PT em 2026: O Partido à Beira da Reinvenção ou à Sombra do Passado?

O Partido dos Trabalhadores (PT) se prepara para um momento crucial em sua história. Em 2026, o partido realizará um congresso para traçar os rumos a serem seguidos, com foco na campanha de reeleição de Lula. A discussão central envolverá mudanças no funcionamento interno e nas propostas políticas. Após anos buscando um equilíbrio no centro do espectro ideológico, o PT parece inclinado a uma virada à esquerda, revivendo antigos ideais, como a retórica do "Nós contra Eles" e "Pobres contra Ricos", perceptível no discurso de Lula, que demonstra a intenção de retomar o estilo combativo do passado. A estratégia visa fortalecer a agenda de esquerda, distanciando-se da moderação e retomando as raízes do partido para a disputa eleitoral de 2026. Em seus mandatos anteriores, Lula demonstrou habilidade em deixar de lado dogmas para obter apoio no Congresso e ajustar a economia. Nos últimos anos, o PT enfrentou desgaste de imagem, com escândalos de corrupção e crises econômicas minando a confiança de setores da classe média e jovens. Tensões internas também contribuíram, com alas à esquerda defendendo o retorno às origens e setores defendendo a moderação. Apesar das divisões, o PT mantém uma estrutura orgânica e capilaridade notáveis, com forte presença municipal, bancada sólida no Congresso e militância fiel. No entanto, a base está envelhecendo, e o desafio é renovar quadros e discursos sem romper com o passado. O futuro do PT pós-Lula é

incerto: um partido de massa, um defensor do socialismo, um movimento progressista híbrido ou uma força pragmática de centro-esquerda? O partido chega à metade da década de 2020 em uma posição paradoxal: no poder, mas cercado por incertezas. Precisará decidir o que quer ser quando o carisma de Lula não for mais o eixo da política brasileira. O PT sempre orbitou em torno de seu líder fundador, que costura alianças e mobiliza filiados. Após mais de quatro décadas, o partido precisa se reinventar sem perder sua essência. O futuro do PT dependerá da capacidade de preservar a identidade e modernizar a narrativa, mantendo o compromisso com justiça social, trabalho, educação e redução das desigualdades. Exige atualizar a linguagem política, dialogar com novas gerações e compreender as pautas contemporâneas. O eleitorado do século XXI é influenciado por bem-estar, emprego, segurança e eficiência administrativa. No plano eleitoral, o PT reconhece que a esquerda isolada não vence, daí a importância das Federações. A vitória de Lula em 2022 demonstrou a força de uma coalizão ampla, mas também seus limites, com uma tensão entre governar com pragmatismo e preservar a coerência ideológica. O eleitor petista tradicional deseja mais radicalidade, enquanto o eleitor mediano busca previsibilidade. Conciliar esses polos será crucial para a sobrevivência do partido. O apoio das classes médias é fundamental. A comunicação política é outro ponto crucial. O PT precisa reconstruir sua narrativa digital, aproximando-se de influenciadores e movimentos sociais contemporâneos. A política emocional e simbólica exige uma nova linguagem, capaz de traduzir valores em mensagens curtas e visuais. No horizonte de 2026, o partido precisa apresentar um projeto de país para além da memória de Lula. Caso contrário, corre o risco de se tornar guardião de um passado glorioso. Se conseguir formar nova geração de líderes e oferecer respostas às angústias do tempo, o PT poderá continuar a desempenhar papel central. Caso contrário, poderá ser marginalizado. O futuro do PT será decidido pela sua capacidade de se reconectar com o Brasil real, o das novas tecnologias, das periferias digitais, da juventude plural e dos novos trabalhadores autônomos. O partido que nasceu nas fábricas, e que agora, por sugestão de Lula, volta a olhar para elas, precisa iluminar o mundo novo que surge. GAUDÊNCIO TORQUATO é escritor, jornalista, professor-emérito da ECA-USP e consultor político.

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