A recente megaoperação policial contra o Comando Vermelho nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, gerou um aumento na aprovação das ações de segurança e na popularidade do governador Cláudio Castro (PL). A operação, que resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais, impulsionou a aprovação de Castro, que atingiu 47% entre os moradores da capital fluminense, superando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito Eduardo Paes. Castro também se destacou na avaliação de desempenho em segurança pública, com 36% considerando-o bom ou ótimo, contra 27% de Lula e 13% de Paes. Dados do Datafolha revelaram que Castro alcançou o maior nível de aprovação desde 2022, com 40% dos moradores da capital e região avaliando seu trabalho positivamente. Entre os eleitores de Jair Bolsonaro, a aprovação chega a 67%, enquanto entre os eleitores de Lula, é de 17%. Uma pesquisa Genial/Quaest indicou que 24% dos entrevistados consideraram Castro o governador com melhor desempenho no "Consórcio da Paz", grupo que coordena políticas de combate ao crime organizado. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) ficou em segundo, com 13%. A mesma pesquisa sugeriu uma leve queda na avaliação positiva do governo Lula, dentro da margem de erro. Analistas, em entrevistas à BBC News Brasil, sugeriram que a operação teve objetivos políticos. Ricardo Brisolla Balestreri, ex-secretário nacional de Segurança Pública, criticou a ação, chamando-a de "espetáculo"
com baixa eficiência. Impulsionado pela popularidade, o governo Castro anunciou novos planos para operações semelhantes. A operação teve alcance além do Rio, mobilizando a direita brasileira. Governadores como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, demonstraram apoio a Castro, integrando o Consórcio da Paz. O deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) afastou-se de seu cargo para relatar um projeto contra facções criminosas. Castro, por sua vez, considera a operação um sucesso, rebatendo acusações de uso político e defendendo que a ação representou um "duro golpe contra a criminalidade". A questão central é: a aprovação de políticos em ações da guerra às drogas é duradoura? Pesquisas e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que, com a escalada da violência, essas ações podem ter o efeito oposto a longo prazo, prejudicando as instituições.
O caso de Rodrigo Duterte, ex-prefeito de Davao e ex-presidente das Filipinas, ilustra essa dinâmica. Duterte, conhecido por sua postura linha-dura, implementou uma guerra às drogas que resultou em milhares de mortes sem julgamento. Apesar da popularidade inicial, acompanhada de acusações de violações de direitos humanos, seu governo enfrentou críticas e, em 2025, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra ele. Uma pesquisa de Nico Ravanilla, da Universidade UC San Diego, e Enrico La Vinã, do Institute on Global Conflict and Cooperation, analisou resultados eleitorais e identificou que a repressão policial, quando evidente, enfraqueceu o apoio a esses políticos, enquanto o aumento da criminalidade impulsionou o apoio. Os autores concluíram que os eleitores recompensam o controle do crime, mas retiram o apoio quando o Estado excede os limites legais.
Para que esse efeito ocorra, as mortes precisam ser visíveis e os abusos, claros para o público. A violência repetida corrói a confiança pública, mesmo entre aqueles que inicialmente apoiavam medidas severas. Nico Ravanilla, um dos autores do estudo, explicou que políticas de linha-dura se transformam em símbolos, com líderes populistas identificando "inimigos" e usando a política como arma. O medo e a frustração são fortes motivadores, e as pessoas podem estar dispostas a abrir mão do devido processo legal em busca de ações visíveis. No entanto, o apoio tende a diminuir com o tempo, à medida que a política não cumpre suas promessas e a violência se torna mais evidente. O pesquisador ressalta que essas políticas geram dividendos políticos rápidos, mas poucos benefícios duradouros em termos de segurança. O Estado, ao construir uma burocracia em torno da repressão, adquire seu próprio impulso, e a política pode desaparecer da agenda do líder, mas suas instituições e apoiadores leais a mantêm viva. Ravanilla destaca que, nas Filipinas, prefeitos e chefes de polícia locais foram incentivados a demonstrar lealdade a Duterte, replicando a dinâmica em outros lugares, mesmo após a saída do líder.
O caso de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, reeleito em 2024 com ampla vantagem, também demonstra essa complexidade. Bukele é conhecido por sua política de segurança pública linha-dura, que reduziu a taxa de homicídios no país. No entanto, grupos de direitos humanos relatam prisões arbitrárias e violações. Pesquisas de opinião mostram que, embora Bukele ainda tenha alta popularidade, os índices estão em declínio, com questionamentos sobre economia e direitos humanos. Uma pesquisa do Instituto Universitário de Opinión Pública indicou que a população começa a questionar prisões e violações de direitos. A segurança continua sendo valorizada, mas questões como economia e prisões arbitrárias surgem como pontos críticos. O governo enfrenta o desafio de manter a legitimidade não apenas por meio da segurança, mas também por meio de respostas eficazes às demandas sociais, econômicas e institucionais.
Em artigo no Journal of Democracy, Manuel Meléndez-Sánchez e Alberto Vergara afirmam que políticas de linha-dura restringem direitos individuais e proteções contra abusos do Estado, raramente funcionam e acarretam altos custos para a democracia. Os pesquisadores explicam que essas políticas podem trazer resultados políticos no curto prazo, mas investir em soluções sustentáveis para a insegurança é um compromisso de longo prazo. O sucesso de Bukele, segundo os autores, envolveu condições excepcionais, como negociações com facções criminosas e a implementação de um regime de exceção que suspendeu direitos individuais. Bukele prendeu um número sem precedentes de pessoas, o que, para os pesquisadores, demonstra que a repressão tende a fracassar, pois os grupos criminosos têm incentivos para revidar com violência.
Rafael Alcadipani, professor da EAESP-FGV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), afirma que a postura de ser "duro contra o crime" ganha força após episódios como o do Rio. Ele acredita que outros governadores podem aprofundar esse tipo de política, buscando benefícios eleitorais. Alcadipani ressalta que operações policiais com mortes nem sempre são consideradas bem-sucedidas e que é preciso avaliar a quantidade de mandados expedidos e de prisões. Para ele, a ausência de planejamento estratégico e a falta de resultados em relação ao enfraquecimento do Comando Vermelho e à recuperação de território são problemáticas. O especialista acrescenta que ações desse tipo tendem a afetar a confiança pública nas instituições policiais, e que é preciso observar as consequências dessa operação e como isso vai se desdobrar.
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