Atleta Queniano Preso na Ucrânia Revela Engano: 'Fui Levado para a Guerra'

O corredor queniano Evans Kibet, capturado enquanto lutava pelas forças russas na Ucrânia, relata ter sido enganado e forçado a assinar um contrato militar russo que não conseguia ler ou entender. Atualmente detido em uma prisão ucraniana, Kibet revelou à AFP que nunca teria ido para a Rússia se soubesse a verdade. Ele veio para a Rússia para um evento esportivo, mas foi levado para um campo de treinamento militar e enviado para lutar na Ucrânia. A história de Kibet lança luz sobre o crescente número de africanos que afirmam ter sido enganados para se juntarem ao exército russo, alguns por meio de agências de recrutamento que prometem salários altos, outros por meio de golpes descarados. "A armadilha é que você assina esse contrato sem saber", disse ele à AFP em sua cela, com os olhos avermelhados e o rosto abatido. "Eles não te forçam." A Ucrânia facilitou o acesso de jornalistas, incluindo a AFP, a Kibet, que está detido em uma instalação no oeste da Ucrânia. Estima-se que mais de 1.400 cidadãos de 36 países africanos estejam lutando ao lado da Rússia na Ucrânia, de acordo com estimativas ucranianas. Kibet, que foi capturado perto da cidade de Vovchansk, no nordeste da Ucrânia, após ficar perdido na floresta por três dias, disse que, ao chegar à Rússia, foi apresentado a um contrato de trabalho como segurança. "Estava escrito em russo", disse ele à AFP. "E eu não conseguia ler." Ele só percebeu que era um contrato militar quando o levaram

para um campo de treinamento, disse ele. Kibet disse que sua conta bancária foi congelada e seus documentos confiscados, então não havia como escapar. "Eu não planejei isso, ir para a Rússia", disse ele à AFP. O atleta de longa distância, que começou a correr aos 14 anos e agora está na casa dos 30 anos, disse que não queria discutir seu tempo na linha de frente - uma experiência que, segundo ele, lhe deu pesadelos. Mas ele se lembra do momento em que foi capturado depois de passar três dias na selva. "Deus salvou minha vida", disse ele à AFP. "Ouvi alguém atirando de algum lugar, e fui para lá", sem saber se o tiroteio era russo ou ucraniano, disse ele à AFP. "Não quero saber quem, desde que possa conseguir alguém para me ajudar", disse ele. Ele duvidava que fosse libertado em breve. A Ucrânia e a Rússia trocaram milhares de prisioneiros de guerra desde o início da invasão em fevereiro de 2022. Não está claro quantos eram cidadãos estrangeiros. A Ucrânia pediu que as tropas estrangeiras que lutam pela Rússia se rendam, dizendo que o cativeiro oferece um "bilhete para a vida" e a chance de voltar para casa. A Ucrânia não disse quando Kibet, que está disponível para entrevistas à mídia, seria libertado. Na mesma prisão, a AFP encontrou detentos do Togo, Camarões e Nigéria. Em abril, o Togo alertou seus cidadãos contra a aceitação de bolsas de estudo na Rússia depois que um de seus cidadãos foi capturado na linha de frente. Familiares em Camarões também disseram à AFP sobre parentes atraídos para a Rússia com bônus de US$ 4.000 e cidadania russa. Além de homens enviados para a linha de frente, houve relatos de mulheres atraídas a irem para a Rússia com a promessa de contratos lucrativos, apenas para se encontrarem trabalhando em fábricas de drones. Contactados pela AFP, os parentes de Kibet o descreveram como um homem bem-intencionado de origem "humilde" que pensava que estava viajando para Moscou para uma corrida. Kibet foi condenado a 15 anos de prisão por tentativa de assassinato no Quênia, mas uma decisão de março de 2019 considerou seu julgamento injusto. De sua cela na Ucrânia ocidental, ele disse à AFP que esperava voltar a treinar, mas não conseguia apagar as memórias que tinha visto.

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