No Centro de Detenção de Imigração em Bangkok, Zhou Junyi luta para ser ouvido em meio ao burburinho de famílias. Com lágrimas nos olhos, o exilado político chinês expressa sua angústia. Zhou, membro do China Democracy Party, participou de uma comemoração em Kanchanaburi em memória das vítimas do massacre da Praça da Paz Celestial em 1989. Ele afirma que o desejo por democracia persiste no coração do povo chinês, mesmo que a expressão seja limitada. A polícia tailandesa o prendeu em sua casa em Bangkok, sob a acusação de problemas com o visto, e ele teme a deportação, culpando Beijing. Zhou receia ser preso, torturado e condenado a uma longa pena de prisão se for devolvido à China, de onde fugiu há dez anos. Dados da ONU indicam que cerca de 200 exilados chineses buscaram refúgio na Tailândia nos últimos anos, mas ativistas alertam que a pressão de Beijing aumenta o risco de deportações forçadas.
No mesmo centro de detenção, Tan Yixiang, defensor dos direitos tibetanos e uigur, grita suas convicções. Apesar de ser reconhecido como refugiado pela ONU, ele está detido pela imigração tailandesa há mais de um ano. Tan afirma que nunca louvará a ditadura e que defende os direitos humanos. Ambos os homens buscam asilo em outros países, mas a Tailândia mantém uma postura ambígua. Suas fronteiras porosas e tolerância cultural atraem refugiados, mas o país não reconhece legalmente refugiados nem oferece asilo. A Tailândia abriga mais de
80.000 pessoas que fugiram de Myanmar em campos na fronteira oeste, além de milhões de migrantes do país vizinho. A aplicação da lei tem permitido que chineses se estabeleçam no país. Zhou entrou ilegalmente pela fronteira com o Laos, sem passaporte. Os ativistas políticos chineses concentram-se em Chiang Mai, no norte da Tailândia, onde realizam palestras e publicam panfletos, mas agora temem por seu refúgio.
A prisão de Zhou se alinha ao que analistas descrevem como um padrão crescente de repressão transnacional chinesa, com a ONG Freedom House rotulando o governo chinês como o maior perpetrador do mundo. As relações da Tailândia com a China se fortaleceram nos últimos anos. Em fevereiro, a então primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra prometeu aprofundar a cooperação econômica em uma viagem a Beijing. No mesmo mês, a China repatriou centenas de criminosos chineses suspeitos através da Tailândia, em uma ação contra fraudes na fronteira tailandesa-Myanmar. A Tailândia também deportou à força cerca de 40 uigures, minoria muçulmana perseguida na China ocidental. Governos ocidentais condenaram a ação, considerada ultrajante por grupos de direitos humanos. O paradeiro dos uigures permanece desconhecido. O Ministério das Relações Exteriores chinês insistiu que a repatriação foi feita de acordo com a lei internacional e se opôs a tentativas de usar os direitos humanos para interferir nos assuntos internos da China.
Em 2015, o editor político nascido na China e cidadão sueco naturalizado Gui Minhai foi sequestrado enquanto estava de férias na Tailândia e posteriormente condenado por espionagem na China. Tailândia e China celebram meio século de relações diplomáticas neste ano. Outro ativista chinês, que se identificou apenas como Alvin, espera que Beijing use o aniversário para pressionar Bangkok sobre as repatriações. Muitos exilados chineses estão deixando a Tailândia em busca de refúgios em outros lugares, como Canadá ou Europa. Alvin relata que os refugiados políticos na Tailândia estão com medo e preocupados.
A Tailândia não é signatária da Convenção da ONU sobre Refugiados, portanto, não faz distinção entre refugiados e outros migrantes. Estatísticas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados mostram que o número de solicitantes de asilo chineses na Tailândia aumentou mais de cinco vezes entre 2019 e 2023, mas o escritório da Tailândia não pode comentar casos individuais. O China Democracy Party surgiu de apelos por reforma política no final da década de 1990. Seu site menciona os perigos de participar, mas afirma ter milhares de membros, que se envolvem principalmente em ativismo no exterior. Membros do partido realizaram um pequeno protesto em Los Angeles após a prisão de Zhou, pedindo ao governo tailandês que não o deportasse. Zhou afirma que as autoridades chinesas têm assediado seus pais, que vivem na província de Zhejiang, para que ele retorne. Ele até se divorciou de sua esposa, que permanece nos Estados Unidos, para protegê-la da perseguição. Funcionários da embaixada chinesa o visitaram várias vezes para tentar fazê-lo assinar um formulário de retorno voluntário, mas ele se recusou. A embaixada chinesa em Bangkok não respondeu aos pedidos de comentário da AFP sobre casos específicos, afirmando que os indivíduos em questão deveriam contatar a embaixada. O Ministério das Relações Exteriores em Beijing não respondeu aos pedidos de comentário. Khathathorn Kamtieng, porta-voz da polícia de imigração tailandesa, afirmou que Zhou aguarda um novo passaporte, e que ele será deportado para seu país de origem assim que o obter.
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com base em reportagem publicada em
Freemalaysiatoday
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