Etiópia Acusa Eritreia de Preparar Guerra em Meio a Crescente Tensão no Mar Vermelho: O Que Está Acontecendo?

A Etiópia acusa a Eritreia de financiar e apoiar grupos armados na região de Amhara, enquanto busca acesso ao Mar Vermelho. A rivalidade histórica e as tensões políticas reacendem o temor de um novo conflito.

De acordo com alegações de Gedion, a Eritreia estaria envolvida em uma guerra por procuração contra o governo do primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, visando impedir uma possível incursão militar etíope para tomar portos no Mar Vermelho. Entre 1998 e 2000, Etiópia e Eritreia travaram uma guerra pelo controle da cidade fronteiriça de Badme, resultando em dezenas de milhares de mortes. Após Abiy assumir o cargo em 2018, ele buscou reduzir as tensões, estabelecendo uma forte aliança com o presidente eritreu Isaias Afwerki. No entanto, as relações se deterioraram, com o acesso ao Mar Vermelho se tornando um ponto crítico. Em uma carta vista pela agência de notícias AFP, Gedion acusou a Eritreia e uma facção linha-dura da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF) de "financiar, mobilizar e direcionar grupos armados" na região de Amhara, onde milicianos conhecidos como Fano têm lutado contra o governo federal. A AFP citou a carta, afirmando que "a facção linha-dura da TPLF e o governo eritreu estão ativamente se preparando para travar uma guerra contra a Etiópia". A BBC Amharic entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores da Etiópia para confirmar a autenticidade da carta, mas não obteve resposta até o momento. A carta tem circulado amplamente nas redes sociais entre os apoiadores do governo etíope. Uma facção da TPLF, liderada por Debretsion Gebremichael, controla o governo na região de Tigray, na Etiópia, que faz fronteira com

a Eritreia. Essa facção acusa o governo de Abiy de não implementar totalmente um acordo de paz de 2022 para encerrar o conflito em Tigray, e afirma que outra facção da TPLF, liderada por Getachew Reda, está em conluio com Adis Abeba. A Eritreia lutou ao lado do exército etíope no conflito, mas não fez parte do acordo e agora é acusada de formar uma aliança com a facção TPLF liderada por Debretsion. Paralelamente, a Etiópia enfrenta um conflito cada vez mais brutal na região de Amhara, após as milícias Fano – anteriormente aliadas ao governo de Abiy contra a TPLF – rejeitarem a desmobilização e afirmarem estar defendendo o grupo étnico Amhara de atrocidades governamentais. Os Fano parecem estar expandindo sua agenda para derrubar o governo de Abiy, realizando operações cada vez mais letais. O jornal Addis Standard, de propriedade privada na Etiópia, relatou que a carta do ministro das Relações Exteriores acusava a Eritreia e os linha-dura da TPLF de apoiar os esforços do Fano para capturar a cidade de Woldiya, na região de Amhara, em setembro. Comandantes e combatentes da TPLF teriam participado diretamente da operação, segundo o jornal. O ministro afirmou que a Eritreia estava tentando desestabilizar a Etiópia, sentindo-se ameaçada pela tentativa de Adis Abeba de obter acesso ao Mar Vermelho, informou o jornal. Desde outubro de 2023, a Etiópia, que não tem acesso ao mar, tem pressionado por um novo acesso ao Mar Vermelho, argumentando que errou ao abrir mão do controle dos portos para a Eritreia no momento de sua independência. Na segunda-feira, no parlamento etíope, o presidente Taye Atske Selassie descreveu o Mar Vermelho e o Rio Nilo como "grandes recursos hídricos, que são essenciais para a existência do nosso país". Isso gerou uma forte repreensão do ministro da Informação da Eritreia, Yemane Gebremeskel, que considerou a retórica "chula e patética demais para ser vendida". Ele acrescentou que a "obsessão" do partido governante etíope com o Mar Vermelho e o Rio Nilo era "bizarra e alucinante em todos os sentidos".

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