Um título marcante: "Um Caixão, Uma Encruzilhada: O Que um Corpo Devolvido Revela Sobre o Frágil Cessar-Fogo de Gaza". O som metálico da coluna da Cruz Vermelha é um prenúncio que prende a respiração – não por expectativa, mas por uma esperança cansada e frágil. Sob a luz alaranjada de holofotes e o cheiro salgado do vento mediterrâneo, um caixão, supostamente contendo os restos mortais de um refém, foi entregue em Gaza. A operação, que envolveu a transferência para as mãos do exército israelense, foi conduzida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, conforme declaração militar israelense. Para as famílias de ambos os lados do conflito, um único caixão pode ser a porta de entrada para a dor, a verdade e o encerramento. A comoção é grande. "Disseram para estarmos prontos", disse uma mulher que se descreveu como tia de uma pessoa desaparecida, com a voz embargada ao telefone. "A semana toda, meu irmão acordava e perguntava se o telefone tinha tocado. Quando tocou à noite, foi como um golpe e um bálsamo ao mesmo tempo." Essa entrega é uma pequena parte de uma pausa maior: um cessar-fogo mediado pelos EUA, negociado com Egito, Catar e Turquia, que paralisou os principais combates. Essa pausa expôs o quão frágil pode ser quando o trabalho de enterrar os mortos, identificar corpos e devolver entes queridos colide com política, engenharia e a devastação da guerra.
Números registram o que aconteceu e o que permanece sem solução. Israel recebeu
nove dos 28 corpos que o Hamas manteve em Gaza. Vinte reféns vivos foram libertados em 7 de outubro de 2023. Dezenas de pessoas continuam desaparecidas, e as famílias aguardam cada detalhe com paciência. O Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas, contabilizou pelo menos 67.967 mortes desde o início da guerra – número considerado confiável pelas Nações Unidas, embora não diferencie civis e combatentes. Agências internacionais alertam que mais da metade das vítimas são mulheres e crianças. Esses números não são abstratos: são uma série de funerais, cadeiras vazias à mesa, escolas transformadas em valas comuns e hospitais reduzidos a tendas de triagem.
"Estamos enterrando o passado e o presente ao mesmo tempo", disse uma enfermeira comunitária de 43 anos na cidade de Gaza, que pediu para não ser identificada por motivos de segurança. "Todos os dias somos chamados para identificar corpos sob escombros. Às vezes, tudo o que podemos fazer é registrar um nome." Sua voz era calma, mas não derrotada – mais como alguém que se tornou fluente na tristeza. O Hamas prometeu entregar todos os corpos restantes, mas pediu máquinas pesadas para acelerar as buscas em escombros. "Precisamos de escavadeiras, guindastes", disse um funcionário do Hamas não identificado aos mediadores. "Existem áreas de colapso que apenas máquinas podem alcançar." Israel, enfatizando que militantes sabem onde os corpos estão localizados, alertou que o tempo é limitado.
A trégua nos combates abriu uma janela para ajuda humanitária. O Programa Mundial de Alimentos da ONU tem levado cerca de 560 toneladas de alimentos para Gaza por dia desde o início do cessar-fogo – um aumento substancial, mas ainda aquém das necessidades estimadas. Com condições de fome em algumas partes de Gaza, autoridades da ONU afirmam que o fluxo de ajuda deve aumentar para milhares de caminhões por semana para evitar a fome em massa. "Não estamos onde precisamos estar", disse Abeer Etefa, porta-voz do PMA, em um briefing em Genebra, observando que a logística continua um pesadelo. Apenas 57 caminhões chegaram ao sul e ao centro de Gaza em um dia – um "avanço", disse ela – mas a meta é de 80 a 100 caminhões diários, e o norte de Gaza permanece inacessível devido a cruzamentos fechados e estradas danificadas. Hospitais estão em colapso. A Organização Mundial da Saúde alertou que doenças infecciosas estão se espalhando e que apenas 13 dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operacionais. "Meningite, diarreia, doenças respiratórias – estamos falando de uma quantidade colossal de trabalho", disse Hanan Balkhy, da OMS, à AFP. Nesse cenário, o vácuo de governança e serviços se torna uma esteira para mais mortes.
Em outra esfera, o Tribunal Penal Internacional se tornou um ponto de discórdia. O tribunal rejeitou o pedido de Israel para recorrer das ordens de prisão emitidas para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, decisão que repercutiu em canais diplomáticos. Em novembro, juízes encontraram "motivos razoáveis" para acreditar que as autoridades eram responsáveis por crimes em Gaza – uma constatação que inflamou paixões em Israel e em partes dos Estados Unidos. "Isso não é sobre política; é sobre o Estado de direito", disse um advogado de direitos humanos em Haia, que pediu para permanecer anônimo. "Se a responsabilização for negociável, temos um problema." Enquanto isso, Israel e governos aliados contestaram a jurisdição do tribunal e sua autoridade para emitir tais mandados – ressaltando como os processos legais e as realidades do campo de batalha agora se cruzam de maneiras que moldarão a região por anos.
Cessar-fogos são frágeis por natureza, e o plano em andamento inclui não apenas pausas nos disparos, mas também a tarefa de reabrir cruzamentos, desarmar militantes e reconstruir um território devastado. Mediadores e governos ocidentais já estão discutindo uma força internacional de estabilização para ajudar a manter a paz. França e Grã-Bretanha, coordenando com os Estados Unidos, estão pressionando por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para fornecer uma base legal para tal missão – que provavelmente se inspiraria em precedentes como o Haiti e permitiria "todas as medidas necessárias" para cumprir seu mandato. Possíveis contribuintes incluem Indonésia, Emirados Árabes Unidos, Egito, Catar e outros, com o presidente da Indonésia sinalizando a disposição de implantar dezenas de milhares de soldados, se solicitado, sob um mandato da ONU.
Qual é o futuro? Fronteiras, governança e uma força internacional? Como cuidar dos vivos quando tantos mortos ainda precisam de nomes? Uma força internacional pode ajudar a unir segurança e ajuda humanitária sem se tornar outra presença estrangeira que as pessoas repudiam? E, talvez, o mais urgente: como transformar a logística da ajuda e a mecânica da lei em algo que volte a ser humano?
Quando perguntei a um pai em Kfar Saba, onde um corpo recentemente devolvido foi enterrado, o que ele mais queria agora, ele disse simplesmente: "Uma sepultura com uma pedra que diz seu nome. Que ele não seja um número." Essa única frase carrega o peso do anseio de um povo inteiro – por dignidade, por reconhecimento, pelos rituais silenciosos que nos permitem lamentar e começar a lidar com o que foi perdido. Essas não são apenas questões para líderes em capitais ou juízes em tribunais distantes. São questões para qualquer pessoa que assiste às notícias e se pergunta quais são nossas obrigações para com estranhos cujas vidas agora se cruzam com as nossas por meio de imagens, manchetes e, às vezes, por meio de uma humanidade compartilhada que surge, surpreendente e simples: podemos contar os corpos, mas também podemos contar as maneiras pelas quais somos responsáveis?
Enquanto comboios rolam e diplomatas desenham mapas de futuros ainda a serem construídos, um caixão se move lentamente por um posto de controle. É um ato pequeno na escala da geopolítica e monumental na vida de uma família. É um lembrete de que, em meio a negociações, decisões judiciais e posturas militares, a história humana – dor, memória e o desejo de encerramento – permanece teimosamente e urgentemente central.
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Esta matéria foi adaptada e reescrita pela equipe editorial do TudoAquiUSA
com base em reportagem publicada em
Jowhar
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