Cabo Verde: A Única Ex-Colônia Portuguesa que Desafia a África? Análise Revela Surpreendente

Especialista em assuntos africanos aponta Cabo Verde como exceção positiva entre as ex-colónias portuguesas. Descubra os contrastes e desafios dos outros países.

O professor catedrático convidado da Universidade Autónoma de Lisboa e especialista em assuntos africanos, Fernando Jorge Cardoso, destaca Cabo Verde como um caso notável entre as antigas colónias portuguesas em África. Segundo o investigador, Cabo Verde é "a única antiga colónia que apresenta um balanço positivo". Cardoso afirma que, embora os países africanos tenham alcançado a "meia-idade" após a independência, muitos ainda lutam para progredir devido à qualidade da governação. Cabo Verde, no entanto, surge como uma exceção, exibindo crescimento económico e um sistema multipartidário com alternâncias de poder comprovadas. Apesar das dificuldades inerentes a uma economia pequena e com poucos recursos, o país não enfrenta problemas significativos em relação aos direitos humanos, demonstrando a capacidade das suas elites e a adaptação do regime político aos seus objetivos. Esta situação contrasta com a realidade de outras ex-colónias. Cardoso aponta São Tomé e Príncipe como o país mais próximo de Cabo Verde em termos de desempenho, mas ressalva as suas particularidades. São Tomé e Príncipe, sem recursos abundantes e dependente de promessas de petróleo, não consegue explorar plenamente o seu potencial, incluindo as suas belezas naturais e serviços. Quanto à Guiné-Bissau, o investigador observa que, apesar de um sistema multipartidário, eleições e alternâncias de poder, persistem sérios problemas políticos que levaram a golpes

de Estado e a um regime "capturado" por um grupo liderado pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló. Cardoso menciona suspeitas, baseadas em informações da imprensa e da polícia, que ligam o chefe de Estado ao tráfico de drogas. Para o investigador, a Guiné-Bissau precisa de se regenerar, um processo que deve ser liderado pelos próprios guineenses, sem intervenção externa ou retrocessos. O atual regime, segundo Cardoso, tem uma dívida em termos de direitos humanos e decência política. Em relação a Angola, Cardoso recorda que ainda não houve alternância de poder, prevalecendo uma "democracia apenas formal". O mesmo partido está no poder desde a independência, com uma guerra civil que marcou o país e uma economia que tarda em diversificar-se. Embora existam eleições, o regime ainda não demonstrou ser verdadeiramente democrático. Sobre a questão dos recursos naturais, Cardoso rejeita a ideia de que estes possam ser uma maldição, argumentando que o problema reside nos dirigentes, não nos recursos. Segundo o investigador, Angola enfrenta "fome, manifestações violentas e repressão aberta", vivendo uma "democracia musculada". No que diz respeito a Moçambique, onde nasceu e se formou em Economia, Cardoso descreve a situação como "complicada", dominada por um regime que não deseja deixar o poder. Na sua perspetiva, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência, foi "capturada por interesses", resultando numa Frelimo controlada por grupos com pouco interesse no desenvolvimento do país, priorizando a manutenção do poder para fins pessoais e partidários. Das cinco antigas colónias portuguesas em África, a Guiné-Bissau é a única que já celebrou 51 anos de independência, proclamada unilateralmente a 24 de setembro de 1973. Moçambique (25 de junho), Cabo Verde (5 de julho), São Tomé e Príncipe (12 de julho) e Angola (11 de novembro) celebram este ano meio século de independência.

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