O título é alarmante: um novo estudo aponta que as emissões globais de CO2 provenientes de combustíveis fósseis atingirão um novo recorde em 2025. O relatório, divulgado em meio à COP30 em Belém, no coração da Amazônia, revela que o mundo emitirá cerca de 38,1 bilhões de toneladas de CO2 provenientes de petróleo, gás e carvão neste ano, um aumento de 1,1% em relação ao ano anterior. Se forem incluídas as emissões de cimento e mudanças no uso da terra, como desmatamento, o total chega a aproximadamente 42,2 bilhões de toneladas.
Esses números abstratos ganham significado ao considerar suas implicações: o relatório calcula que restam apenas 170 bilhões de toneladas de CO2 se quisermos ter uma chance de limitar o aquecimento global a 1,5°C. No ritmo atual, essa "reserva" durará cerca de quatro anos.
Quando os cientistas falam sobre um "orçamento de carbono", eles estão sendo precisos, não dramáticos. É uma contabilidade do que a atmosfera pode tolerar antes que as formas mais perigosas de perturbação climática se tornem irreversíveis. O novo Global Carbon Budget, compilado por uma equipe internacional de especialistas e lançado enquanto os delegados se reúnem para a COP30 na Amazônia brasileira, soa como um aviso: o mundo está consumindo essa reserva em um ritmo que poucos esperavam, e as energias renováveis, embora em crescimento acelerado, ainda não estão avançando rápido o suficiente para compensar o aumento da demanda energética
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"Já passamos do ponto em que 1,5 grau é uma meta plausível para os formuladores de políticas que esperam", disse um membro da equipe do relatório. "Isso não significa que a adaptação seja fútil ou a descarbonização irrelevante, mas sim que os prazos encolheram."
O relatório apresenta dados concretos: 38,1 bilhões de toneladas de CO2 de combustíveis fósseis em 2025; 42,2 bilhões de toneladas incluindo o uso da terra; um orçamento restante de 170 bilhões de toneladas para atingir 1,5°C, o que, com as emissões atuais, significa apenas quatro anos.
A COP30 em Belém tem a sensação de uma reunião onde um dos principais "membros da família" não compareceu: os Estados Unidos, o segundo maior emissor histórico do mundo, está notavelmente ausente. Essa ausência intensificou as tensões e deu aos corredores da cúpula uma atmosfera de desconforto.
"Não podemos negociar nossa saída da física", disse um ministro do meio ambiente de uma pequena nação insular em um evento paralelo, com a voz carregada pela experiência vivida do aumento do nível do mar. "Quando países que ainda emitem em níveis elevados evitam a conversa, não é apenas rude, é perigoso."
Em Belém, a proximidade da Amazônia confere às conversas um simbolismo poderoso. Pescadores locais, líderes comunitários e delegados indígenas lembram aos políticos visitantes que a floresta tropical não é apenas um cenário para as negociações, mas um sistema vivo sob estresse, cuja saúde está intimamente ligada às emissões globais.
"Vemos as chuvas mudarem", disse Rosa, uma organizadora comunitária que cresceu nas margens do rio Guamá. "Temos memórias das estações. Essas mudanças não são números para nós - nossas colheitas, nossos filhos, nossas histórias mudam."
As tendências globais são desiguais. O relatório observa que as emissões de combustíveis fósseis estão aumentando em petróleo, gás e carvão. Nos Estados Unidos, as emissões de carvão aumentaram cerca de 7,5% este ano, à medida que os preços mais altos do gás impulsionaram a geração de energia de volta ao carvão. O clima mais quente do que a média em alguns meses e os invernos mais frios em outros aumentaram a demanda por aquecimento e eletricidade nos EUA e em partes da Europa, revertendo brevemente os declínios recentes.
As emissões da China parecem, em grande parte, estáveis este ano, particularmente as emissões de carvão, o que oferece uma esperança de que as energias renováveis possam começar a capturar mais da crescente demanda de energia do país. Mas especialistas alertam que a incerteza política e a escala do sistema industrial da China significam que é muito cedo para declarar um pico.
A história da Índia é ligeiramente diferente: uma monção precoce e uma rápida expansão da capacidade solar e eólica ajudaram a manter seu aumento de CO2 mais modesto do que nos anos anteriores. E em todo o mundo, 35 países conseguiram um feito que antes era considerado raro: reduzir as emissões de CO2 enquanto aumentam suas economias - o dobro do número de uma década atrás.
O estudo também descobriu que as emissões do uso da terra - a combinação de desmatamento, incêndios e reflorestamento - foram menores do que no passado recente, em parte porque a América do Sul experimentou menos incêndios catastróficos após o fim de uma fase seca do El Niño em 2023-24. Essa é uma boa notícia, mas frágil: decisões políticas, pressões agrícolas e variabilidade climática podem reverter esses ganhos rapidamente.
"Quando os governos impõem proteções ou quando os agricultores obtêm incentivos para manter as árvores em pé, vemos benefícios imediatos", disse um cientista de conservação da Amazônia em um painel da COP30. "Mas esses ganhos são reversíveis se a política ou a economia mudarem."
Como devemos reagir a um relatório que parece tanto um diagnóstico quanto um desafio? Primeiro, reconhecer que esta não é apenas uma conversa técnica. É ética, econômica e geopolítica. O aumento desigual das emissões ressalta as profundas desigualdades: aqueles menos responsáveis pela crise - pequenos estados insulares, comunidades indígenas, regiões de baixa renda - estão entre os mais em risco.
Em segundo lugar, o fato de dezenas de países já estarem cortando emissões enquanto aumentam o PIB fornece uma narrativa prática que contraria a ideia de que a descarbonização equivale ao declínio. Mostra que as escolhas políticas, de investimento e sociais podem separar a saúde econômica da intensidade de carbono.
Em terceiro lugar, as transições energéticas exigem não apenas tecnologia, mas política: estruturas políticas estáveis, incentivos claros e cooperação internacional. Quando os preços do gás disparam e o carvão parece mais barato, nossos sistemas podem retroceder. Isso não é uma falha da física; é uma falha no projeto de políticas.
É hora de refletir: o que significa ter apenas quatro anos de orçamento de carbono restante para a forma como vivemos, votamos e investimos? Se manter abaixo de 1,5°C é agora efetivamente inatingível sem ação dramática e imediata, o que isso faz com as ideias de justiça, responsabilidade e solidariedade? Aqui em Belém, a umidade da floresta tropical pressiona contra as janelas da conferência, e as pessoas reunidas lá falam menos de culpa e mais sobre o que deve ser feito a seguir. Mais energias renováveis, sim. Maior eficiência energética, absolutamente. Mas também fluxos financeiros para proteger paisagens, apoio para comunidades na linha de frente e coragem política para escolher a estabilidade de longo prazo em vez do conforto de curto prazo. Não estamos sem opções. Estamos sem desculpas. A contabilidade é pública. A questão é se a humanidade finalmente alinhará sua política com a aritmética.
📝 Sobre este conteúdo
Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Jowhar
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