Carlos Costa nunca se esqueceu do dia em que sua avó o levou ao cinema pela primeira vez. Aos 6 anos, ele entrou em uma sala escura para assistir “O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão”, uma comédia brasileira de 1977 que continua sendo um dos maiores sucessos de bilheteria do país. “Quando vi aquela tela gigante, nossa, fiquei hipnotizado. Pensei: um dia terei um cinema só meu”, contou. “Cinquenta anos depois, esse sonho se tornou realidade.” Em 2022, Costa inaugurou o Cine LT3, um cinema com 35 lugares em São Paulo. Com suas economias e cartão de crédito, ele gastou cerca de 100 mil reais (US$ 18.600) para reformar uma antiga garagem, comprar cadeiras de madeira vintage — encontradas em um antigo cinema desativado no interior — e transformar o espaço em uma sala de cinema. A sala de projeção agora ocupa o que antes era um estúdio — um espaço atrás da garagem de sua pequena empresa que ficou ocioso durante a pandemia. Costa, que trabalhava como produtor de TV, abriu os estúdios em 2012 e os aluga para testes de exibição e comerciais. Onde antes ficavam carros, agora há mesas e cadeiras onde os cinéfilos podem esperar por suas sessões, além de um pequeno balcão onde ele vende pipoca, salgadinhos, refrigerantes e vinho. Há também uma pequena bilheteria onde Costa vende ingressos para quem chega sem reserva. Para comprar antecipadamente, os clientes devem enviar uma mensagem via WhatsApp para reservar diretamente. “O cinema sou só eu
. Eu projeto os filmes, faço a pipoca, vendo os ingressos, tudo. Por questões econômicas, não posso ter um funcionário”, afirmou Costa. “Mas também acho que isso faz parte do charme. Conheço os frequentadores pelo nome, e é isso que torna este lugar diferente.” Uma história de resistência O Cine LT3 se estabeleceu como um pequeno refúgio para os amantes do cinema, construindo lentamente uma comunidade leal e atraindo cinéfilos com uma programação que se destaca dos multiplexes da cidade. O cinema independente de Costa também faz parte de uma resistência de espaços que sobrevivem fora do circuito dos shoppings. De acordo com dados oficiais de 2024, havia apenas 423 salas de exibição em pequenos cinemas como o LT3 em todo o país. Em contraste, quase 90% das 3.542 telas de cinema do Brasil operam dentro de shoppings. Alguns dos cinemas independentes mais tradicionais do país agora dependem de patrocínios corporativos para se manterem abertos. Muitos outros foram fechados e demolidos. Em São Paulo, onde os edifícios permanecem, as antigas salas de exibição foram frequentemente transformadas em igrejas evangélicas ou cinemas para adultos. Mesmo os espaços que sobreviveram enfrentaram a ameaça de fechamento nos últimos anos. Quando isso acontece, os amantes do cinema local costumam organizar protestos — e, em alguns casos, têm sucesso. Esse foi o caso do Cine Belas Artes, localizado em um dos cantos mais icônicos da cidade, na esquina da Avenida Paulista. Maria Amélia Marcos, uma professora de 71 anos, estava visitando o LT3 pela primeira vez na quinta-feira, embora frequentemente frequente outros cinemas independentes em São Paulo. Ela acredita que esses espaços são essenciais para preservar a memória cultural da cidade. “Os cinemas independentes são muito importantes porque têm um apelo completamente diferente”, disse ela. A seleção de filmes é fantástica. Imagino que os curadores sejam pessoas muito atenciosas que querem que o público veja o tipo de filmes que elas mesmas adorariam assistir.” O sonho de uma vida Um homem Costa é o curador da programação, com foco em títulos de arte do Brasil e do exterior. Quando a Associated Press visitou o cinema na quinta-feira, a programação incluía uma exibição restaurada de “Paris, Texas”, parte de uma retrospectiva em toda a cidade que celebra o 80º aniversário do diretor alemão Wim Wenders. Maída Alves, 63 anos, frequentadora do LT3, havia acabado de sair de uma exibição de “Paris, Texas” quando conversou com a AP. Para ela, o local tem um profundo valor emocional. Tendo testemunhado espaços coletivos esvaziando durante a pandemia, ela vê o cinema como um terreno comum raro e essencial. “Acho que o Costa faz um trabalho muito bom”, disse ela. “Eu o vejo vendendo ingressos, fazendo pipoca, limpando, rodando o filme, atendendo o telefone. Isso me fascina. Mostra como é preciso ter iniciativa para perseguir um sonho, que imagino ser o sonho da vida dele.” Costa frequentemente ouve pessoas questionarem suas decisões, especialmente do ponto de vista financeiro. Embora admita que o trabalho é desafiador, ele está feliz em fazer o que ama. E ele ama cinema, assim como Toto, o protagonista de seu filme favorito, “Cinema Paradiso”, a quem ele homenageou com uma pintura na parede do lado de fora do LT3. O personagem faz amizade com um projetor de cinema local e, por meio dessa relação, desenvolve uma devoção vitalícia ao cinema. Costa disse que vê sua própria vida na história de Toto e acredita que os filmes têm o poder de transformar as pessoas. “Ninguém sai de um cinema da mesma forma que entrou”, disse ele. Observando as pessoas entrarem e saírem de seu cinema todos os dias nos últimos três anos, ele diz que aprendeu mais sobre a natureza humana. “Por exemplo, eu exibo um filme, e algumas pessoas saem chorando, enquanto outras não entendem nada. Eu posso ver a diversidade dos seres humanos”, disse ele. “O que afeta uma pessoa emocionalmente não tem o mesmo efeito em outra. Aprendo algo novo todos os dias.” Maycron Abade contribuiu em São Paulo. Siga a cobertura da AP sobre a América Latina e o Caribe em https://apnews.com/hub/latin-america
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
The Independent
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