Em uma recente entrevista à Revista Carta Capital, a filósofa e professora da USP, Marilena Chaui, argumentou que a classe média, em uma sociedade capitalista, age como um elo de transmissão dos valores das classes dominantes. Ela, ao mesmo tempo em que almeja ascender à burguesia, vive sob a constante ameaça da pobreza. Confundindo capital com dinheiro, a classe média busca a ilusão de pertencimento através do consumo de bens e símbolos de riqueza. Chaui conclui que a classe média, com suas práticas, "massacra os dominados", tornando-se odiosa. O texto em questão propõe uma reflexão sobre como a classe média se apropria do discurso antirracista, distanciando-se das lutas negras tradicionais, de caráter popular, radical e dissidente, transformando-o em instrumento para sua ascensão e/ou manutenção. O fenômeno, segundo o texto, não é exclusivo do Brasil, mas inerente ao Ocidente, especialmente ao "império". Em entrevista ao canal Índia e a Esquerda Global, o filósofo Cornel West abordou como um discurso antirracista, desvinculado da crítica à supremacia branca e ao imperialismo capitalista, pode apenas levar rostos negros às grades do sistema, enquanto a massa negra permanece na pobreza. West ressalta que, embora a raça tenha sido desclassificada como conceito científico, ela foi legalizada e institucionalizada, continuando a organizar nossas vidas. Nos anos 1970, o movimento negro no Brasil se reconstruiu. Homens e mulheres negros, professores e
funcionários públicos, utilizaram escolas de samba e clubes recreativos, entre outros, como instrumentos de solidariedade com as “elites”, principalmente em períodos eleitorais. Em Santa Catarina, Esperidião Amin, em São Paulo, Paulo Maluf, e na Bahia, Antônio Carlos Magalhães, são exemplos. As novas gerações, ligadas ao Movimento Negro Unificado e outros grupos locais, usaram a dor e a raiva como discurso, que Maria Ercilia Nascimento, em sua dissertação de mestrado na PUC/SP, definiu como estratégia de denúncia. Essas organizações conscientizavam sobre violência policial e discriminação. Um bom militante era aquele que conseguia criar o maior número de núcleos de base em comunidades e locais de trabalho. Essa gente participou da luta contra o apartheid na África do Sul e apoiou a independência das ex-colônias portuguesas. O texto cita intelectuais como Aimé Césaire, Amílcar Cabral e Angela Davis, entre outros. O movimento negro, classista, antirracista e anti-imperialista, construiu um sentido de cidadania, como o da Constituição Federal de 1988. O texto critica a transformação de entidades em ONGs, financiadas por fundações estrangeiras, que alteraram a agenda do movimento. O texto menciona Hamilton Cardoso, que tinha uma perspectiva antissistêmica, defendendo a articulação de classe e raça. O antirracismo radical foi cedendo espaço a uma pauta liberal, focada na representação e em políticas de ação afirmativa. O texto critica a campanha por uma mulher negra no STF, enquanto a população negra periférica enfrenta a miséria, e a classe média se preocupa em ampliar seus espaços. Os discursos sobre representatividade são importantes, pois os miseráveis são usados para angariar espaços na classe média. O texto critica a aparição de Thaís Araújo, embaixadora da ONU-Mulheres, lançando a Marcha de Mulheres Negras 2025, após um episódio de violência no Rio de Janeiro. A Marcha de 2015 marcou a conquista do discurso antirracista por ONGs feministas negras, controladas por fundações internacionais, e a perda de visibilidade de organizações mistas. O texto aborda a difamação e criminalização de intelectuais negros, comparando-as aos linchamentos. As organizações identitárias são vistas como comprometidas com o neoliberalismo/globalismo. O texto critica o antirracismo liberal, parte da Woke Culture, e questiona a falta de apoio dessas ONGs ao povo palestino. A esquerda precisa se desvencilhar do compromisso com os antirracistas liberais, para não ser vista como sinônimo de cultura woke. É preciso distinguir as tradições de raça x classe e seu enfrentamento ao capitalismo, imperialismo e colonialismo. O identitarismo esvazia a discussão, naturalizando a desigualdade. O texto observa que, embora nunca se tenha falado tanto sobre antirracismo, ele é usado para vender cursos e produtos, causando náuseas. A classe média é convidada a consumir, sentindo-se representada. O texto conclui que esse antirracismo e seus agentes são odiosos. Fontes: Índia e a Esquerda Global, 12 de novembro de 2025; Carta Capital, 31 de outubro de 2025. O texto é assinado por Cristiane Mare da Silva e Paulino Cardoso.
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com base em reportagem publicada em
Brasil247
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