Autoridades alemãs celebraram a iniciativa como um passo importante para fortalecer as ambições digitais do país. O plano envolve a criação de data centers, essenciais para que grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs, possam manter suas ferramentas de inteligência artificial (IA) operando. Karsten Wildberger, ministro responsável pela digitalização, declarou à agência Reuters que o objetivo é tornar a Alemanha líder em data centers na Europa. A ministra de Pesquisa e Tecnologia, Dorothee Bär, afirmou que a decisão trará "crescimento e valor agregado" ao país. O ministro das Finanças, Lars Klingbeil, também se mostrou entusiasmado, descrevendo os planos como um "investimento genuíno no futuro" e parte de uma transformação neutra em carbono.
A expectativa é que o Google, por exemplo, gere nove mil empregos por ano na Alemanha até 2029. Apesar do otimismo, especialistas alertam para possíveis pontos negativos. Katharina Hölzle, diretora do Instituto Fraunhofer em Stuttgart, aponta para o risco de novas formas de dependência do capital externo. Em entrevista à DW, ela argumenta que a construção dessas infraestruturas pode dificultar a autonomia futura do país. A preocupação com a soberania digital da Alemanha tem crescido, especialmente devido ao armazenamento de dados em larga escala. Wolfgang Eppler, pesquisador do Instituto de Avaliação de Tecnologia e Análise de Sistemas (ITAS, na sigla em alemão), em Karlsruhe, considera o investimento
anunciado baixo em comparação com os gastos nos EUA. Ele ressalta a diferença entre os investimentos europeus e os dos Estados Unidos, onde empresas como Microsoft, Google e startups como a OpenAI estão investindo somas significativas na expansão da capacidade computacional de IA.
De acordo com a agência de notícias Bloomberg, o projeto do Google na Alemanha poderá utilizar até 10 mil unidades de processamento gráfico (GPUs). Para efeito de comparação, um único centro de processamento de dados no Texas, apoiado pela SoftBank, OpenAI e Oracle, planeja usar 500 mil GPUs. O Google não está sozinho na aposta na economia de dados da Alemanha. A Deutsche Telekom, operadora de telecomunicações alemã, e a Nvidia, fabricante americana de chips de IA, anunciaram um projeto conjunto de centro de processamento de dados de 1 bilhão de euros (R$ 5,3 bilhões). Segundo a associação do setor Bitkom, o investimento total em centros de processamento de dados na Alemanha deve alcançar 12 bilhões de euros (R$ 63,2 bilhões) neste ano. A empresa francesa Data4 anunciou planos de investir cerca de 2 bilhões de euros (R$ 10,6 bilhões) e iniciou a construção de sua primeira unidade alemã em Hanau. O Innovation Park for Artificial Intelligence (IPAI), em Heilbronn, cidade próxima a Stuttgart, tem a meta de se tornar o maior ecossistema de IA da Europa, com foco em design de chips. A União Europeia (UE) também está trabalhando para reduzir a lacuna tecnológica. Em fevereiro, o bloco revelou um plano de 200 bilhões de euros (R$ 1 trilhão) para impulsionar o desenvolvimento de IA e triplicar a capacidade da região para esses sistemas até 2032. A Deutsche Telekom estaria em negociações com diversas empresas sobre a construção das chamadas gigafábricas de IA, embora o progresso esteja lento e a UE ainda não tenha definido como avaliará os projetos ou alocará os recursos.
Um estudo recente da Bitkom indicou que a capacidade total de servidores da Alemanha deve quase dobrar, chegando a 5 gigawatts até 2030. Alcançar a neutralidade de carbono total em um centro de processamento de dados, como o ministro das Finanças pregou, ainda é um desafio, segundo Hölzle, do Fraunhofer, que mantém um otimismo cauteloso. Ela afirma que não sabe se será possível atingir zero emissões, mas que é importante pensar em como desenvolver as tecnologias que serão usadas nesses centros, mesmo que a Alemanha não construa seus próprios data centers. O Google afirma que suas novas instalações na Alemanha serão construídas com foco na sustentabilidade. A empresa planeja capturar e reutilizar o calor residual de seu centro de processamento de dados próximo a Frankfurt, direcionando-o à rede de aquecimento distrital da concessionária regional EVO. O sistema poderia fornecer água quente e aquecimento para mais de 2 mil residências próximas.
Tanto Hölzle quanto Eppler aconselham os políticos alemães a estarem atentos. Eppler adverte que a Alemanha não deve se tornar dependente demais das big techs americanas, ressaltando que, no caso do Google, trata-se de uma empresa americana que irá armazenar e processar dados gerados no país. Hölzle considera positivo o aumento da discussão sobre soberania digital nos últimos 12 meses, mas enfatiza a importância de a política alemã prestar atenção em onde os dados são armazenados e quem tem acesso a eles, pois isso é fundamental para proteger a competitividade da indústria alemã.
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