Por Joyce Chimbi (Belém, Brasil) Segunda-feira, 17 de novembro de 2025 Inter Press Service
Se o mundo implementar todas as soluções climáticas azuis, incluindo a proteção de manguezais, a restauração de áreas úmidas, o investimento em carbono azul e a remoção de dióxido de carbono marinho, haverá uma redução de 35% nas emissões de CO₂. — Kerstin Bergentz, cientista oceânica
BELÉM, Brasil, 17 de novembro (IPS) - O 'Mutirão' entrou pela primeira vez no discurso climático global na primeira carta do Embaixador André Corrêa do Lago ao mundo, enviada em março de 2025 como parte de sua presidência da COP30. "A cultura brasileira herdou dos povos indígenas nativos brasileiros o conceito de 'Mutirão' ou Motirô na língua Tupi-Guarani. Refere-se a uma comunidade que se une para trabalhar em uma tarefa compartilhada, seja colhendo, construindo ou apoiando uns aos outros", escreveu ele. Como uma nação de futebol, ele garantiu ao mundo que a comunidade global pode vencer a luta climática com a "virada", que significa "lutar para reverter o jogo quando a derrota parece quase certa".
Delegados afirmam que a abordagem Mutirão da COP30, inspirada na tradição brasileira de comunidades que trabalham juntas para resolver problemas compartilhados, é adequada para o momento em meio à escalada das crises climáticas. É importante ressaltar que o Brasil enquadrou o oceano como uma prioridade emergente. A abordagem Mutirão para o plano oceânico da COP30 é
uma estratégia colaborativa e orientada para a ação, enfatizando o papel do oceano nas mudanças climáticas, passando da negociação para a implementação. O plano é chamado de Mutirão Azul e integra soluções para oceanos, cidades, água e infraestrutura, incentivando a participação de governos, empresas e comunidades para alcançar ações e compromissos climáticos oceânicos tangíveis.
O espírito Mutirão agora incorporará os esforços internacionais para reduzir as emissões e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. "Pesquiso oceanografia física e energia no sistema climático. E o que gostaríamos de ver nesta COP (Conferência das Partes) é mais foco em soluções climáticas azuis", diz Kerstin Bergentz, da Scripps Institution of Oceanography, da Universidade da Califórnia, San Diego. Ela disse à IPS que, se o mundo "implementasse todas as soluções climáticas azuis que existem, incluindo a proteção de manguezais, a restauração de áreas úmidas, o investimento em carbono azul em todas as formas e tamanhos e a remoção de dióxido de carbono marinho, essas soluções climáticas azuis têm o potencial de fornecer 35% das reduções de emissões de CO₂ que precisamos ver até 2050, a fim de atingir nossa meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius".
"Infelizmente, o financiamento climático para projetos oceânicos ou soluções baseadas no oceano é inferior a 1% no momento. E, portanto, o que gostaríamos de ver é mais foco no oceano, porque o futuro não é apenas verde - é também azul", disse Anya Stajner, também da Scripps Institution of Oceanography, Universidade da Califórnia San Diego, à IPS, que o oceano representa "mais de dois terços do nosso planeta e não deve mais ser uma conversa paralela durante essas negociações. O oceano é um importante controle climático. Ele absorve até 90% do excesso de calor na atmosfera, mantendo nossa Terra 55 graus mais fria do que seria de outra forma".
As correntes oceânicas, frequentemente referidas como a "grande correia transportadora oceânica", transportam água quente dos trópicos para os polos e água fria de volta para o equador. Essa circulação ajuda a distribuir o calor ao redor do planeta, moderando os climas regionais; sem ela, as temperaturas seriam muito mais extremas. "Alguns alunos da Scripps Institution of Oceanography fizeram uma análise para ver com que frequência o oceano é mencionado nas Contribuições Nacionalmente Determinadas - o plano de um país para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptar ao impacto das mudanças climáticas".
"Eles descobriram que, embora o número de menções tenha aumentado e se tornado mais significativo nos últimos cinco anos, ainda não é central o suficiente para a discussão". As conversas climáticas de Belém podem mudar o rumo. A nomeação de Marinez Scherer como Enviada Especial para os Oceanos pela Presidência brasileira e a adoção da abordagem Mutirão estão aproximando o oceano do epicentro das negociações e da diplomacia climática global. Na COP30, o oceano está sendo cada vez mais posicionado como um parceiro na mitigação e adaptação para a proteção de comunidades costeiras e insulares vulneráveis na linha de frente da crise climática.
O financiamento oceânico na COP30 é um foco importante, visando garantir financiamento previsível, acessível e direcionado para soluções climáticas baseadas no oceano e a economia azul sustentável. As principais metas incluem a criação de janelas de financiamento dedicadas, a integração da saúde oceânica nos planos climáticos nacionais ou NDCs Azuis e a mobilização de investimento público e privado para mitigação, adaptação e ciência baseadas no oceano. NDCs Azuis são Contribuições Nacionalmente Determinadas que integram explicitamente soluções climáticas baseadas no oceano. Isso surgiu do Blue NDC Challenge, uma iniciativa lançada pelo Brasil e pela França na Conferência da ONU sobre os oceanos em Nice, em junho de 2025, para instar os países a incluir ações climáticas com foco no oceano em seus planos climáticos nacionais antes da COP30. As ações mencionadas variam da restauração de ecossistemas costeiros e adaptação de indústrias marítimas à promoção de energia renovável baseada no oceano.
Onze países já se comprometeram com o Blue NDC Challenge, incluindo Brasil, França, Austrália, Chile, Fiji, Quênia, Madagascar, México, Palau, República de Seychelles e Reino Unido. Azuis ou verdes, as NDCs são importantes porque são o principal mecanismo para os países estabelecerem e cumprirem as metas climáticas no âmbito do Acordo de Paris. Esses países colocaram explicitamente o recurso oceânico em seu plano de impacto climático. As NDCs são os veículos pelos quais os compromissos internacionais se traduzem em ações nacionais.
No geral, a partir da abertura oficial da COP30 em Belém, em 10 de novembro de 2025, mais de 100 países, representando pelo menos 70% das emissões globais, apresentaram novas NDCs. Entre o G20 - os maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo - 12 apresentaram suas novas NDCs. As NDCs Azuis, em particular, facilitam a integração do oceano nas metas climáticas nacionais, apoiando iniciativas como o Mangrove Breakthrough e fortalecendo a governança oceânica por meio de estruturas como o Acordo BBNJ. Como o Acordo de Paris, o Acordo BBNJ é um tratado internacional juridicamente vinculativo para a conservação e o uso sustentável da diversidade biológica marinha em áreas além da jurisdição nacional ou em alto mar. Adotado em 2023, o BBNJ ou o tratado de alto mar entrará em vigor no início de 2026, após atingir 60 ratificações. Na COP30, o Tratado de Alto Mar é o item mais concreto relacionado ao oceano em discussão, e o Brasil se comprometeu a ratificá-lo até o final deste ano.
No geral, o tratado estabelece uma estrutura global para questões como ferramentas de gestão baseadas em áreas, incluindo áreas marinhas protegidas, avaliações de impacto ambiental e compartilhamento equitativo de benefícios de recursos genéticos marinhos. "O Tratado de Alto Mar é uma vitória para o multilateralismo porque permite que os governos trabalhem juntos para proteger mais dos oceanos que vão além de nossas zonas econômicas exclusivas", enfatizou Stajner. "Houve muita conversa nas últimas décadas de COPs e temos planos e agora é sobre impulsionar esses planos. E acho que o Tratado de Alto Mar é um exemplo de como isso está avançando". "E, portanto, esta COP é toda sobre ação e implementação para o oceano".
Este artigo é publicado com o apoio da Open Society Foundations. IPS UN Bureau Report © Inter Press Service (20251117140106) — Todos os direitos reservados. Fonte original: Inter Press Service
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