Em uma entrevista exclusiva, a advogada de imigração Ana Bárbara Schaffert, que defende Filipe Martins nos Estados Unidos, expôs os bastidores de uma suposta fraude que teria sido utilizada para legitimar a prisão do ex-assessor de Jair Bolsonaro. Segundo a advogada, documentos oficiais americanos foram adulterados para criar um registro falso de entrada no país, o que agora levanta suspeitas sobre a atuação de autoridades brasileiras e suscita questionamentos sobre possíveis violações à soberania dos EUA.
Schaffert detalha as provas, o papel da imprensa internacional e os próximos passos de um processo que pode se transformar em um dos maiores escândalos jurídicos recentes entre Brasil e Estados Unidos.
Ao ser questionada sobre o que já foi comprovado no caso de Filipe Martins, a advogada respondeu que houve uma fraude flagrante. Ficou demonstrado que o documento usado para justificar a suposta entrada de Filipe nos Estados Unidos em setembro de 2022 — o I-94 — é irregular. Há três erros graves: o nome dele está grafado incorretamente, o número de passaporte é de um documento que foi cancelado quase dois anos antes da data indicada e a categoria de visto simplesmente não existia naquele momento. Isso demonstra que o registro é totalmente inválido e fabricado.
Schaffert explicou que a descoberta dos erros ocorreu quando tentaram obter o I-94 legítimo junto às autoridades americanas. Primeiro em Nova York, foram informados de que o registro estava
vinculado a Orlando, o que causou estranheza, pois Filipe nunca havia entrado por lá. Pouco tempo depois, uma delegação da Polícia Federal brasileira estava nos EUA para tratar do caso das joias do Bolsonaro. Foi então que tiveram acesso ao I-94 falso e identificaram as inconsistências. A partir daí, pediram formalmente a exclusão desse documento do sistema americano.
Sobre a possibilidade de alguém dentro do sistema ter inserido o documento falso, Schaffert afirmou que essa é uma das hipóteses analisadas com cautela. Não acreditam que um erro dessa magnitude possa ter ocorrido de forma acidental. É possível que alguém com acesso interno tenha inserido ou manipulado o registro — e isso, naturalmente, é muito grave. A advogada ressaltou que não podem apontar nomes sem provas, mas o que já sabem é que o documento foi criado a partir de um sistema que requer credenciais oficiais, indicando participação, direta ou indireta, de um agente autorizado. Por isso, insistem em uma investigação transparente, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Sobre a reação do governo americano, Schaffert informou que o CBP, órgão responsável pelo controle de fronteiras, emitiu uma nota pública reconhecendo a anomalia. Isso é muito importante, porque demonstra que não haverá tentativa de encobrir o erro. O próprio governo americano precisa agora avaliar sua responsabilidade nesse caso, pois houve uma arbitrariedade contra Filipe Martins que só foi possível com a conivência de agentes dentro do sistema.
Os próximos passos da defesa, segundo a advogada, são buscar responsabilizações, não só individuais, mas também institucionais, já que o próprio sistema americano foi utilizado para cometer essa arbitrariedade. Estão em contato com advogados criminalistas nos Estados Unidos e ainda precisam formalizar a contratação de um especialista em direito criminal americano para dar andamento às ações.
A cobertura da imprensa americana, especialmente a atuação de Mary O’Grady no Wall Street Journal, tem sido fundamental para o andamento do caso. O’Grady, jornalista experiente e membro do conselho editorial do jornal desde 1990, acompanha o caso há mais de um ano e já escreveu quatro artigos sobre o assunto, incluindo um editorial recente. Isso trouxe atenção internacional e despertou autoridades americanas para a gravidade da fraude.
A menção do caso pelo assessor de Donald Trump, Jason Miller, também teve efeito prático, segundo Schaffert. Foi mais um sinal de que o caso ganhou peso político nos Estados Unidos, reforçando a pressão por transparência e justiça.
Schaffert se mostrou otimista quanto à resolução do caso, acreditando que, com a visibilidade e as provas robustas de fraude, o processo caminhará de forma mais célere e justa. O foco é garantir que a verdade prevaleça e que os responsáveis respondam por seus atos.
Por fim, a advogada ressaltou que este não é apenas um processo contra um indivíduo, mas uma questão de integridade institucional. Quando um governo utiliza informações falsas para justificar uma prisão, está violando princípios básicos do Estado de Direito. O caso de Filipe Martins é um alerta internacional sobre os riscos de se usar o sistema judicial como instrumento político.
📝 Sobre este conteúdo
Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Gazetadopovo
. O texto foi modificado para melhor atender nosso público, mantendo a precisão
factual.
Veja o artigo original aqui.
0 Comentários
Entre para comentar
Use sua conta Google para participar da discussão.
Política de Privacidade
Carregando comentários...
Escolha seus interesses
Receba notificações personalizadas