Surgidas em presídios, as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) têm ampliado sua atuação, migrando das áreas urbanas para o agronegócio. Inicialmente utilizado para lavagem de dinheiro, o campo se tornou uma fonte de lucro para o crime organizado, que agora atua na compra irregular de fazendas, produção de etanol, contrabando, roubo e falsificação de insumos agrícolas. As investigações policiais revelam esquemas de fraudes fiscais, sonegação de impostos e violência.
No mês passado, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Franca (SP) identificou ligações do PCC com o mercado ilegal de agrotóxicos, distribuindo produtos irregulares em todo o país e no exterior. A Operação Castelo de Areia revelou a participação da facção na falsificação de agroquímicos, com uma estrutura criminosa complexa que inclui a fabricação de embalagens falsas, emissão de notas fiscais frias e comercialização digital. As fórmulas, em muitos casos, são misturas irregulares, comprometendo a produtividade agrícola e aumentando riscos ambientais e à saúde. Franca, polo do agronegócio, tornou-se o principal centro de falsificação de agrotóxicos do país, com apreensões de embalagens que permitiriam a distribuição ilegal de grandes volumes de defensivos químicos.
Nilto Mendes, gerente da CropLife Brasil, destaca a crescente participação de facções criminosas nesse mercado, com estimativas
do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf) indicando que até 25% do mercado de defensivos químicos no país é ilegal, gerando prejuízos bilionários. A falsificação e a adulteração de agrotóxicos são práticas comuns, com produtos contrabandeados representando metade do mercado ilegal. O crime organizado explora rotas de contrabando, apreendendo cargas de produtos ilícitos juntamente com agrotóxicos. Em uma operação recente, foram apreendas 32 toneladas de agrotóxicos ilegais, a maior apreensão do tipo no ano.
Roubos e furtos de agroquímicos também preocupam o setor, com indícios de participação do PCC em roubos desde 2016. Em 2019, a Polícia Civil do Mato Grosso apontou o envolvimento do CV. A menor presença policial em áreas rurais e o alto valor dos produtos atraem criminosos. A Croplife, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), oferece um programa de formação no combate aos mercados ilícitos.
A Operação Carbono Oculto revelou a participação do PCC no setor sucroalcooleiro, controlando usinas e fazendas, além de uma frota de caminhões para transporte de combustíveis adulterados. A facção acumulava lucros com sonegação fiscal e aquisições irregulares, ameaçando produtores. Suspeita-se que incêndios criminosos em canaviais tenham sido ordenados pelo PCC para pressionar produtores a vender suas propriedades, causando prejuízos milionários.
A estratégia de usar o agronegócio para lavagem de dinheiro não é recente. O ex-juiz federal Odilon de Oliveira denunciou esquemas de compra e venda fictícias de gado para ocultar a movimentação financeira do tráfico de drogas. O agronegócio se tornou um dos destinos preferenciais das remessas do crime organizado.
Facções menores também atuam no agronegócio, utilizando pistas de pouso em fazendas para o tráfico de drogas. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) têm intensificado as apreensões de agrotóxicos ilegais. Um estudo do Ipea destaca a atuação de facções na região do Matopiba, aumentando os conflitos violentos.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) apresentou um pacote de segurança no campo, com propostas legislativas para ampliar a proteção da população rural e combater o crime organizado. O deputado José Medeiros relatou reclamações de produtores sobre cobranças de taxas e ameaças. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, apresentou políticas para combater o crime no meio rural, incluindo a criação de grupos de investigação e a Operação Safra Segura.
Nilto Mendes, da Croplife, ressalta a importância econômica do agronegócio, que atrai a atenção das facções criminosas. A grande extensão de terras e a vulnerabilidade regulatória tornam o setor alvo do crime organizado. Uma operação da Polícia Civil do Piauí revelou a participação do PCC na distribuição e revenda de combustíveis, mostrando como as facções enxergam a lavagem de dinheiro como um negócio lucrativo, com fraude fiscal e concorrência desleal.
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com base em reportagem publicada em
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