A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa distante e se tornou uma realidade presente nas grandes corporações. De acordo com a McKinsey, 78% das organizações globais já incorporam a IA em suas operações, em pelo menos uma função de negócio. Os setores de tecnologia, telecomunicações, finanças e varejo lideram essa transformação, com taxas de adoção que variam entre 30% e 40%, além de testarem projetos-piloto e protótipos.
Após 30 anos dedicados à economia e à formulação de políticas, a autora fez uma escolha profissional significativa: ingressar na Wharton, escola de negócios da Universidade da Pensilvânia, para estudar as novas fronteiras da gestão e liderança. Um dos temas que mais chamou sua atenção foi a aplicação da inteligência artificial nas empresas, uma abordagem que integra tecnologia, estratégia e psicologia do trabalho. O desafio tem sido conectar essa visão organizacional ao que a economia ensina sobre produtividade, progresso e desigualdade.
Embora a adoção da IA seja ampla, as métricas claras de retorno sobre o investimento ainda são escassas. Ao questionar executivos sobre o monitoramento do retorno sobre o investimento em IA generativa (GenAI), a resposta foi quase unânime: poucos acompanham. A busca por eficiência é real, mas o aprendizado sobre seus efeitos ainda não é uma prioridade. Esse descompasso revela um ponto crucial: as organizações decidirão se usarão a tecnologia para substituir pessoas
ou para ampliar suas capacidades. A primeira opção pode gerar ganhos rápidos, mas superficiais; a segunda, por outro lado, cria inovação duradoura e confiança.
Como destacam Daron Acemoglu e Simon Johnson em "Poder e Progresso", o avanço tecnológico não é automaticamente sinônimo de prosperidade. Ao longo da história, o poder econômico se reorganizou em torno das máquinas, nem sempre em benefício da maioria. A tecnologia, quando utilizada para concentrar o controle, amplia as desigualdades; quando projetada para distribuir oportunidades, promove o bem-estar e o crescimento. O progresso não é linear nem neutro, mas sim resultado de decisões humanas e institucionais. A IA generativa redefine tarefas e papéis, mas também desafia o significado do trabalho. Ao automatizar o que antes expressava o talento humano, pode minar o senso de competência. Ao impor processos padronizados, reduz a autonomia. E, ao substituir interações humanas por algoritmos, fragiliza o pertencimento, dimensões que, segundo a psicologia do trabalho, sustentam o bem-estar e a produtividade.
A IA pode encurtar o caminho do aprendizado, mas a eficiência não deve substituir o amadurecimento. Estudos indicam que trabalhadores avaliados por algoritmos demonstram menos empatia e disposição para ajudar colegas. Consumidores, por sua vez, valorizam mais produtos quando percebem participação humana em sua criação. A tecnologia é a mesma, mas o design da interação é fundamental.
As decisões sobre IA acontecem em várias camadas, desde as equipes até os conselhos, dos algoritmos à regulação. Torná-las explícitas é essencial para que a cultura se traduza em padrões éticos e em métricas. A IA também pode abrir um novo ciclo de oportunidades. A GenAI pode transformar o processo de inovação, permitindo que mais pessoas criem, testem e proponham soluções apoiadas por IA, o que pode ser chamado de "torneios de inovação". O papel humano, nesse contexto, seria o de curador, não de executor. Empresas que souberem equilibrar a velocidade da máquina com o discernimento humano abrirão novos horizontes de vantagem competitiva.
O futuro da inovação não pertence apenas à tecnologia, mas à cultura que a envolve. As empresas que combinarem processos estruturados de experimentação com liberdade para imaginar criarão não apenas produtos, mas também significado. A verdadeira promessa da IA pode ser devolver às pessoas o tempo e a energia para pensar, criar e reinventar o progresso.
O avanço é veloz, e políticas de transição justa tornam-se urgentes, inclusive para apoiar quem será mais afetado e criar condições de reaprendizagem contínua. As escolhas serão moldadas pelos incentivos econômicos, pelas políticas públicas e pela forma como os mercados valorizam o investimento em pessoas. Se o sistema recompensar apenas ganhos de produtividade de curto prazo, o uso da IA tenderá à substituição e à concentração. Se, ao contrário, premiar a criação de valor humano e a difusão do conhecimento, o avanço tecnológico poderá se tornar um novo motor de prosperidade compartilhada. O desafio não é apenas das empresas, mas também da regulação: fazer com que o progresso técnico caminhe ao lado do progresso econômico e social. A inteligência artificial pode gerar abundância ou desigualdade. O resultado final dependerá das escolhas, incentivos e valores construídos em torno dela.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Folha
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