Vieira e Rubio: O Encontro que Pode Mudar Tudo (ou Não)

O encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi o ponto alto de uma reunião que, em si, já representou um avanço. O foco principal foi a manutenção do diálogo e a busca por uma nova postura que facilite o entendimento entre os dois países. Apesar de nenhuma decisão concreta ter sido tomada, o simples fato do encontro ter ocorrido já foi um resultado positivo. Os dois estiveram reunidos por pouco mais de uma hora, com 15 minutos dedicados a uma conversa reservada e o restante do tempo com a presença de assessores. Essa reunião, a primeira desde a posse de Rubio em janeiro, foi vista como um progresso, especialmente em relação à abertura de uma discussão sobre temas cruciais para as duas nações, algo que parecia improvável há um mês. A pauta, conforme divulgado pela imprensa, incluía a redução das tarifas de 50% impostas pelos EUA a produtos brasileiros e a revogação de sanções a autoridades brasileiras. Do lado americano, os interesses não foram tornados públicos, mas o acesso às terras raras brasileiras, essenciais para a indústria de alta tecnologia e produção de armas, é um ponto de interesse. A complexidade dos temas impossibilitou uma resolução rápida. A solução das pendências exigirá longas negociações e, possivelmente, algumas questões permanecerão sem solução. Rubio e Vieira saíram sem anúncios concretos, mas com o canal de diálogo

desobstruído. Negociadores de ambos os lados devem se reunir em breve, e uma conversa entre os presidentes Lula e Trump está prevista para este ano. Seria surpreendente se todas as divergências fossem resolvidas em apenas um encontro. Mais surpreendente ainda seria a redução de tarifas, a eliminação de sanções e um acordo sobre terras raras em uma hora. A lista de divergências recentes, impulsionadas pelas escolhas do Brasil em relação a Rússia, China e Irã, dificulta ainda mais a situação. É crucial entender as causas das divergências para evitar ilusões sobre a normalização imediata das relações. Mudanças de postura são necessárias, mas isso pode não combinar com o estilo dos dois governos. O representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, afirmou que, dos 50% de tarifa, 10% se referem a tarifas recíprocas e 40% a preocupações com Estado de Direito, censura e direitos humanos no Brasil. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, mencionou a "detenção ilegal de cidadãos americanos". As declarações de Greer e Bessent serviram para balizar as negociações. Para o Brasil, a revisão de procedimentos e a moderação na retórica antiamericana são essenciais. A defesa pública da Venezuela e Cuba, por exemplo, é vista como uma provocação desnecessária. A diplomacia comercial brasileira precisa se orientar pelos interesses da economia, deixando de lado o viés ideológico. O vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou acordos comerciais com a Índia, gerando incômodo nos EUA, mas sem que isso justifique críticas. O Itamaraty deve priorizar os interesses do país acima de preferências ideológicas, focando em acordos comerciais pragmáticos. A relação entre os países se deteriorou não por uma decisão repentina, mas por uma série de sinais de incômodo dos EUA. Mais do que apostar na "química" entre Lula e Trump, é preciso entender as verdadeiras razões do desentendimento. A influência de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo nos EUA foi exagerada, pois o tratamento dado pelo governo americano ao Brasil é resultado das escolhas do país. O Brasil precisa mudar sua postura para reverter as tarifas e sanções. Caso contrário, a economia brasileira continuará a sofrer as consequências de escolhas ideológicas.

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