A persistente dificuldade em contratar professores está a afetar diariamente uma escola em Lisboa, onde crianças do 1.º ano se encontram sem professor titular e são, por isso, distribuídas por turmas de alunos mais velhos. Melissa, aluna da Escola Básica Luz-Carnide, em Lisboa, iniciou o 1.º ano em setembro. Na primeira reunião com os encarregados de educação, a professora titular anunciou que não assumiria a turma, conforme recordou a mãe, Andreia Quintino, em declarações à Lusa. A docente explicou que, após mais de duas décadas a lecionar para alunos internados, não se sentia apta a voltar a ter uma turma com 24 alunos e solicitou mobilidade para regressar ao hospital. "Ficámos chocados, considerando as notícias sobre a escassez de professores", afirmou Andreia Quintino. Duas semanas após o início das aulas, "recebemos um e-mail da escola a informar que a professora estava de baixa", recordou, explicando que a filha, de 6 anos, só teve oportunidade de aprender "algumas letras". A direção da escola tentou contratar um novo professor, mas sem sucesso. A vaga foi aberta, mas até o momento "não houve candidatos ou estes não possuíam a qualificação necessária. O horário continua em concurso, até que surja um docente para substituir a professora titular da turma", explicou a subdiretora do Agrupamento de Escolas Virgílio Ferreira. A falta de professores no 1.º ciclo é um problema "a nível nacional, especialmente na região de Lisboa", lembrou
a direção da escola. A Lusa contactou o Ministério da Educação para obter informações sobre o número atual de docentes em falta, mas não obteve resposta até o momento. A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) contabilizou os pedidos feitos por todas as escolas e concluiu que estão a procurar professores para "133 turmas do 1.º ciclo", estimando que "3.325 alunos são afetados". A região de Lisboa é a mais problemática. A Fenprof identifica a região de Lisboa como a mais problemática e o agrupamento Virgílio Ferreira como o segundo com mais problemas no 1.º ciclo, superado apenas pelo agrupamento Almeida Garret, na Amadora, onde existem oito horários vagos, conforme declarou o secretário-geral da Fenprof, José Feliciano Costa. O agrupamento Vergílio Ferreira informou à Lusa que tem "desde o início do ano letivo, quatro turmas sem professor titular atribuído", sendo estas asseguradas pelas respetivas coordenadoras de estabelecimento. A escola mantém as vagas abertas, mas até agora apenas dois professores com a qualificação adequada para lecionar no 1.º ciclo se candidataram, e só um aceitou. O outro recusou. Na escola de Melissa, a solução encontrada também foi recorrer à coordenadora do estabelecimento. Contudo, "como a professora tinha a coordenação da escola e garantia o apoio educativo, só dava aulas ocasionalmente e os alunos eram, então, distribuídos pelas outras salas", lamentou o presidente da associação de pais, José Lacerda. Adicionalmente, no final do mês anterior, a coordenadora também apresentou um atestado médico e deixou de ir à escola. Desde então, os alunos são "distribuídos pelas diferentes turmas", acrescentou a subdiretora do agrupamento, Ana Rita Duarte. "É muito complicado, pois os professores não conseguem dar atenção aos alunos", alertou José Lacerda. Os pais estão apreensivos com a aprendizagem dos filhos. Melissa, que deveria estar a aprender as letras e os ditongos, passa os dias numa sala de 4.º ano. A escola enviou um e-mail solicitando aos pais que auxiliassem em casa, mas "é muito complicado", relatou a mãe de Melissa, explicando que, após um dia inteiro na escola, as crianças chegam cansadas e os pais "têm de tratar do jantar e do dia seguinte": "Uma coisa é complementar o estudo, outra é tentar ser professor". Os pais solicitaram à direção que recorresse a professores bibliotecários do agrupamento ou aos que prestam apoio. A direção explicou à Lusa que não possui "nenhum professor que apenas dê apoio aos alunos e possa assumir uma turma. No que diz respeito a um professor bibliotecário assumir a turma, é uma hipótese que está a ser considerada, caso haja prolongamento do atestado médico da Coordenadora de Estabelecimento". No agrupamento, existe uma professora bibliotecária que efetua essas substituições e está, no momento, a substituir uma docente ausente, conforme explicou a direção. Andreia Quintino lamentou que o entusiasmo inicial de Melissa em ir para a escola primária tenha dado lugar à ansiedade de não saber o que acontecerá no dia seguinte: "Muitas vezes, antes de dormir, pergunta-me: 'Amanhã vou ser distribuída outra vez?'", contou. Os pais reconhecem o esforço dos professores, mas defendem que o modelo não é viável para as crianças sem professor, nem para as outras turmas, que ficam superlotadas. "Estas crianças não estão a ter as mesmas oportunidades que as outras", desabafou.
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