alemães estão abraçando a Ortodoxia, com a criação de paróquias e mosteiros de língua alemã, que operam em alemão. O florescimento da Ortodoxia contrasta fortemente com a crise das igrejas tradicionais: a Igreja Católica agora tem 19,8 milhões de membros, enquanto a Evangélica tem 18 milhões, com centenas de milhares de saídas anuais. Menos da metade dos alemães agora se declaram cristãos, em comparação com 70% em 1991. A Ortodoxia de língua alemã ultrapassou os limites da diáspora e é uma parte essencial da identidade alemã moderna, moldando cada vez mais o cenário religioso e cultural do país.
Alguns jovens ortodoxos expressam admiração por Putin como defensor dos valores cristãos. Putin transformou a Ortodoxia em um eixo ideológico central do moderno regime autoritário russo, restaurando a tríade czarista 'Ortodoxia - Império - Nacionalidade' do Conde Sergey Uvarov (1833) como doutrina estatal. O uso da Ortodoxia não é teológico, mas político e etno-nacional: funciona como uma ferramenta para legitimar o poder, a expansão militar e a oposição ao Ocidente. Putin apresenta a Rússia como portadora de 'valores tradicionais', opondo a 'identidade espiritual' russa ao 'declínio liberal' da Europa. As emendas de 2020 à Constituição russa e o decreto presidencial de 2022 sobre os 'valores espirituais e morais tradicionais russos' institucionalizam essa conexão, transformando a Igreja em um braço ideológico do Estado.
A participação de jovens nos grupos juvenis greco-ortodoxos da Austrália está crescendo constantemente, oferecendo um espaço de fé, amizade e renovação mental para pessoas de 16 a 35 anos. De acordo com um relatório do Greek Herald, grupos como 'Parea' em Camberra e Kogarah Orthodox Youth (KOY) em Sydney estão prosperando nos últimos anos. O padre Petros, padre da igreja de São Nicolau em Camberra, explica que 'Parea' funciona como uma companhia informal e amigável de jovens que discutem questões de fé, jejum, perdão e tradição eclesiástica. 'Não é apenas uma aula de catequese; é uma comunidade de amor e diálogo', enfatiza. As reuniões acontecem a cada duas terças-feiras, oferecendo orientação espiritual, mas também apoio social.
Em Sydney, a KOY reúne jovens de 16 a 28 anos por meio de serviços em inglês, estudos bíblicos e palestras.
Por outro lado, aqueles que criticam a mudança para a Ortodoxia, principalmente do protestantismo, a consideram uma 'religião de incenso e imperadores' estática, mística e controlada pelo Estado, em contraste com a fé 'viva, reformadora e livre' do Ocidente. Eles afirmam que o interesse dos jovens pela Ortodoxia é uma moda perigosa e uma ilusão que confunde o rigor estético com a força espiritual, enquanto na realidade, eles acreditam que a Ortodoxia nunca gerou liberdade, reforma ou prosperidade.
O Sheikh Imran N. Hosein é talvez o estudioso muçulmano contemporâneo mais influente que reviveu a interpretação teológica e geopolítica da Malhama al-Kubrā – a 'Grande Batalha' da escatologia islâmica – conectando-a com Constantinopla e a Rússia. Com estudos em filosofia, economia e relações internacionais e uma carreira como diplomata antes de se voltar para a teologia, Hosein apresenta uma narrativa anti-ocidental, onde muçulmanos e cristãos ortodoxos (que ele identifica com os 'romanos' da profecia) se aliarão contra o Ocidente sionista na Grande Batalha. Ele considera Moscou a 'Nova Roma' e Constantinopla a 'Velha Roma', e por meio de suas palestras – principalmente na Malásia, Rússia e Turquia – ele influenciou profundamente as narrativas islâmicas anti-ocidentais e pró-Rússia, o que o torna o escatologista islâmico mais conhecido no mundo de língua inglesa.
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