O escândalo envolvendo Jeffrey Epstein, o financista acusado de abuso sexual, ganhou um novo capítulo com a divulgação de e-mails que mencionam o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A publicação dos documentos, ocorrida na quarta-feira (12), reacendeu a polêmica e levantou novas questões sobre a relação entre Trump e Epstein.
Contexto: O Congresso dos Estados Unidos liberou arquivos com mensagens que sugerem que Trump tinha conhecimento da conduta de Epstein. Em algumas ocasiões, o ex-presidente teria passado horas na casa do bilionário com uma das vítimas.
Jeffrey Epstein era um empresário americano com uma vasta rede de contatos, incluindo políticos, celebridades e executivos. Ele foi acusado de abusar de mais de 250 meninas menores de idade e de operar uma rede de exploração sexual. Epstein foi preso em julho de 2019 e, segundo as autoridades americanas, cometeu suicídio um mês depois, dentro de sua cela.
Mantiveram uma amizade nas décadas de 1990 e 2000. O ex-presidente nunca foi investigado no caso e afirma ter se afastado do bilionário assim que as acusações surgiram. Durante a campanha de 2024, Trump prometeu que, se retornasse à Casa Branca, tornaria públicos os arquivos secretos sobre as investigações. Após a posse, no entanto, o discurso mudou. Em julho, Trump chamou uma suposta lista de clientes de Epstein de “farsa“ e “bobagem“, acusando a “esquerda radical” de alimentar boatos. Essa mudança de tom frustrou seus
apoiadores, muitos dos quais disseminam teorias da conspiração sobre o caso.
O movimento intensificou a pressão política da oposição e de alguns membros do partido de Trump para que todos os documentos da investigação fossem divulgados. Na quarta-feira, a Câmara dos Deputados reuniu assinaturas suficientes para votar uma moção que força o governo a divulgar todos os documentos da investigação. A iniciativa conta, inclusive, com o apoio de republicanos. De acordo com a imprensa americana, mesmo que a moção seja aprovada na Câmara, ela deve ser barrada no Senado. Ainda assim, se fosse aprovada nas duas casas, Trump poderia vetar a proposta — o que representaria um desgaste político para o ex-presidente.
Nesta reportagem, você vai entender: As acusações de abuso de Epstein, como foi a investigação, a prisão e a morte de Epstein, o que Trump tem a ver com o caso, o que dizem os novos e-mails, e o impacto do caso no governo Trump.
1. Epstein e as acusações de abuso
Epstein conviveu com milionários de Wall Street, membros da realeza e celebridades antes de se declarar culpado de exploração sexual de menores. Segundo a acusação, o bilionário pagava para que meninas fossem até imóveis dele e realizassem atos sexuais. As menores também eram contratadas para recrutar outras garotas para a mesma finalidade. Dezenas de mulheres acusaram Epstein de forçá-las a prestar serviços sexuais a ele e a seus convidados em uma ilha particular no Caribe e nas casas que ele tinha em Nova York, na Flórida e no Novo México. De acordo com o governo dos Estados Unidos, o bilionário explorou sexualmente mais de 250 meninas menores de idade.
2. Como foi a investigação e prisão de Epstein?
Epstein foi investigado pela primeira vez em 2005, depois que a polícia de Palm Beach, na Flórida, recebeu denúncias de abusos sexuais contra meninas menores de idade. Na época, ele alegou que os encontros foram consensuais e que acreditava que as vítimas tinham 18 anos. De acordo com a acusação, o bilionário abusou de menores ou recrutou garotas para atos sexuais entre 2002 e 2005. Em 2008, ele se declarou culpado do crime de exploração de menores e fez um acordo para cumprir 13 meses de prisão e pagar indenizações às vítimas. Em fevereiro de 2019, um juiz distrital da Flórida considerou que o acordo era ilegal. Em julho do mesmo ano, Epstein foi novamente preso, acusado de abuso de menores e de operar uma rede de exploração sexual. Promotores federais pediram que o bilionário permanecesse detido até o julgamento, alegando que “riqueza exorbitante”, a posse de aviões privados e os laços internacionais dele poderiam facilitar uma fuga. Epstein foi encontrado morto na prisão em agosto de 2019. A autópsia concluiu que ele tirou a própria vida. Dois dias antes de morrer, o bilionário havia assinado um testamento deixando um patrimônio avaliado em mais de US$ 577 milhões. Após a morte do empresário, as acusações contra ele foram retiradas. No entanto, promotores afirmaram que outras pessoas poderiam ser processadas por envolvimento no esquema, e advogados das vítimas prometeram buscar indenizações na Justiça.
3. O que Trump tem a ver com Epstein
É de conhecimento público que Donald Trump e Jeffrey Epstein foram amigos até os anos 2000. O ex-presidente afirma ter se afastado do bilionário quando as denúncias de abuso sexual vieram à tona. Ao longo das investigações, nunca houve evidências de que Trump tenha se envolvido em crimes ligados a Epstein. Documentos revelados em fevereiro pelo Departamento de Justiça mostram o nome de Trump em registros de voos associados ao bilionário. Em duas dessas viagens, realizadas em maio de 1994, o ex-presidente aparece ao lado de outras pessoas, como Marla Maples, sua ex-esposa, e Tiffany, filha do casal. Os registros também incluem as iniciais “JE”, que, segundo a imprensa americana, seriam de Jeffrey Epstein. Os arquivos não indicam nenhuma irregularidade por parte de Trump. Em agosto, deputados democratas divulgaram uma suposta carta que teria sido enviada por Trump a Epstein, com o desenho de uma mulher nua. O conteúdo da mensagem havia sido revelado pela primeira vez pelo Wall Street Journal um mês antes. De acordo com o jornal, a correspondência fazia parte de um álbum comemorativo produzido por Ghislaine Maxwell, parceira de Epstein, para celebrar o aniversário de 50 anos do bilionário. A carta teria sido enviada em 2003, anos antes da prisão de Epstein. O documento traz uma mensagem datilografada dentro da silhueta de uma mulher nua desenhada à mão. A assinatura “Donald” aparece abaixo da cintura da figura. O texto termina com a frase: “Feliz aniversário — e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo.” Após a divulgação da carta, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, classificou o documento como falso e afirmou que “está muito claro que o presidente Trump não desenhou a imagem nem a assinou.”
4. O que dizem os novos e-mails
Segundo deputados democratas, as mensagens divulgadas nesta quarta-feira levantam novas dúvidas sobre a relação entre Trump e Epstein. Já o jornal The New York Times afirmou que o ex-presidente pode ter mais conhecimento da conduta de Epstein do que admitiu publicamente. Em um dos e-mails divulgados, de janeiro de 2019, o bilionário escreveu que Trump “sabia sobre as garotas”. No mesmo texto, aparecem o nome de uma vítima — que foi censurado — e a menção a Mar-a-Lago, resort do ex-presidente na Flórida. Em outra mensagem, enviada em abril de 2018, Epstein escreveu a Ghislaine Maxwell sobre Trump. “Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump”, afirmou. Em seguida, acrescentou que uma das vítimas “passou horas na minha casa com ele… e ele nunca foi mencionado uma única vez”. Outro arquivo mostra Epstein refletindo sobre como deveria responder a perguntas da imprensa sobre sua relação com Trump, que à época começava a ganhar destaque como figura política nacional. Em uma rede social, Trump afirmou que a polêmica envolvendo os e-mails é uma “armadilha” criada pelos democratas. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que os arquivos mostram que presidente “não fez nada de errado” e acusou os democratas de divulgarem os e-mails “para difamar Trump.”
5. O impacto do caso no governo
A divulgação dos e-mails reacendeu pressões sobre o governo Trump para liberar todos os documentos relacionados a Jeffrey Epstein. Durante a campanha de 2024, o ex-presidente prometeu que, se voltasse à Casa Branca, tornaria públicos arquivos secretos sobre as investigações. Em uma entrevista, ele chegou a dizer ser “muito estranho” que uma lista de clientes de Epstein nunca tivesse sido divulgada. Trump também garantiu que “não teria problema” em revelar os nomes. A chamada “Lista de Epstein” seria um suposto documento com nomes de pessoas envolvidas no escândalo sexual. Em fevereiro deste ano, o governo divulgou uma série de arquivos sobre o caso. A procuradora-geral de Trump, Pam Bondi, chegou a dizer que uma lista de clientes de Epstein estava em sua “mesa para ser revisada”. Depois, no entanto, o Departamento de Justiça afirmou não ter encontrado provas da existência dessa relação. A declaração frustrou apoiadores de Trump, muitos dos quais espalham teorias da conspiração sobre o caso — algumas impulsionadas pelo próprio ex-presidente. Desde então, Trump passou a minimizar o assunto e até chamou de “idiota” quem ainda se importava com o tema. Por outro lado, segundo o Wall Street Journal, o ex-presidente foi avisado em maio pelo Departamento de Justiça que seu nome aparecia nos documentos de Epstein. A Casa Branca classificou a reportagem do jornal como “fake news”.
📝 Sobre este conteúdo
Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Globo
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