Por Mauricio Savarese, Associated Press. BELEM, Brasil — A falsa acusação de ter provocado incêndios na Amazônia, com recursos de um ator ganhador do Oscar, acabou se tornando uma virada inesperada para Caetano Scannavino, coordenador de uma organização sem fins lucrativos no coração da floresta tropical. Em novembro de 2019, o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, acusou falsamente o ator Leonardo DiCaprio de financiar grupos que, supostamente, seriam responsáveis pelos incêndios. A acusação, embora falsa, gerou riscos para Scannavino e seu trabalho de promoção do desenvolvimento sustentável e dos direitos dos cidadãos em uma região ao longo do rio Tapajós, famosa por sua combinação de floresta e praias, atraindo muitos turistas. Quatro amigos de Scannavino, que atuavam como bombeiros florestais voluntários, foram presos por dois dias e posteriormente processados como supostos responsáveis pelos incêndios na região, mas foram inocentados mais tarde. A polícia analisou documentos da organização Saúde e Alegria de Scannavino por semanas. Scannavino recebeu ameaças anônimas e seu carro foi incendiado. DiCaprio toma conhecimento. Os comentários de Bolsonaro, no entanto, fizeram com que DiCaprio tomasse conhecimento do trabalho de Scannavino e decidisse patrociná-lo por meio da Re:wild, uma organização de conservação sem fins lucrativos que o ator ajudou a fundar. A parceria já dura cinco anos, conforme relatou o ativista brasileiro. “Quando
as acusações surgiram, DiCaprio se manifestou dizendo que não nos financiava, mas acrescentou que merecíamos seu apoio depois de ver nosso trabalho”, disse Scannavino à Associated Press em entrevista por telefone. “Nunca estive com ele ou falei com ele. Mas ele nos dá apoio, usa suas redes sociais para mostrar o que essa parceria faz.” Scannavino, de 59 anos, tornou-se coordenador da Saúde e Alegria em 1988, com o objetivo de promover o desenvolvimento comunitário integrado e sustentável no estado do Pará, cuja capital, Belém, sediará a Conferência das Partes das Nações Unidas, ou COP30, na próxima semana. Scannavino chegou a Belém na terça-feira, vindo de Santarém, cidade onde a iniciativa está sediada, após uma viagem de barco de dois dias, com transmissões com jornalistas, ativistas e especialistas em clima. Polo de produtos locais. O projeto começou como uma iniciativa de cuidados com a saúde, mas desde então cresceu e passou a trabalhar com comunidades rurais para melhorar sua qualidade de vida e o exercício da cidadania. Um projeto patrocinado pelo instituto de DiCaprio é o EcoCentro de Economia Florestal em Santarém, que serve como um centro para processamento, armazenamento e comercialização de produtos feitos por moradores locais. Os organizadores afirmam que a instalação aumenta a viabilidade econômica das práticas sustentáveis na região. O centro foi inaugurado há um ano e também conta com o apoio dos governos do Brasil, Alemanha e Noruega, todos contribuintes do Fundo Amazônia, uma iniciativa brasileira que financia esforços de combate ao desmatamento e desenvolvimento sustentável. Scannavino afirmou que a iniciativa custou cerca de 5 milhões de reais (US$ 938.000), financiados principalmente pelo Fundo Amazônia. “Aqueles primeiros dias após a acusação de Bolsonaro foram terríveis. As pessoas nos insultavam e a nossas famílias nas ruas, os bombeiros tiveram que sair. Mas então aconteceu uma coisa surpreendente”, disse Scannavino. “Normalmente, as pessoas se afastam de você se um alvo tão grande aparece nas suas costas. Foi o oposto conosco. Eventualmente, as acusações desapareceram, os bombeiros foram libertados e as pessoas ficaram curiosas sobre nós — incluindo DiCaprio”, acrescentou. ‘Enfrentar o momento’. Em uma postagem no Instagram esta semana, DiCaprio afirmou que os líderes mundiais reunidos no Brasil devem garantir que aqueles que defendem a natureza tenham os recursos necessários. Ele disse que a Re:wild está prometendo mais dinheiro para proteger as florestas. “Peço aos líderes que se unam e enfrentem o momento”, disse ele. “Nosso futuro depende disso.” A AP enviou um e-mail para a Re:wild em busca de mais comentários sobre seu trabalho com Scannavino e na COP30. Scannavino, que deixou a metrópole brasileira de São Paulo para a Amazônia há mais de 37 anos, disse que DiCaprio e outros apoiadores de sua organização sem fins lucrativos também vieram em apoio porque ele escolheu mostrar a Bolsonaro que estava trabalhando com o apoio da polícia local e das forças armadas, em vez de tentar marcar pontos políticos. O ex-presidente foi recentemente condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe em 2023, após perder sua tentativa de reeleição. “Nossos críticos são especialistas em ódio, e desde aquele incidente optamos por ser educados, fornecer evidências de que trabalhamos com todas as partes interessadas, todos que importavam na região. Recusamos deixar nossas comunidades locais sem a devida assistência médica apenas por causa de uma acusação absurda”, disse Scannavino. Muitos prêmios e reconhecimentos depois, Scannavino deve se encontrar com autoridades da Re:wild e, talvez, com o próprio DiCaprio na COP30. Scannavino disse que quase encontrou DiCaprio há cerca de 20 anos, enquanto preparava uma exposição fotográfica em Nova York. Ele contou que a equipe que preparava a exposição fotográfica não reconheceu o ator sob um boné e reclamou que ele estava atrapalhando, então ele foi embora. “Pouco tempo depois, nossa produtora correu para me dizer que era Leonardo DiCaprio”, disse Scannavino. “Eu disse a ela para correr atrás dele e trazê-lo de volta. Ela o alcançou em sua bicicleta a poucos quarteirões de distância. Ele agradeceu, mas teve que ir embora. “Espero que o próximo encontro seja bem diferente, para que possamos agradecê-lo devidamente”, acrescentou. Siga a cobertura da AP sobre a América Latina em https://apnews.com/hub/latin-america. A cobertura climática e ambiental da Associated Press recebe apoio financeiro de várias fundações privadas. A AP é a única responsável por todo o conteúdo. Encontre os padrões da AP para trabalhar com instituições de caridade, uma lista de apoiadores e áreas de cobertura financiadas em AP.org.
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com base em reportagem publicada em
Mercurynews
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