Michael Sandel, renomado filósofo político e professor na Universidade Harvard, conhecido por seu curso sobre justiça acessível online a milhões, aborda temas cruciais em uma entrevista recente. Sandel, que recebeu o Prêmio Berggruen de Filosofia e Cultura em 2025, discute as origens da ascensão de Donald Trump ao poder, a crise no ensino superior americano e a meritocracia nos Estados Unidos e na China.
A entrevista explora a explicação para o crescimento de Trump e do movimento “Make America Great Again”. Sandel observa que a ascensão de Trump reflete o desamparo sentido por muitos cidadãos, com suas vozes sendo ignoradas e a erosão da moralidade comunitária. Adicionalmente, a crescente divisão entre vencedores e perdedores, intensificada pela globalização, tem envenenado a política e acentuado desigualdades. Aqueles que prosperaram na globalização frequentemente acreditam que seu sucesso é mérito próprio, menosprezando aqueles que lutam. Trump capitaliza essa raiva, ressentimento e humilhação, especialmente entre aqueles sem diplomas universitários, que se sentem desprezados pelas elites. O filósofo aponta que a presidência de Trump impacta o mundo com uma postura mais conflituosa em relação a rivais e aliados, adotando uma abordagem transacional. Isso começa a mudar a percepção global dos Estados Unidos. A democracia está em perigo, em parte, porque Trump busca expandir o poder executivo além das restrições constitucionais e controlar
a sociedade civil, incluindo empresas de advocacia, universidades e mídia.
Sandel argumenta que a polarização política nos EUA, exacerbada pelas atitudes de Trump, tem raízes profundas na crescente divisão entre vencedores e perdedores e na sensação de abandono da classe trabalhadora durante a globalização. Os ganhos econômicos da globalização beneficiaram principalmente uma parcela da população, enquanto a maioria experimentou estagnação salarial e perda de empregos. Além da desigualdade econômica, houve uma crescente desigualdade de respeito e reconhecimento social. O filósofo ressalta que a polarização foi amplificada por Trump, mas não criada por ele. Ele explora a necessidade de diálogo construtivo e respeito mútuo para superar as divisões. Sandel propõe a criação de fóruns públicos para debate e deliberação, onde os cidadãos possam ser ouvidos e aprender a dialogar com respeito, cultivando a arte da escuta. As instituições educacionais, incluindo o ensino superior, precisam preparar os alunos para o diálogo, e a sociedade civil deve ser reparada, criando espaços comuns para interação entre pessoas de diferentes origens.
Em relação ao ensino superior, Sandel enfatiza que as universidades devem servir ao bem público, contribuindo para uma vida cívica saudável. Ele critica a pressão competitiva para entrar em universidades de elite, que prejudica o bem-estar emocional e a saúde mental dos jovens. Ele defende que as universidades se concentrem menos na competição e mais nos valores intrínsecos da educação, como autoexploração, ensino e aprendizado, raciocínio crítico e educação cívica. Sandel também aborda a crise das humanidades e das ciências sociais nas universidades, destacando a necessidade de expor todos os alunos, independentemente de sua área de estudo, às artes liberais e às humanidades, para criar pessoas completas e promover a vida cívica.
Sandel compartilha suas experiências na China, onde palestrou em diversas universidades. Ele notou que os estudantes chineses, em geral, demonstram uma postura pró-mercado similar à dos estudantes americanos. No entanto, muitos chineses expressam preocupações com a desigualdade. Em relação à meritocracia, Sandel discute a competição acirrada para admissão em universidades na China e nos EUA, que gera pressão nos jovens. Ele propõe um sistema de loteria para admissão, após uma seleção inicial, como uma forma de tornar o processo mais justo e menos prejudicial à saúde emocional dos jovens.
Sandel distingue a meritocracia em governos entre a expertise tecnocrática e o caráter moral e a virtude. Ele argumenta que, idealmente, os governantes deveriam ter tanto mérito técnico quanto virtude e a capacidade de deliberar sobre o bem comum. Ele também observa semelhanças entre a China e os países ocidentais em relação ao populismo e ao nacionalismo, destacando os perigos de uma crescente polarização e xenofobia.
Finalmente, Sandel analisa a crescente rivalidade entre China e Estados Unidos, enfatizando a necessidade de cooperação e aprendizado mútuo, além da competição econômica e geopolítica. Ele destaca a importância de aprender sobre as tradições culturais e filosóficas de cada país, promovendo o entendimento mútuo para um futuro mais seguro e próspero. Sandel expressa esperança na expansão do diálogo e do aprendizado mútuo entre os cidadãos dos dois países.
📝 Sobre este conteúdo
Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Scmp
. O texto foi modificado para melhor atender nosso público, mantendo a precisão
factual.
Veja o artigo original aqui.
0 Comentários
Entre para comentar
Use sua conta Google para participar da discussão.
Política de Privacidade
Carregando comentários...
Escolha seus interesses
Receba notificações personalizadas