A região sul de Minas Gerais, notadamente nas cidades de Poços de Caldas e Caldas, ambas com foco na mineração, atrai a atenção devido à concentração sem precedentes de elementos de terras raras, cruciais para tecnologias de transição energética e a indústria militar. Em meio a disputas comerciais globais, duas empresas australianas, Meteoric e Viridis, estão investindo na exploração desses recursos, mas as comunidades locais expressam preocupações sobre os impactos ambientais. Em julho, o presidente Lula da Silva enfatizou a soberania brasileira sobre seus minerais, um posicionamento que ressoa com as apreensões dos ativistas ambientais da região. A Meteoric, em parceria com a empresa canadense Ucore, que tem ligação com o Departamento de Defesa dos EUA, planeja iniciar a mineração já no próximo ano. Os elementos de terras raras são essenciais para a fabricação de superímãs usados em veículos elétricos e turbinas eólicas, mas também em armas, como mísseis e drones militares. A Agência Pública questionou a Meteoric sobre a possibilidade de uso desses elementos em armas, e a empresa admitiu não ter controle sobre o destino do concentrado. Moradores de Caldas e Poços de Caldas questionam a mera exportação desses minerais, similar ao que ocorre com o minério de ferro, defendendo a necessidade de uma indústria de alta tecnologia que abranja toda a cadeia de produção. Além da Ucore, a Meteoric tem um contrato com a Neo Performance Materials
, sediada na Estônia, para processar os elementos em superímãs. O geólogo Álvaro Fochie, descobridor da jazida, apoia os projetos, mas compartilha das preocupações, defendendo a criação de toda a cadeia produtiva no Brasil. A extração de elementos de terras raras, geralmente com baixas concentrações, envolve a separação e concentração desses elementos. Fochie descobriu a jazida em 2011, quando a China restringiu as exportações desses minerais, elevando os preços globalmente. A China, maior produtora, detém mais de 90% da produção mundial de superímãs. A extração na região de Caldas, conhecida pela presença de minerais críticos desde a década de 1930, é economicamente desafiadora. Fochie e seu sócio, Lívio Togni, da Togni S/A, confirmaram a existência de uma jazida de argila iônica com elementos de terras raras após anos de pesquisa. Diante da falta de tecnologia no Brasil, buscaram parcerias estrangeiras, culminando na venda de direitos de mineração para a Meteoric em 2022. A Meteoric e a Viridis planejam investir cerca de R$ 2 bilhões e gerar milhares de empregos, com a expectativa de extrair 800 milhões de toneladas de argila ao longo de 13 anos. A área com potencial de mineração abrange 420 km², cerca de um terço da área combinada de Poços de Caldas e Caldas. Líderes comunitários e autoridades locais, como João Carlos Landi e Douglas Souza, expressam preocupações sobre o impacto da mineração, incluindo riscos à segurança hídrica e a proximidade com uma antiga usina nuclear. Nelson Henrique Filho, líder comunitário, questiona como a mineração afetará o abastecimento de água, em um cenário de escassez hídrica. A Viridis, em seu estudo de impacto ambiental, reconhece o risco de seca na região. A Meteoric admite possíveis alterações na qualidade da água. José Marques, diretor executivo da Viridis, afirma que a água será tratada e reutilizada. A Meteoric planeja monitorar as fontes de água. O método de extração planejado, a lixiviação de argila iônica, é considerado menos agressivo. Gisele Azimi, da Universidade de Toronto, explica que o processo pode ser seguro, dependendo do projeto e dos materiais utilizados. A China, que domina a produção global, sofreu danos ambientais significativos com a mineração, incluindo escassez de água e poluição do solo. A corrida por elementos de terras raras em Minas Gerais tem contado com o apoio do governo estadual e federal. O governador Romeu Zema e o governo Lula firmaram parcerias para promover a mineração sustentável. A prefeitura de Caldas tenta suspender uma zona de proteção ambiental (EPA), o que gerou conflitos. O Conselho Gestor da EPA vetou a presença da Meteoric, mas a prefeitura contestou a decisão. A Meteoric busca tranquilizar seus acionistas. A região, que já abrigou a mineração de urânio, com passivos ambientais significativos, gera preocupações. Tygel, presidente da Aliança para a EPA de Pedra Branca, lista preocupações como a proximidade das instalações da Meteoric com áreas de contaminação e o impacto da mineração em áreas rurais e no turismo. O projeto Caldeira da Meteoric compreende três áreas de mineração, com direitos sobre outras 67 áreas. A ANM recebeu mais de cem pedidos de pesquisa na região. Tygel teme a expansão da mineração, que pode alterar permanentemente o caráter rural de Caldas e prejudicar o turismo. A matéria foi publicada originalmente pela Agência Pública e traduzida do português.
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com base em reportagem publicada em
Crikey
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